Sociólogo provoca polêmica no FSM

O sociólogo português Boaventura de Souza Santos provocou polêmica no Fórum Social Mundial. Ele disse que não se pode falar em desenvolvimento sustentável com a monocultura da soja, com o agronegócio ou o agrocombustível. Na opinião dele só haverá chance de o ser humano sobreviver se a humanidade entender que a natureza tem direitos inalienáveis. “E isso não é possível no sistema capitalista”, acrescentou.
Doutor em sociologia do direito pela Universidade de Yale, professor titular da Universidade de Coimbra, Boaventura sugeriu uma aliança entre os movimentos sociais e a mudança radical e imediata da forma de exploração dos recursos naturais. ” Precisamos caminhar para o ecossocialismo. Essa idéia do crescimento infinito vai nos destruir”, afirmou ele, convocando os movimentos sociais, negros, afros, quilombolas, índios a se unirem na busca de soluções para a crise do neoliberalismo.
“Nos reunimos no Fórum Social Mundial desde 2001 e não fomos nós que derrotamos o neoliberalismo, ele cometeu suicídio. Hoje em Davos estão fazendo o mesmo diagnóstico que fizemos há tempos, mas continuam a pensar o mundo do ponto de vista dos ricos e a receita é a mesma: dinheiro para socorrer o sistema financeiro e as grandes empresas e recessão e desemprego para os trabalhadores”, criticou.
Ele defendeu que o FSM proponha o fim do Banco Mundial e do FMI, que segundo ele, erraram como instituições, quebraram alguns países e não tiveram que pagar indenizações. Para o sociológo, a resposta aos desafios da crise passa obrigatoriamente por um novo paradigma econômico social, que ele chamou de suma causa. “É o conceito indígena de desenvolvimento, de viver bem, em harmonia. E não são utopias, esses conceitos estão hoje na Constituição da Bolívia e do Equador”, ressaltou. Segundo ele, novos conceitos estão surgindo na América Latina, e o Brasil tem que ficar atento às mudanças, principalmente em relação à exploração dos recursos naturais e o uso da terra.
Boaventura participou de debate sobre Energia, Soberania e Trabalho Decente, organizado pelas centrais sindicais e mediado pelo presidente da CUT, Artur Henrique, que também chamou a atenção para a contradição dos que diziam que o Estado não servia para nada e hoje estatizam bancos e socorrem empresas com bilhões de dólares.
A professora aposentada Maria Aurienne, que integra a delegação do Sinpro, disse que um dos privilégios dos participantes do Fórum é poder ouvir opiniões lúcidas de pensadores antenados como Boaventura. “o diagnóstico feito por ele é bastante pertinente para o momento atual”, afirmou ela.