Venezuela: exemplo de resistência

 Apesar dos ataques sistemáticos e violentos do imperialismo, a Venezuela resiste e fortalece a democracia

Rosilene Corrêa Lima*
Nicolás Maduro foi eleito com 68% dos votos em eleições livres – realizadas no dia 20 de maio – e nos limites da Constituição da Venezuela. Vigora no país a liberdade de expressão, os partidos opositores atuam com liberdade, protestos contra o governo ocorrem quase todos os dias e só são reprimidos quando se tornam violentos. Nesse cenário, é preciso muita má-fé e desonestidade para apontar o presidente como um ditador.
A democracia venceu a despeito de os Estados Unidos gastarem milhões de dólares anualmente para financiar a oposição venezuelana, que tentou boicotar as eleições e do isolamento político-econômico impingido à Venezuela, dificultando seu comércio exterior, bloqueando investimentos e impedindo a renegociação de suas dívidas.
Ao tempo em que Maduro realizava pronunciamento afirmando que seu governo deseja a paz e que está disposto a conversar com seus opositores, 14 países – dentre os quais, pasmem, o governo “democrático” brasileiro – manifestaram em nota o não reconhecimento às eleições.
Memória – O fato é que a Venezuela tem as maiores reservas de petróleo do mundo. E os Estados Unidos são o grande consumidor desse produto, importando cerca de 60% do que consome. Boa parte desse petróleo tem origem no Oriente Médio, mas é caro e demorado trazê-lo ao solo norte-americano. Muito mais fácil é desestabilizar a Venezuela, e garantir petróleo barato e rápido com a volta de uma oligarquia que colocou, por mais de 40 anos, o povo venezuelano em uma situação subalterna, dependente, sem dignidade e pobre. 
Esse ciclo que condenava o povo à miséria só foi rompido com a ascensão de Hugo Chavéz e do ideário bolivariano ao poder – que tem continuidade agora com Maduro.
Golpe – Por interesses puramente econômicos e empresariais, a palavra de ordem dos oligarcas, banqueiros e do governo norte-americano é depor Maduro – promovendo a sabotagem econômica e impondo sanções ao país. Junte-se a isso uma manipulação midiática que vergonhosamente distorce fatos para convencer o mundo de que se faz necessária uma intervenção para o restabelecimento da democracia na Venezuela. Palavras como opressão, ditadura, miséria, censura e fome são diariamente repetidas ao extremo. Porém, vale lembrar que nos 15 anos da Revolução Bolivariana ocorreram 19 eleições.
Políticas sociais – A despeito e por causa dos ataques sofridos pelo povo venezuelano, a defesa da soberania tem sido a tônica da revolução bolivariana – marcadamente nacionalista e com foco nas políticas sociais em benefício da maioria da população.
Hoje, milhões de venezuelanos têm acesso a serviços de saúde adequados, por meio de uma rede de postos de atendimento instalados nas áreas mais pobres e operados por médicos e outros profissionais cubanos. O analfabetismo foi erradicado. A rede de ensino público em todos os níveis, inclusive o universitário, ampliou-se em tal escala que hoje a Venezuela é o país do mundo com mais estudantes no ensino superior, em proporção ao número de seus habitantes. Para enfrentar o déficit habitacional, já foram entregues mais de 1,7 milhão de moradias a famílias de baixa renda com pagamento compatível com sua condição econômica. Os idosos conquistaram o direito à aposentadoria digna, os salários reais se elevaram significativamente e a participação popular nas decisões sobre gastos públicos se tornou prática cotidiana em milhares de conselhos comunitários espalhados pelo país inteiro.
Resistência – Mesmo sob ataque, a Revolução Bolivariana resiste. Parcela significativa da população mantém sua fidelidade ao chavismo, consciente do retrocesso político e social que significaria a derrubada do governo de Maduro e a tomada do poder por uma elite fascista e com sede de vingança pelos privilégios perdidos.
Lições para o Brasil e América Latina – O capitalismo em sua fase imperialista está em decadência. Por isso, os traidores internos, como na Venezuela, historicamente se somam aos norte-americanos. Surgem, então, golpes como na Guatemala, no Paraguai e no Brasil.
Na América Latina a disputa se dá entre dois campos políticos que se expressam de forma distinta em cada país, mas que representam interesses similares em âmbito mais amplo. O governo e as classes dominantes dos Estados Unidos e de outros países imperialistas, como Espanha e Canadá, aliados aos governos direitistas latino-americanos e às classes dominantes de cada país, atuam em bloco para defender o neoliberalismo e suas políticas de morte. Por outro lado, os governos progressistas, como os da Venezuela e da Bolívia, buscam construir políticas públicas para atender as demandas sociais das classes menos favorecidas e em defesa da soberania nacional.
Não podemos perder de vista o resultado de cada eleição, o sucesso ou fracasso de cada tentativa de golpe de estado, a consolidação ou desestabilização de cada governo, pois são fatos que transcendem fronteiras, impactando a correlação de forças no cenário político da Região.
Para organizar organicamente a resistência, além de implementar políticas sociais inclusivas, é fundamental investir fortemente na formação de quadros e na criação de mecanismos de participação democrática, o que fortalece a responsabilidade para com o Estado, com suas políticas públicas e com a defesa da democracia e da soberania nacional.
A articulação e o apoio aos governos progressistas, de forma solidária e determinada é o que garantirá a resistência para barrar o avanço do capitalismo selvagem que golpeia governos para retirar direitos e aumentar lucros.
*Professora, diretora do SINPRO-DF, da CUT Brasília e da CUT Nacional. Secretária de Finanças da CNTE