Iniciativa do Sinpro leva educação antirracista para o cotidiano escolar do DF

Cerca de 85% da população preta já sofreu algum tipo de discriminação racial, segundo pesquisa apoiada pelo Ministério da Igualdade Racial (MIR). As celebrações do Dia de Dandara, de Zumbi dos Palmares e da Consciência Negra reforçam a necessidade de aprofundar o debate sobre racismo e fortalecer políticas de equidade no país.

Nesse contexto, a educação assume papel estratégico para a construção de uma sociedade que enfrente esse tipo de crime de maneira estruturada. Pensando nisso, ao longo dos anos, o Sinpro tem realizado uma série de ações formativas nas escolas públicas do DF, com destaque para o Circuito Permanente de Debates Antirracistas nas Escolas. De iniciativa da Secretaria de Raça e Sexualidade do Sinpro, a formação tem como objetivo oferecer aos(às) professores(as) e orientadores(as) educacionais subsídios teóricos, metodológicos e práticas pedagógicas que fortaleçam o enfrentamento ao racismo no cotidiano escolar.

Desde 2022, foram realizados cerca de 50 encontros em unidades escolares de diversas regiões administrativas do DF. A ação é parte da Formação Continuada do Sinpro, que leva conhecimento sobre temas transversais e urgentes às escolas do DF.

“Enfrentar o racismo é também enfrentar as bases que sustentam as desigualdades sociais no Brasil. Por isso, a escola tem um papel estratégico: ela é espaço de formação, de disputa e de transformação. Quando aprofundamos esse debate com estudantes e educadores, fortalecemos a luta de classes e abrimos caminho para uma mudança real”, afirmou o diretor do Sinpro João Macedo.

Educação Antirracista

Nos encontros, que duram cerca de três horas, são discutidos temas como a psicologia social do racismo e as invenções históricas sobre o que significa ser pessoa negra no Brasil, com ênfase nas representações sociais construídas sobre a população negra.

A história do país a partir de 13 de maio de 1888 também é revisitada, destacando o abandono da população negra pelo Estado republicano e os impactos dessa omissão nas desigualdades que persistem até hoje.

As formações do Sinpro analisam ainda os processos pelos quais a ciência, a intelectualidade e diferentes governos contribuíram para a construção e a manutenção do racismo estrutural.

Por fim, o debate chega ao currículo escolar, em que são discutidas a aplicabilidade da Lei 10.639/2003 — que torna obrigatório o ensino da história e cultura afro-brasileira em todas as escolas do Brasil — e as referências de literatura, materiais didáticos e produções acadêmicas que auxiliam o trabalho pedagógico.

Segundo o diretor do Sinpro Robson Câmara, que também é um dos formadores, a ideia é que todos esses temas sejam trabalhados de forma transversal aos conteúdos curriculares.

“Como queremos desenvolver uma educação antirracista, a gente trabalha temas com professores(as) e orientadores(as) educacionais falando das possibilidades pedagógicas de abordar essa temática, de utilizar a pesquisa para estimular os alunos nesse debate. A gente busca qualificar a categoria a discutir com alunos em sala de aula essa temática e mitigar eventuais situações que possam caracterizadas como racismo de diversas naturezas”, disse.

O Circuito Permanente de Debates Antirracistas nas Escolas é realizado sob demanda das escolas. Para solicitar a formação, as unidades escolares devem entrar em contato com a Secretaria de Raça e Sexualidade do Sinpro por meio do telefone (61) 99663-7986 ou pelo e-mail racaesexualidade@sinprodf.org.br.

Segundo a diretora do Sinpro Joana Darc Soares, é fundamental que essa formação chegue ao maior número de escolas possível. “Ser antirracista é lutar por uma sociedade verdadeiramente humana, justa e livre das violências produzidas pelo racismo que estruturou as desigualdades no Brasil. A escola pública, que acolhe a classe trabalhadora e carrega as marcas desse processo histórico, é o espaço mais potente para transformar essa realidade. Como professora e mulher negra, sempre entrei em sala de aula com a altivez dos meus ancestrais, buscando resgatar a autoestima dos estudantes, revelar a origem das desigualdades e mostrar que elas podem — e devem — ser superadas”, afirmou.

Um trabalho que vale a pena

A professora Lucilene Costa é uma das formadoras da iniciativa desde 2010. Segundo ela, os últimos 15 anos só reforçaram a dimensão e a urgência do trabalho desenvolvido, tendo em vista que a escola é um dos espaços sociais onde o racismo se manifesta com maior intensidade.

“Precisamos saber mais sobre as legislações que nos amparam e as políticas públicas para o combate ao racismo na educação. Nesse sentido, me sinto aprendiz sobre os meandros e modos do racismo e, ao mesmo tempo, desafiada a não desistir jamais e levar a luta pelo combate ao racismo a outros espaços onde se fizer necessário. Valeu a ida a cada escola, ouvir e abraçar cada professor e professora com suas narrações entremeadas por dores e desafios postos pela violência do racismo”, disse Lucilene.