Após assalto, comunidade escolar do CED São Francisco discute violência e pede paz

Estudantes e professores do Centro Educacional São Francisco, o “Chicão”, realizaram uma manifestação pedindo paz, na manhã desta quinta-feira (17/11).
A escola, localizada em São Sebastião, foi alvo de assaltantes na madrugada de quarta-feira (16/11). Os bandidos levaram 18 televisores HD da instituição de ensino, além de dois computadores, bebedouro e até a garrafa de café da sala dos professores. O vigilante foi rendido por quatro assaltantes, levado para a secretaria da escola e amarrado. Os quatro homens estavam armados com revólveres e facões.
No horário do intervalo matutino de hoje, a diretora da instituição, Luciene de Jesus da Silva, reuniu os estudantes e corpo docente no pátio da escola para discutir a situação.
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“Foi um fato muito triste, um sentimento de desvalorização, porque roubaram patrimônio que é importante para o desenvolvimento das aulas. Os televisores, instalados em cada sala de aula, auxiliavam no processo de
aprendizagem. Me entristece muito o que aconteceu, pois a escola é um patrimônio desta comunidade e empregamos todos os recursos para termos um escola de qualidade. Houve, sim, um atentado contra uma instituição pública tão importante para a sociedade – o que é lamentável. Mas não vamos ficar com medo”, disse.
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Luciene destacou que existe insegurança em torno da escola. “Mas a nossa melhor reação atualmente é a de não se entregar à cultura do medo. A violência faz parte de todas as sociedades, porém não podemos nos esconder e nos deixar intimidar por isso”. A diretora se disse entristecida principalmente porque os que realizaram o roubo desconhecem que a escola é um patrimônio importante para esta sociedade e que faz a diferença na vida da comunidade, com seus projetos inovadores e ações diferenciadas, e que trazem as pessoas para dentro da escola. “O Chicão é nosso”, frisou.
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Presente ao ato, o diretor da Secretaria de Políticas Sociais do Sinpro, Gabriel Magno, levou a solidariedade do Sindicato à escola. “A escola é um espaço aberto à comunidade. Talvez o instrumento público mais próximo das pessoas, um espaço de mobilização e de organização social. Então, sempre que há um ataque a uma escola é um ataque ao conjunto da comunidade e não apenas a quem estuda na escola. O impacto é pesado, triste mesmo. Óbvio que isso também reflete uma dinâmica social de necessidades, de maior vulnerabilidade”. Gabriel lembrou que o Chicão é um escola nova, fundada em 2008, e que nasce de um projeto inovador, de uma metodologia diferente com os estudantes. “É uma escola que tem uma vocação cultural muito grande e que abriga a comunidade em grande
projetos. Ou seja, uma escola com grande potencial de transformação. Espero que este roubo não altere a rotina e a vocação do Chicão. Um fato desses, embora sério, não deve retrair a escola. Isso seria um prejuízo grande para o projeto que ela representa e que proporciona à comunidade. O Sinpro presta todo o apoio e solidariedade, colocando-se à disposição do ponto de vista jurídico, social ou mesmo pedagógico”.
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Jonathan Magalhães estuda no 1º ano do ensino médio no Centro Educacional São Francisco. Ele reforça o que disse a diretora Luciene. “Esses ladrões não levaram em consideração que a escola é da comunidade; eles pulam muros, quebram e roubam aquilo que é público, que será usado talvez até pelos filhos deles. A cidade de São Sebastião só tem duas escolas de ensino médio. Nem todo mundo tem acesso ao ensino médio aqui e ainda por cima a escola vira alvo de assaltantes. Escola como essa aqui são poucas no Brasil. Somos privilegiados em São Sebastião – um
local humilde – por termos um espaço como esse, reconhecido por sua inovação. Então, o que aconteceu é algo revoltante e sem muita explicação”, criticou. O estudante também deu todo apoio à iniciativa de discutir o assunto e promover uma manifestação baseada na paz. “Não é ateando fogo aos poucos ônibus que temos ou fechando avenidas com pneus em chamas que vamos nos manifestar para que mudanças ocorram. As mudanças vêm com outras atitudes”, finalizou.
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O sistema público de educação em São Sebastião contempla 23 escolas, com duas apenas (Chicão e Centrão) voltadas ao ensino médio.
Fotos: Deva Garcia