Marcha das Mulheres Negras 2025 mobiliza o país e exige reparação histórica

Brasília foi tomada, nesta terça-feira (25), pela força e pela organização política da Marcha das Mulheres Negras 2025, que reuniu movimentos de todo o país em defesa do bem viver, da reparação histórica e da construção de uma sociedade realmente democrática.
A mobilização, realizada dez anos após a última marcha nacional, reafirma o protagonismo das mulheres negras na luta por direitos, políticas públicas e justiça social.
Educação pública e antirracista no centro da pauta
O ato é uma iniciativa da Articulação de Organizações de Mulheres Negras Brasileiras (AMNB), da Rede de Mulheres Negras do Nordeste e da Rede Fulanas – Negras da Amazônia Brasileira, com apoio da CNTE e de diversos sindicatos da educação.
Entre os eixos centrais deste ano estiveram a defesa da educação pública, o combate ao racismo, o fim da violência contra mulheres negras e suas famílias, além da reivindicação por políticas reais de reparação.
A professora de sociologia Mariana Queiroz destacou que a mobilização evidencia a potência das mulheres negras na construção de uma educação verdadeiramente democrática.
Para ela, “o movimento mostra que a educação pública é feita também por pessoas pretas e para pessoas pretas”, e que o fortalecimento do ensino antirracista é fundamental para enfrentar desigualdades históricas.
Mariana lembra que o acesso à escola sempre foi negado à população negra, desde o pós-abolição até políticas excludentes do século XX. Embora o ponto de partida tenha sido desigual — “partimos do -1”, diz —, ela reforça que a transformação do país passa pela educação: “A gente construiu tudo do zero, e é pela educação que vamos mudar o mundo. Mas não uma educação elitista, precisamos de uma educação que seja realmente democrática. E não existe democracia sem enfrentar o racismo.”
Unidade e reparação como caminhos para justiça social
Já Regina Célia Pinheiro, secretária de Assuntos e Políticas para Mulheres Educadoras do SINPRO-DF, ressaltou a unidade dos movimentos presentes. Segundo ela, a marcha, realizada uma década após a edição de 2015, mostra que mulheres negras, que são maioria na sociedade brasileira, têm o direito ao bem viver e seguem reunidas para garantir melhorias que beneficiam todo o conjunto da população. Regina destacou que a construção de uma sociedade mais justa depende da luta coletiva: “Quando nos unimos pela reparação e por uma vida digna, toda a sociedade avança.”
A secretária de Relações de Gênero da CNTE, Berenice D’Arc, também reforçou que a marcha reúne, após dez anos, mulheres de todas as regiões do Brasil e até da América Latina. Para ela, o ato simboliza uma luta ampla: “Estamos aqui contra todas as formas de opressão, principalmente, pela reparação e pelo bem viver.” Berenice destacou a alegria e a disposição de luta das mulheres que chegaram a Brasília, levando ao Congresso Nacional suas principais bandeiras: “As pautas da educação e dos movimentos sociais convergem para reparar um povo que historicamente sofre opressão por causa da sua cor e da sua pele.” Ela lembrou ainda que o campo educacional tem papel central nessa transformação, a partir da mudança curricular e da inclusão da diversidade: “As mulheres negras marcham com o coração aberto, porque sabem que, na unidade, é possível construir um futuro melhor para meninas e meninos negros.”
Também presente na mobilização, Ieda Leal, Diretora Executiva da CNTE, ressaltou a importância de voltar a Brasília dez anos depois da última marcha. Segundo ela, reunir mulheres negras de todas as regiões do país “faz a diferença” e fortalece a luta por segurança, educação e oportunidades reais. Ieda destacou que a transformação precisa envolver toda a comunidade escolar, reforçando que “um país é melhor sem racismo”. Para ela, é essencial seguir marchando: “Esse movimento mostra que o Brasil precisa compreender a importância da população negra para o país.”
Com cantos, cartazes, espiritualidade, memória e resistência, a Marcha das Mulheres Negras 2025 reafirmou que as mulheres negras seguem na linha de frente pela defesa da democracia e contra todas as formas de desigualdade.
Fonte: CNTE
