29% dos professores fazem “bico” para complementar renda

De Santo André, no ABC paulista, onde mora, até a Vila Industrial, na zona Leste de SP, onde fica a Escola Municipal de Ensino Fundamental Altino Arantes, onde trabalha, Yolanda Maza leva mais de uma hora para chegar. Professora de educação física, ela tem 12 turmas, entre 4° e 9º anos, Yolanda também é personal trainer, em parques e condomínios. No fim da tarde parte para atender seus clientes nos bairros de Higienópolis e Ipiranga, nas regiões central e sudeste de SP.
A rotina de trabalho começa às 6h30 da manhã e acaba por volta das 22h. Às vezes, segue por mais algumas horas: “Em tese, tenho três horas-aula da escola que são destinadas a planejamento e correção de trabalhos, mas é impossível dar conta disso, fora as tarefas burocráticas que temos de cumprir. Acabo fazendo em casa”, afirma. Aos sábados ela também trabalha, na escola, e sobram os domingos para fazer cursos de formação. Boa parte de suas refeições são lanches, comidos no carro.
“Prego a qualidade de vida, a prática de esportes, a boa alimentação, mas na minha própria rotina é muito difícil seguir tudo isso”, lamenta ela, que precisa manter as duas atividades para totalizar a renda mensal. Mas se antes  desejava ter as turmas de alunos que agora tem, hoje ela sonha com uma jornada de trabalho de oito horas para que sobre tempo para treinar, dormir e se alimentar adequadamente.
Segundo uma pesquisa do Movimento Todos pela Educação, 29% dos professores de ensino fundamental possuem outra atividade para complementar a renda. Na rede particular, 38% dos docentes recorre ao “bico” para engordar o salário e 22% dos professores municipais e 30% dos professores estaduais fazem o mesmo. O Todos pela Educação ouviu mais de 2 mil professores nas capitais do país, entre março e maio de 2018. A maioria dos dos professores não desenvolve atividades relacionadas à educação nos bicos.
O aumento na renda é de R$ 439,72 mensais, em média, também de acordo com o levantamento do Todos pela Educação. Segundo pesquisa de 2014 do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (Inep), órgão do Ministério da Educação sobre a remuneração docente mostrava que professores de escolas particulares tinham o menor salário médio do País: R$ 2.996, 66, valor 16,2% menor do que nas redes estaduais e 12,1% a menos que nas municipais.
Para medir o trabalho dos professores, o Inep criou o indicador de esforço docente, levando em conta o número de turnos de trabalho, alunos atendidos e em quantas etapas leciona. Em São Paulo, entre os professores dos anos iniciais do ensino fundamental, que dão aula de todas as disciplinas, 44,6% atuam em mais de uma escola. Na rede pública, a proporção alcança 29,1%. A taxa na rede privada aumenta nas etapas seguintes: 53,9% no final do ensino fundamental (6.º ao 9.º ano) e 54,4% no ensino médio.
(da Revista Forum)