Uma análise do pronunciamento de Dilma, por Luís Nassif

O pronunciamento de Dilma Rousseff em cadeia nacional esqueceu uma máxima do jornalismo: uma imagem vale mais do que mil palavras.
Durante meses e meses os grupos de mídia atacaram as obras da Copa, realçando os maiores e os menores problemas. Até hoje, a torneira do banheiro do estádio de Itaquera mereceu mais destaque nos jornalões que a obra em si, a valorização da região, os projetos que irão gerar 50 mil empregos.
Hoje mesmo, o G1 traz um especial sobre os aeroportos e o destaque é para um dos únicos que deu problema – o de Fortaleza. Escondeu fotos e vídeos sobre 11 aeroportos de primeiro mundo que estão sendo entregues à população. A Folha dá destaque a uma reportagem sobre um funcionário da CET que não fala inglês. O G1 diz que das 87 obras de mobilidade nas 12 cidades-sede, 14 foram inauguradas e 33 devem ficar prontas depois da Copa.
Sem os tapumes, as obras nos aeroportos são espetaculares; os estádios prontos enchem os olhos dos torcedores. Segundo o G1, há pelo menos 14 obras de mobilidade prontas e 33 a serem entregues em breve. Por que não foram mostradas?
O maior erro de marketing de Dilma foi ter definidos metas ambiciosas para o PAC (Programa de Aceleração do Crescimento) e para a Copa. Metas ambiciosas funcionam para o setor privado: obrigam todos a se empenhar em alcançá-las. Para o setor público, é tiro no pé. Os grupos de mídia sempre darão destaque para o não atingimento das metas, em detrimento das obras acabadas.
Suponha que a meta factível seja 50. Se o governo define como meta ideal 100 e elas alcançam 80, os grupos de mídia baterão nos 20 que não foram entregues, deixando de lado os 80 de obra efetiva.
O PAC já deveria ter ensinado essa lição.
O que o governo tem como defesa é mostrar o que foi entregue.
Para o leitor médio influenciado pelos jornais, argumentos são o que menos importam, a inteligência é o que menos conta. Esse leitor mediocrizado acredita em manchetes, em bordões e em imagens.
Dilma comparou os gastos totais com educação e saúde (R$ 1,7 trilhão) com os R$ 8 bilhões gastos na Copa. A Folha rebateu com um argumento tolo: ah, mas nesses gastos ela incluiu despesas com pessoal e não com investimento, como se saúde não fosse fundamentalmente uma prestação de serviço.  Para o leitor totalmente tolo –  alvo preferencial dos jornais – o argumento pega. Daqui a pouco essa tolice estará sendo repercutida nas redes sociais.
Desconsiderou-se também outros instrumentos jornalísticos, como o infográfico.
Com apoio do infográfico, poderia ser apresentada uma visão simplificada da Matriz de Responsabilidades da Copa, o papel de cada ente federativo, as responsabilidades e também os méritos dos governos dos estados.
Seria a maneira da opinião pública entender que, para a maior parte das obras, o papel do governo federal foi disponibilizar recursos para os estados agirem. Mostraria a presidente como a maestrina de um trabalho que envolveu todo o país, independentemente de partidos.
De qualquer modo, nos últimos tempos a Secom montou uma estratégia de craque, ao organizar os encontros de Dilma com correspondentes estrangeiros e cronistas esportivos, explorando o melhor lado de Dilma: o contato informal, onde emerge o perfil de mineira simpática, espirituosa e espontânea.
(Do Luís Nassif Online)