Brasil perde Neide Castanha, e as crianças uma defensora

Da Agência DIAP, por Suely Frota – Crianças e adolescentes de todo o Brasil perderam uma grande defensora na noite da última terça-feira (26). Depois de dois meses de luta contra um câncer e um dia após se internar no Hospital Santa Lúcia, em Brasília, faleceu, por volta das 22h30, Neide Castanha, mineira e militante em favor dos direitos humanos e sociais de crianças e adolescentes.

Foi muito rápido. De manhã: amigos e familiares preocupados com a internação; à noite, recebem a notícia. Neide estava fraca, mas todos acreditavam em sua recuperação. Neide não resistiu e se foi deixando saudades para família, amigos e principalmente para as milhares de crianças, adolescentes e jovens para quem dedicou toda a vida.

Formada assistente social pela Pontifícia Universidade Católica (PUC) de São Paulo, especialista em políticas públicas e direitos da criança e do adolescente, Neide ficou à frente do Comitê Nacional de Enfrentamento à Violência Sexual Contra Crianças e Adolescentes desde 2004, permanecendo até quando a doença a venceu.

Neide Castanha: “As crianças não têm dono, são patrimônio do País”

Na sua trajetória, grandes conquistas. Entre elas, a mobilização nacional para aprovação do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), a luta em defesa dos adolescentes privados de liberdade, e a capacidade de organizar lideranças de vários países para a realização do 3º Congresso Mundial de Enfrentamento à Violência Sexual, no Rio de Janeiro, em 2008.

Neide foi também uma das principais responsáveis pelo desenvolvimento da metodologia de uma importante ferramenta para o combate a violência infanto-juvenil, o Disque Denúncia -100, para notificação de casos de violação dos direitos sexuais de crianças e adolescentes.

Uma das primeiras reportagens que fiz, ainda na faculdade, foi justamente por ocasião da mobilização do 18 de maio, Dia Nacional do Enfrentamento ao Abuso e à Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes, na Esplanada dos Ministérios, em 2006.
Lá estava ela, orgulhosa com a grande mobilização de meninos e meninas que subiram a rampa do Congresso Nacional para entregar abaixo assinado com cinco mil assinaturas, que reivindicava maior proteção às vítimas e punição àqueles que violentam sexualmente criança ou adolescente no País.

“Esquecer é permitir, lembrar é combater!”

Por seu relevante trabalho, Neide recebeu premiações e homenagens, como o “Prêmio Claudia 2009” e o “Prêmio Mulher Cidadã Bertha Lutz”, ambos pelo amplo trabalho realizado em favor dos direitos de crianças e adolescentes.

Para amigos, familiares e militantes da área dos direitos humanos, os prêmios reconhecem a trajetória de ousadia de Neide Castanha. “Nossas crianças e adolescentes perdem uma grande aliada, as instituições que trabalham na área da violência sexual uma profissional comprometida com essa causa e o Brasil uma de suas maiores especialistas na área”, conta a amiga e socióloga Graça Gadelha.

Neide Castanha foi uma mulher que sempre aceitou desafios e enfrentou barreiras.
Nesta terça-feira (26), ela encerrou uma missão iniciada na Praça da Sé, em São Paulo, durante os trabalhos da faculdade, onde começou a olhar e lutar por crianças e adolescentes carentes, famintos, violentados, necessitados -, maioria ainda invisível aos olhos de brasileiros e governantes.

O sepultamento da assistente social Neide Castanha aconteceu na tarde de quarta-feira (27), no Cemitério Campo da Esperança, em Brasília.

Nota de homenagem da Secretaria de
Mulheres Educadoras, da Secretaria de Raça e Sexualidade e da
Diretoria Colegiada do Sinpro à Neide Castanha.

A companheira Neide Castanha, militante de grandes causas, também colaborou conosco e enriqueceu nossos seminários com sua brilhante e lúcida intervenção, em defesa dos direitos humanos, contra todo tipo de exploração e
discriminação em nossa sociedade. Dedicou sua vida e empreendeu
intensa batalha em defesa de um mundo melhor, mais justo, mais
solidário, fraterno e igualitário.

Era uma mulher corajosa, bonita, de bem com a vida,
alegre, sorridente, solidária, amiga de verdade. Sempre respondeu
sim às nossas solicitações para participar de seminários e debates que
promovemos pelas secretarias de Mulheres e de Raça e Sexualidade –
era uma mulher negra que nunca fugia da luta contra o preconceito e a discriminação.

Quando não podia comparecer pessoalmente, nos orientava e indicava materiais e pessoas que poderiam colaborar com os nossos eventos.

Combateu com veemência a exploração sexual contra as crianças e adolescentes e presidia o Comitê Nacional de Enfrentamento à Violência Sexual contra Crianças e Adolescentes, no governo do Presidente Lula.

Ela nos ensinou muito e nunca se negou a compartilhar conosco
sua experiência acumulada em uma vida intensa, de dedicação às causas
mais dignas e necessárias aos seres humanos: lutar pelos direitos,
pelo respeito e pela valorização e humanização das pessoas nesse
mundo tão desumano.

Não ter mais em nosso convívio mulher tão importante,
assim como não temos mais dona Zilda Arns, é entristecedor. O mundo
está mais pobre de amor, de carinho, de solidariedade, de compromisso
com as causas justas, de honestidade.

Obrigada companheira Neide Castanha pelos exemplos e
pelo trabalho que mudou, para melhor, a vida de muita gente.
Continuamos aqui na luta, com saudade do seu trabalho.