Após 10 anos, “Cartas para o Futuro” reúne professora e ex-estudantes e celebra o poder transformador da educação

A professora de Língua Portuguesa e pedagoga Elísia Maria de Jesus Figueredo viveu, no dia 16 de novembro, um momento único, emocionante e marcante em sua trajetória na rede pública de ensino. Ela reencontrou ex-estudantes que participaram do projeto de leitura “Cartas para o Futuro”, desenvolvido em 2015, no Centro de Ensino Fundamental 103 de Santa Maria (CEF 103).

Criado em um dos períodos mais difíceis de sua vida — marcado por problemas de saúde e pela perda do marido — o projeto surgiu como alternativa aos livros que os(as) estudantes tinham dificuldade de concluir. A solução encontrada pela professora foi trabalhar, semanalmente, com textos curtos.

“Em 2015, do meio do caos da minha vida, quando me tornei viúva, propus uma mudança aos estudantes de duas turmas de 6º Ano e, quatro, de 7º Ano: em vez de livros, trabalharíamos com textos menores. Uma dessas leituras era uma carta e, para o exercício de releitura, propus que escrevessem uma carta. Como seria difícil escolher um destinatário, sugeri que escrevessem para eles mesmos — mas para o ‘eu do futuro’, 10 anos depois. Eles deveriam descrever quem eram, seus planos e seus sonhos”, relembra a professora.

A proposta, inicialmente recebida com relutância, transformou a relação dos(as) estudantes com a escrita e, anos depois, com a própria trajetória pessoal. “Queria que eles e elas se reencontrassem e queria agradecer por terem me mantido de pé naquele ano tão difícil. Naquela época, por muitos dias, eu só consegui me levantar da cama porque precisava de ir para a escola”, conta.

O reencontro de 2025 reuniu a metade da turma. O número superou as expectativas de Elísia. Hoje adultos e adultas, com idades entre 22 e 24 anos, muitos já formados, trabalhando, casados e com filhos, os(as) ex-estudantes que participaram do projeto relataram que só agora compreendem o sentido das cobranças da professora: ler, estudar e buscar o conhecimento. Ouvir deles e delas que a educação transformou seus caminhos confirmou, para a docente, a força da escola pública na periferia. “A escola era muito carente, mas conseguimos levar essas meninas e esses meninos muito longe”, afirma.

As redes sociais foram essenciais para localizar parte da turma, que chegou ao encontro ansiosa para abrir as cartas escritas na adolescência. Emocionada, Elísia conta que muitos mudaram sonhos e trajetórias, algo natural para quem tinha apenas 13 anos em 2015. “Pelas conversas que tivemos, percebi que entenderam que mudamos os rumos da vida pela educação. Muitos disseram que vão transmitir isso aos filhos”, conta.

Hoje readaptada e trabalhando em outra escola, Elísia afirma que o projeto “Cartas para o Futuro” reforça a potência da escola pública, da leitura e da atuação comprometida de educadoras e educadores na vida dos(as) estudantes — especialmente nas regiões mais vulneráveis do Distrito Federal. “Sou um exemplo de que a educação transforma vidas. E agora eles também são”, conclui.