Artigo: É hora de torcer e lutar pelo Brasil!
Por Yuri Soares*
Dia 14 de junho começa a Copa de Mundo de Futebol na Rússia. No entanto, a pouco mais de duas semanas do maior espetáculo da Terra, o povo brasileiro não parece nada empolgado com o evento: as ruas não estão sendo pintadas, o comércio patina e são poucos os comentários nas mesas de bar e reuniões familiares.
Há alguns motivos para esse desânimo. O primeiro e mais óbvio foi o fiasco da Seleção Brasileira em casa na Copa do Mundo de 2014. É difícil superar aquele ridículo 7×1.
Mas há também outros fatores, como a falta de identificação dos torcedores com os jogadores selecionados. Quase todo o elenco joga em clubes de fora do país. De clubes brasileiros, somente 3 jogadores de 2 equipes, os outros 20 jogadores atuam em times estrangeiros. Isso é somente mais um sintoma da crise que vive o futebol brasileiro, que necessita de uma ampla reformulação em sua legislação, financiamento, estrutura e relação com a mídia.
No último domingo a seleção embarcou para a Europa quase escondida, sem realizar nenhum jogo de despedida com preços acessíveis ou treino aberto em um grande estádio.
O cenário de aprofundamento da crise econômica, social e política do país também é um problema. Há uma descrença generalizada sobre o presente e o futuro do país, e isso afeta também o ânimo do torcedor em relação à sua seleção. Tanto aqueles que desde o início sabiam que era golpe, quanto aqueles que foram ou ainda são manipulados, mas que sentem na pele a sua vida piorar e a situação geral deteriorar-se a cada dia.
O futebol em nosso país é mais que um mero evento esportivo ou espetáculo. É parte da nossa cultura e sociabilidade quando nos encontramos e, além de assistir aos jogos, também discutimos os mais variados temas.
Em seus embates por um futebol mais democrático, por muitas vezes, setores populares se confrontam tanto com o oligopólio midiático da Globo e demais veículos, como os cartolas mafiosos dos clubes, federações e CBF, o que não deixa de ser uma forma de politização.
Observando as Copas mais recentes, em 1998, a seleção perdeu a copa e FHC foi reeleito; em 2002, a seleção venceu e o candidato eleito foi o oposicionista Lula; em 2006, a seleção perdeu e Lula foi reeleito; em 2010, novamente a seleção perdeu e foi eleita a governista Dilma; em 2014, mesmo com o fiasco histórico da seleção, Dilma foi reeleita. Isso demonstra que não há ligação direta entre o resultado na competição e o resultado eleitoral.
Provavelmente o torcedor esteja esperando ver para crer e, a depender dos primeiros resultados, sua postura em relação à Copa pode mudar.
Já virou febre o fenômeno das camisetas vermelhas alternativas. Muita gente quer torcer para a seleção brasileira sem vestir a mesma camisa verde e amarela utilizada pelos patos que bateram panela a favor do golpe. É um fenômeno interessante e bonito, mas não devemos identificar de forma automática quem utilizar a camisa tradicional durante a Copa como golpista. Vai ter gente de todo tipo vestindo a camiseta canarinho.
Por fim, deixemos o papel de torcer contra o Brasil para aqueles que o fazem sempre, seja no futebol, na política, na cultura e na sociedade. Aqueles que preferem ver nosso país derrotado e de joelhos. Vamos não só torcer pelo Brasil na Copa, como dialogar com nossos amigos e familiares sobre a necessidade de lutarmos coletivamente para tirá-lo do atoleiro em que estamos. Inclusive com aqueles que estiveram em lados opostos ou se calaram até agora. Tirar o Brasil do buraco e reconstruir a democracia será tarefa para os brasileiros e mais ninguém.
* Professor de História da rede pública de ensino do DF e diretor de Políticas Sociais do Sinpro-DF
Texto publicado originalmente na Revista Fórum