Professoras(es) doam sangue pela luta


Lutar e doar é educar para a vida. Movidos por esse lema, professoras e professores lotaram na manhã desta sexta-feira, dia 23, o Hemocentro de Brasília, na quadra 502 norte. A campanha de doação de sangue faz parte do calendário de mobilização e luta da categoria, aprovado na assembleia geral do dia 20 de março. O objetivo foi o de dar visibilidade à campanha salarial e ao mesmo tempo realizar um ato de solidariedade.
Mesmo cientes de que o Hemocentro tem um limite de atendimentos por dia, a categoria não desanimou. Compareceu ao local em número bem superior ao necessário, enfrentou a fila e os que não puderam doar sangue ficaram do lado de fora, reunidos, para dar apoio aos companheiros e companheiras, demonstrando, mais uma vez, que nossa união é a nossa força.
Para Maria Alves, professora no Cruzeiro, além de dar visibilidade ao movimento o ato serve para mostrar que a nossa luta não é só corporativa. “Nós professores temos um compromisso que vai muito além da questão coorporativa, não só com a comunidade escolar, mas com a sociedade como um todo”, disse a professora.
O professor Geraldo, que dá aulas no Recanto das Emas, já é doador há alguns anos, ele disse que agora tinha mais um motivo para ir ao Hemocentro. “A gente dá o sangue dentro da sala de aula e agora literamente estamos dando sangue”, brincou o professor acrescentando que “nós que temos mania de dar aulas, hoje estamos dando uma aula de cidadania para a comunidade”.
Para a professora de Samambaia, Jucimeire, participar da campanha de doação de sangue é acreditar na força da categoria. “Muitas vezes a gente vem fazer a doação porque temos uma pessoa doente, mas agora viemos espontaneamente por acreditar na nossa luta que é justa, digna, de direito, legítima”, afirmou a professora, acrescentando que este era um ato feito a partir do coração.
Segundo César, professor no Cruzeiro, a luta por um plano de carreira não vai mexer só na questão quantitativa de recursos do governo. “O fato de estarmos pensando em algo a médio prazo, de ter uma noção do que vai acontecer conosco daqui a três ou quatro anos ajuda a própria escola se programar e a ter um projeto pedagógico mais consistente”, explicou.
“Meu sentimento de estar aqui é de orgulho por fazer parte desse grupo de pessoas. Sempre participei de todos os movimentos e tenho muito orgulho de ser professora”, disse Betânia, que dá aulas no Recanto das Emas. Segundo ela, a categoria está mostrando para a população que está unida, que o movimento está fortalecido. “O Hemocentro está lotado”, comemorou.
Decepção – Professoras(es) aproveitaram o momento para falar de seus sentimentos em relação ao governo do Distrito Federal. A maioria não só votou no Governo Agnelo, como também participou ativamente da campanha que o alçou ao cargo. Decepção, tristeza e indignação podem ser notados em seus desabafos. Confira o que eles falaram:
Geraldo: “Eu esperava que esse governo seria diferente. Acreditei muito no movimento. Votei no atual governador. Eu espero que ele não me envergonhe mais até o final do seu mandato. Espero que ainda dê tempo de ele recuperar muita coisa do que foi falado no período de campanha, para que ele possa recuperar a imagem perante a gente. Eu ainda acredito que ele vá fazer isso e espero que isso aconteça o mais breve possível. Acho que essa é uma oportunidade que estamos dando para ele vir e mostrar que tem palavra, que tem caráter, que nós podemos confiar nele nas próximas eleições. Se ele não fizer isso teremos que procurar outra pessoa que tenha palavra, que represente os professores e que esteja preocupado com a educação no Distrito Federal”.
Betânia: “Ainda não estou acreditando que o governo está fazendo isso conosco. É uma decepção imensa. É uma mágoa. Eu fiz campanha, fui para a rua. Não pedi nada em troca, não quis cargo. Fiz a campanha acreditando que ele veria a nossa categoria com um olhar diferente de todos que vieram antes dele. Mas ele não fez isso. A ingerência do governador é vergonhosa não só para nós professores, mas para toda a população do DF. Eu gostaria muito que ele repensasse tudo isso”.
César: “O governo está dando uma demonstração de que a educação não é prioridade, uma vez que, com alguns procedimentos contábeis, ele pode mexer nessa restruturação. De 2007 até o ano passado o percentual do Fundo Constitucional destinado ao pagamento dos professores foi diminuindo a ponto de cair de R$ 1,8 milhões para cerca de R$ 1,6 milhões. Isso enquanto o próprio Fundo foi aumentando. Que prioridade é essa para a educação se ele diminui cada vez mais o percentual do Fundo que paga nosso salário, sabendo que ele não conta para a Lei de Responsabilidade Fiscal? Ao fazer isso, o governo joga nas nossas costas o problema da Lei de Responsabilidade Fiscal. Diz que quem criou o problema foi a categoria, quando na realidade foi o próprio governo que não soube lidar com prioridades”.
Jucimeire: “Cada vez fico mais indignada. Participo das atividades de convencimento e não tenho nenhuma vergonha de bater no peito e dizer que com o mesmo orgulho que tive de erguer as bandeiras para fazer campanha para este governo que aí está, é a mesma força que me faz lutar por um direito que é justo e que foi acordado com esse mesmo governo. Infelizmente a gente aposta porque a gente acredita. Mas agora estamos cobrando, porque isso é o que nos faz sermos pessoas muito mais nobres. Não estamos recuando nessa premissa dele de dizer que não tem recursos, que não pode nos dar reajuste. Mas estamos aqui com a mesma disposição que tivemos para lhe colocar no poder, estamos trabalhando pelo que nos é de direito”.