Marcha histórica das Mulheres Negras toma Brasília por justiça racial e reparação

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A capital federal amanheceu, nesta terça-feira (25), embalada por tambores, cantos e passos firmes de milhares de mulheres negras vindas de todos os cantos do país para a 2ª Marcha Nacional das Mulheres Negras. Às 11h, o ato partiu do Museu Nacional da República e avançou até a Esplanada dos Ministérios, que se transformou em um mar de vozes contra a violência às mulheres, por reparação histórica e pelo bem viver.

Eram mulheres quilombolas, rurais, ribeirinhas e urbanas, do campo e da cidade, intelectuais negras, escritoras e guardiãs de uma longa tradição de pensamento e ação política no Brasil. Com cartazes erguidos pedindo o fim da violência doméstica, do feminicídio e defendendo um projeto de bem viver para mulheres negras e indígenas, elas avançavam juntas pela Esplanada, transformando a marcha em um espaço de resistência, acolhimento e esperança.

Entre as lideranças políticas que caminhavam junto à multidão estava a ministra das Mulheres, Márcia Lopes, que discursou ao lado da marcha. Em sua fala, fez questão de reforçar que o Brasil só avançará se reconhecer sua pluralidade. “Não podemos admitir nenhum tipo de transfobia, nem desrespeito à nossa diversidade. Queremos dialogar e construir, em conjunto, políticas públicas para as mulheres negras desse país”, disse a ministra.

A ministra da Igualdade Racial, Anielle Franco, lembrou a trajetória coletiva que tornou possível aquela ocupação da Esplanada. “Há 10 anos nós ocupávamos esses espaços porque sempre fomos organizadas. Hoje voltamos com Conceição Evaristo, Benedita da Silva, Sueli Carneiro e tanta gente linda para provar que sempre fomos organizadas e que estamos aqui pelo bem viver”, afirmou.

Já a deputada federal Benedita da Silva (PT), referência histórica do movimento negro, tomou o microfone diante das milhares de mulheres reunidas. “Com a nossa garra, nós fazemos a diferença no nosso país. Vamos continuar fazendo a luta, ainda que eles não queiram. Vamos seguir lutando pelo bem viver. Queremos as mulheres negras vivas, ganhando salários justos.”

CUT na Marcha

A Marcha também contou com a presença de dirigentes da CUT, que reforçaram a importância histórica e política do ato. Para Maria Júlia Nogueira, secretária nacional de Combate ao Racismo da Central, a mobilização reafirma a força organizativa das mulheres negras.

“Dez anos depois da primeira marcha, mostramos novamente nossa capacidade de organização e a recusa em aceitar violência, feminicídio ou qualquer forma de usurpação. Marchamos por reparação histórica e pelo bem viver, porque o Estado brasileiro nos deve isso”, destacou a dirigente.

A secretária-adjunta de Combate ao Racismo da Central, Nadilene do Nascimento, destacou o caráter nacional e propositivo da mobilização, lembrando a construção do Manifesto Econômico da Marcha.

“Mulheres de todo o país se reuniram para reivindicar condições dignas de vida, reparação e participação coletiva. Construímos o Manifesto Econômico da Marcha das Mulheres Negras de 2025, com propostas para enfrentar o racismo estrutural e ambiental e garantir acesso à água, saneamento e justiça climática. Por isso marchamos em Brasília”, disse.

A secretária da Mulher Trabalhadora da CUT, Amanda Corcino, enfatizou que a presença massiva das mulheres negras é também um ato de afirmação política. “A marcha é um momento histórico. Milhares de mulheres negras ocupam o centro do poder para exigir seu lugar de direito. Não é mais possível naturalizar a violência que atinge principalmente essas mulheres, nem aceitar salários mais baixos, menos acesso a políticas públicas ou piores condições de vida. É uma marcha por reparação histórica, justiça e reconhecimento.”

Já Valdice Gomes, presidenta do Sindicato dos Jornalistas Profissionais de Alagoas (Sindjornal), destacou a força coletiva da mobilização. “É muito emocionante ver tantas mulheres, inclusive senhoras, caminhando juntas pelo bem viver e por direitos. Essa união renova nossa fé na luta, é luz, é força, é o que nos faz seguir conquistando.”

Sessão solene na Câmara

Uma sessão solene na Câmara dos Deputados homenageou a Marcha das Mulheres Negras por Reparação e Bem Viver, organizada pelo Comitê Nacional da Marcha. O plenário, tomado pela força da ancestralidade e pela vibração das mulheres presentes, reconheceu a dimensão histórica dessa jornada coletiva.

Encontro com o STF

Ainda nesta terça-feira (25), às 19h30, representantes do movimento se reúnem em audiência com o presidente do Supremo Tribunal Federal, ministro Edson Fachin. A comitiva apresentará demandas urgentes, entre elas a necessidade de enfrentar a política de segurança pública vigente, marcada por operações policiais letais, como a recente chacina na Penha, no Rio de Janeiro.

Show após a marcha

Após a marcha, a programação segue no Museu Nacional, onde um show gratuito, das 15h às 21h, encerra o dia de mobilização. No palco, apresentam-se Célia Sampaio & Núbia, Ebony, Larissa Luz, Luana Hansen e Prethais, celebrando a arte, a resistência e a potência cultural das mulheres negras brasileiras.

Fonte: CUT