13º CTE debate impactos do neoliberalismo e disputas políticas no Brasil e no DF

No segundo dia do 13º Congresso dos Trabalhadores e das Trabalhadoras em Educação (CTE) – Palestina Livre as falas dos integrantes do painel de conjuntura convergiram para um diagnóstico comum: há uma disputa profunda sobre o futuro do Brasil, marcada pelo avanço de políticas neoliberais, pela disputa do papel do Estado e pela necessidade de fortalecer os movimentos sociais e a educação pública para defender direitos e a democracia.

Apesar de abordarem dimensões diferentes — internacional, distrital e nacional —, as três falas apontaram para o fato de o neoliberalismo ser o eixo estruturante da crise brasileira. O primeiro ponto de encontro, seja na política externa, no orçamento do DF ou nas reformas impostas ao país, é o processo de desmonte do Estado e de retirada de direitos.

O segundo ponto de convergência é de que há um projeto organizado que busca capturar o Estado. Esse projeto articula elites econômicas, políticas, midiáticas e do sistema de justiça, e opera tanto global quanto localmente.

O terceiro, é o fato de a educação e os movimentos sociais serem centrais para enfrentar esse processo. Os três painelistas ressaltam que trabalhadores da educação têm papel estratégico: organizar, disputar narrativas, fortalecer a democracia e defender a soberania.

O quarto ponto de convergência são as eleições como instrumento decisivo para o futuro do país e do DF. Para além de escolher governantes, as eleições de 2026 irão definir o rumo do Brasil, ou seja, se o país seguirá na direção da inclusão e do fortalecimento do Estado ou se continuará preso a agendas que aprofundam desigualdades e neocolonialismo.

Conjuntura internacional: neoliberalismo global e seus impactos no Brasil

 

Representante da Fepal Robson Cardoch Valdez. Fotos: Deva Garcia e Joelma Bomfim
Representante da Fepal Robson Cardoch Valdez. Fotos: Deva Garcia e Joelma Bomfim

 

O representante da Federação Árabe Palestina (Fepal) Robson Cardoch Valdez abriu a mesa de conjuntura com a contextualização das dinâmicas internacionais que moldam a política brasileira. Ele destacou como as diretrizes neoliberais — privatizações, austeridade fiscal, flexibilização trabalhista e independência do Banco Central — compõem um receituário repetido há mais de 30 anos e que impacta diretamente a vida da população.

Segundo ele, crises globais, guerras em curso, como Ucrânia e Gaza, e a disputa entre grandes potências, como EUA e China, afetam a economia brasileira, seus alinhamentos e seu nível de autonomia. Por isso, defendeu que o Brasil e os países do Sul Global precisam reforçar estratégias conjuntas de soberania, solidariedade internacional e reposicionamento no cenário mundial.

 

Conjuntura nacional: a disputa de projetos para o Brasil

 

Professora aposentada da Secretaria de Educação do DF e ativa na UnB, Olgamir Amância. Fotos: Deva Garcia e Joelma Bomfim
Professora aposentada da SEEDF e ativa na UnB, Olgamir Amância. Fotos: Deva Garcia e Joelma Bomfim

 

Professora aposentada da Secretaria de Educação do DF e ativa na UnB, Olgamir Amância reforçou a leitura de que Brasil e o DF vivem uma encruzilhada histórica. Ela disse que as eleições não podem ser tratadas como um simples rito democrático, mas como uma disputa entre dois projetos de país: um ancorado em direitos, inclusão, soberania e democracia; e, outro, que mantém o Brasil subordinado aos EUA, escravagista, que retoma valores coloniais e aprofunda políticas neoliberais que retiram direitos, com reformas trabalhista, previdenciária, administrativa e do Ensino Médio.

Olgamir destacou que o golpe contra a ex-presidenta Dilma Rousseff, em 2016, abriu caminho para o avanço acelerado dessas agendas. E alertou para o papel central da mídia conservadora na produção de narrativas distorcidas que sustentam esse projeto. Para ela, movimentos sociais e trabalhadores da educação têm o poder de disputar essas narrativas, organizar politicamente a categoria e garantir que políticas reconstruídas desde 2023 possam ser consolidadas.

Conjuntura local: o DF como laboratório da destruição do Estado

 

Deputado distrital e professor da SEEDF Gabriel Magno. Fotos: Deva Garcia e Joelma Bomfim
Deputado distrital e professor da SEEDF Gabriel Magno. Fotos: Deva Garcia e Joelma Bomfim

 

Ao conectar o cenário global ao local, o deputado distrital e professor da SEEDF Gabriel Magno analisou como a lógica neoliberal se expressa na capital do país. Segundo ele, o DF se tornou um laboratório neoliberal de destruição das políticas de Estado nas mãos do governador Ibaneis Rocha (MDB) e da vice-governadora Celina Leão (PP).

Para o parlamentar, o governo Ibaneis–Celina representa um consórcio de interesses — agronegócio, grilagem, especulação imobiliária, setores da segurança e do Judiciário — que capturou o orçamento público e empurrou serviços essenciais, como saúde, educação e assistência social, para o colapso.

O parlamentar criticou o esvaziamento do investimento público, a privatização de serviços, o ataque à educação pública e o uso político do aparato estatal para perseguir trabalhadores. Destacou ainda que a resposta a esse consórcio só pode ser coletiva, por meio da organização sindical e da mobilização social — especialmente em um ano que antecede eleições decisivas para o DF e para o país.

Mobilização

Os três participantes destacaram que mobilização, organização e ação política coletiva são o caminho para enfrentar o cenário atual. O Congresso dos Trabalhadores da Educação, nesse sentido, assume função estratégica na formação e na articulação de uma resistência capaz de reconstruir políticas públicas, garantir direitos e fortalecer a democracia brasileira.

13º CTE

 

O 13º CTE – Palestina Livre tem como tema “Nova Organização Sindical, Transformações no Mundo do Trabalho e Luta de Classes”. O evento segue até domingo (16/11), no Centro Comunitário Athos Bulcão da Universidade de Brasília (UnB).

Neste sábado (15/11) também foi realizada a aprovação do Regimento Interno do congresso.

O evento debate temas centrais para o futuro da educação pública, a valorização da categoria e os desafios da organização sindical. A programação inclui análise das conjunturas internacional, nacional e local, discussões sobre reforma estatutária, além de apresentações culturais. O encontro ainda aprovará o plano de lutas do magistério público do DF para o próximo período.

 

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