UnB realiza Seminário Anísio e Darcy e o projeto da UnB

 
A UnB realizará dos dias 13 a 14 de novembro o seminário “Diálogos entre Anisio e Darcy, o Projeto da UnB e a Educação Brasileira, no Memorial Darcy Ribeiro (Beijódromo).  Os interessados em participar podem se inscrever pelo e-mail: anisioedarcy@gmail.com.   A ideia é problematizar a proposta da Universidade de Brasilia a partir do Plano Orientador da UnB de 1962, com destaque para a estrutura curricular inovadora, que na essência retoma a formulação da Universidade do Distrito Federal, implementada em 1935, e sua extinção no início de 1939, na vigência do Estado Novo.
Em que medida aquele projeto inovador de 1935 é recolocado, em 1962, com as concepções de Anísio Teixeira e a praticidade de Darcy Ribeiro, incluindo sua astúcia em viabilizar no dia da renúncia do presidente Jânio Quadros, a aprovação da Lei criando a Universidade de Brasilia, Lei N. 3.998, de 15 de dezembro de 1961, promulgada posteriormente pelo presidente João Goulart. Além disso, quais as conexões do projeto de ensino superior e a educação básica estavam presentes?
Por ocasião da comemoração do cinquentenário da inauguração da UnB, informações trazidas pela presidenta da Fundação Anisio Teixeira, sua filha, Anna Christina Teixeira Monteiro de Barros, lançaram novas luzes sobre a intensa colaboração entre Darcy e Anisio que passou despercebida ao longo dos anos.
Um fato novo, no entanto, que ressalta a característica de Anísio Teixeira, de sempre estar à frente de seu tempo, destaca-se no caso do projeto da UnB. Segundo Darcy, Anísio queria, inicialmente, que a UnB fosse uma universidade somente de quarto nível, isto é, só deveria ter mestrado e doutorado.
Mais tarde é que fora convencido, ainda segundo Darcy, de que a nova instituição deveria ter também cursos de graduação; foi por essa insistência na pós-graduação que a UnB já nasceu com cursos de mestrado e de doutorado, tendo atraído, para que isso se tornasse possível, mais de duzentos experimentados professores de todos os cantos do mundo. Deve-se, pois, a essa orientação de Anísio, o grande impulso dado à criação de cursos de pós-graduação em todo o país, o que contribuiu decisivamente para a renovação da universidade brasileira, uma vez que ele no momento da discussão do projeto da UnB ocupava a presidência da CAPES, do INEP e da SBPC.
O projeto da UnB culmina um período de fecunda produção de Anisio Teixeira para a educação brasileira. Além do projeto da UnB, Anisio estava envolvido na discussão do Plano Nacional de Educação, resultado da recente aprovação da Lei de Diretrizes e Bases, de 1961, onde ele acompanhara todo o desenrolar, desde a sua previsão na Constituição de 1946 e toda a tramitação no Congresso Nacional e a disputa do projeto político para a educação brasileira, onde ficou consagrada sua célebre afirmação: Educação não é privilégio. Dessa forma a participação de Anisio Teixeira e Fernando de Azevedo tanto no Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova, de 1932, como no Manifesto de 1959, revela a intensa disputa de projetos e concepções sobre educação presentes na sociedade brasileira, à época.
Nessa direção a presente atividade visa resgatar algumas passagens ainda pouco exploradas nesses 50 anos em que a Universidade de Brasilia foi objeto do encontro de dois grandes pensadores da educação brasileira. Darcy nunca negou que sem Anisio ele não teria aprendido nada sobre a educação.
O encontro de dois mestres em Brasilia e os desafios da educação básica
A proposição pretende debater o encontro desses dois mestres e suas contribuições para o projeto da UnB e suas formulações para a educação básica. As iniciativas de Darcy, com a criação dos CIEPs, retomam em alguma medida as propostas de Anisio consubstanciadas no Plano de Construções Escolares de Brasilia, que por sua fez fora trazido da ideia da Escola Parque, da experiência do Centro Educacional Carneiro Ribeiro, de Salvador.
No momento que se comemora o cinquentenário da UnB, recoloca-se também datas de extremo significado para a educação brasileira. Há exatos 80 anos, tendo a frente Anisio Teixeira e Fernando de Azevedo, foi lançado o Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova e estamos também completando 50 anos da discussão do primeiro Plano Nacional de Educação, onde Anisio Teixeira, teve papel importantíssimo para sua aprovação durante o governo João Goulart e onde estavam presentes nos debates travados por Anisio a ideia de um sistema nacional de educação, meta essa que vem sendo perseguida até os dias atuais.
Os diálogos entre Anisio e Darcy visam problematizar a sua reflexão sobre o projeto de universidade sua ligação com a educação básica no momento em que se discute a ideia de um Sistema Nacional de Educação, os dois educadores, à época lançavam os pilares de sustentação desse sistema ao conectar a formação de base e a de nível superior num projeto de Nação. A ideia da escola oferecer aos alunos uma educação ao longo do dia persegue ainda hoje a sua efetivação por parte das políticas públicas. Segundo os dados do último Censo Escolar, apenas 6% dos alunos das séries finais do ensino fundamental estudam em escolas de tempo integral e apenas 3% dos matriculados no ensino médio têm acesso a essa escola pensada por Anisio e Darcy.