“Se você quiser vir fazer sexo com uma mulher, fique à vontade”

Esse é o convite que o presidente da República, Jair Bolsonaro, faz aos turistas estrangeiros que pleiteiam passear no Brasil. Ele fez essa afirmação, nessa quinta-feira (25), durante um café da manhã com jornalistas no Palácio do Planalto. A imprensa divulgou que ele disse que o Brasil “não pode ser o país do turismo gay” e que, “se alguém quiser vir aqui fazer sexo com uma mulher, fique à vontade”: “O Brasil não pode ser um país do mundo gay, de turismo gay. Temos famílias”, disse Bolsonaro.

A mídia informa que a declaração foi dada quando o Presidente da República comentava a decisão do Museu Americano de História Natural, de Nova York, de não sediar uma homenagem a ele. Na ocasião, o prefeito da cidade, Bill de Blasio, chegou a chamar o presidente brasileiro de “racista e homofóbico”. De acordo com o jornal O Globo , Bolsonaro também vetou a divulgação de uma campanha publicitária do Banco do Brasil que defendia a diversidade. A peça era estrelada, entre outros, por negros, tatuados e transexuais.

Bolsonaro foi eleito à Presidência da República com base em mentiras e notícias falsas. O Ministério Público e o Poder Judiciário não podem agir com condescendência numa situação criminosa como esta. É preciso agir com severidade e veemência contra isso. É importante lembrar que a maior parte dos eleitores brasileiros (somando-se os votos brancos, nulos, abstenções (um terço do eleitorado) e votos ao candidato Fernando Haddad) não votou nele e nem deu a ele consentimento para se dispor dos corpos das brasileiras a fim de oferecê-los a turistas estrangeiros.

E muito menos deu a ele autorização para discriminar, perseguir, desqualificar e eliminar a população LGBTQI do nosso país. Nós, mulheres de boa-fé, estamos horrorizadas com esse convite indecente e desrespeitoso de um indivíduo que ocupa o cargo máximo de uma nação: a de chefe de Estado. Uma atitude rastaquera, de gente sem escrúpulo e sem respeito.

Diante dessa profusão de palavras machistas, LGBTfóbica, misógina e pornográficas, não há espaço para complacências e tolerâncias. Nada justifica um presidente de um país abrir a boca para proferir tantos impropérios. Basta! Todas as mulheres brasileiras de boa-fé, que zelam por suas próprias vidas e pela vida de suas filhas, irmãs, amigas, mães, avós têm de se indignar perante tamanha falta de respeito.

O Poder Executivo brasileiro tornou-se motivo de vergonha nacional e internacional e, o Palácio do Planalto, foi transformado na local de gestação de violências sexistas, fundamentalismos obtusos e política econômica entreguista. Não é a primeira vez que o chefe de Estado se revela publicamente com escárnio contra mulheres, negros e negras, povos indígenas, população LGBTQI e população pobre do Brasil.

As atitudes de Bolsonaro mostram que o Palácio do Planalto, realmente, mudou a política de condução do país: deixou de apresentar políticas públicas de combate à violência, à pobreza, de políticas de desenvolvimento econômico e educacional e de consolidação da democracia e do respeito humano para introduzir no país a selvageria neoliberal, o colonialismo atual, a mentalidade do crime organizado, a falta de respeito do machismo e as obsessões psicóticas do fundamentalismo religioso.

Infelizmente, tornou-se local de emissão de canalhice sem limite e institucionalizada. Mulheres organizadas ou não têm de acionar o Poder Judiciário. Não podemos nos manter inertes, dormindo em berço esplêndido ao som da voz desrespeitosa de um machista que foi alçado ao Poder Executivo por uma avalanche de mentiras pregadas pelo sistema financeiro para usurpar nossos direitos sociais e nossas riquezas nacionais. É preciso uma atitude digna. É preciso que as mulheres se contraponham a esse convite imoral.

Numa frase absolutamente permissiva à exploração sexual, as mulheres desse país ficam com uma liderança nacional nivelada à mais desprezível rafameia, cada vez mais vulneráveis, como ficaram as mulheres cubanas, durante anos, antes da Revolução, à mercê dos vícios e deturpações sexuais dos turistas norte-americanos e europeus.

Enquanto Bolsonaro nos insulta, as políticas de enfrentamento à violência contra as mulheres mínguam na República tupiniquim. A desburocratização do uso de armas de fogo nos lares brasileiros faz com que os feminicídios cresçam. A Casa da Mulher Brasileira, no Distrito Federal, permanece fechada e continuará fechada se depender das autoridades eleitas em 2018.

Só faltou ele completar a frase : se você quiser vir fazer sexo com um mulher fique à vontade, ela não precisa nem querer… Vale lembrar que ele já foi processado por apologia ao estupro e, conhecendo bem esse sujeito que ocupa o cargo público eletivo de Presidente da República, a gente percebe que nem precisa terminar a frase: está subentendida. Basta comparar a frase com o velho ditado da nossa cultura: “Para um bom entendedor, meia palavra basta”.

Artigo de Vilmara Pereira do Carmo – professora da rede pública de ensino do Distrito Federal e coordenadora da Secretaria de Assuntos e Políticas para Mulheres Educadoras do Sinpro-DF.