Sobre violência e convivência ética nas escolas

Violência na escola: eis a chamada que se repete em jornais, na televisão, nas redes sociais, indicando o quanto os educadores já não sabem o que fazer com o problema crescente. Certamente, se já conseguimos inserir toda criança na escola  – ou pelo menos a maior parte delas -,  e pensar a estrutura e o funcionamento do ensino brasileiro para as matemáticas, a linguagem e as ciências, ainda nos falta superar o que parece ser nosso “calcanhar de Aquiles”: os problemas que emergem na convivência entre crianças e adolescentes, entre pares ou com seus professores.
Quando em nossas pesquisas indagamos ao professor sobre sua maior dificuldade, a resposta é comum: lidar com os problemas de agressividade, de violência, de incivilidades, de bullying e de indisciplina que costumeiramente crianças e adolescentes demonstram ter. Da mesma forma, outras investigações nos apontam o quanto é grande o desgaste de quem tem por intenção formar para a autonomia, para o respeito, mas não sabe lidar com os problemas na escola .
Temos a impressão de que “não se dá mais aula” como nos dizem muitos professores. E que o grande problema da escola é “a família”, cujas pesquisas mostram exatamente o contrário: o quanto a maior parte dos pais atende aos pedidos dessa outra instituição que educa.
A questão é que pouco sabemos como agir porque pouco entendemos de desenvolvimento e dos aspectos presentes no psiquismo humano para que uma criança ou adolescente possa, de fato, agir com autonomia e respeitar aos outros. E não se trata de culpa, visto que em nossas universidades pouco espaço se tem para a discussão dessa temática tão relevante: nossas investigações com estudantes universitários têm nos revelado a ausência de tal conteúdo em sua formação. Contudo, ainda que não seja “nossa culpa” não saber lidar com esse cotidiano, é, pois, responsabilidade daqueles que educam a formação de meninos e meninas para que saibam conviver eticamente.
Assim, bullying, incivilidade, indisciplina, agressividade, são problemas cotidianamente chamados de “violência” mesmo sendo fenômenos diferentes que precisam ser compreendidos em sua constituição para que possamos vencê-los. Por que a necessidade de conhecer esses fenômenos? O que isso nos ajudará a superar o problema das relações interpessoais que temos na escola?
Entender as características dessas manifestações nos ajudará a pensar em ações assertivas que podemos tomar na escola e não tratarmos um problema que realmente seria violência (como por exemplo o bullying ou a agressão intencional) da mesma forma como tratamos outro de menor importância (como usar o celular na escola): enviando bilhetes a pais ou assinando o chamado “livro preto”.
Temos insistido em investigações no Brasil, acompanhados de parceiros de universidades estrangeiras, que possam mostrar que o caminho para a superação das dificuldades deste âmbito na escola não se dá somente quando estouram os problemas. Sem dúvida, a insistência da escola por “bombeirismos” precisa ser substituída por um programa intencional, planejado, organizado e contínuo que contemple desde a formação de professores às estratégias que envolvam os alunos na formulação das regras, no cuidado, na ajuda ao outro e na integração de valores como o respeito, a generosidade, entre tantos outros, à sua identidade.
Em uma palavra: as “violências” na escola que nos assustam precisam ser vistas como sinais de que não damos aos alunos aquilo que seria também uma das mais importantes tarefas da escola: educar para a convivência.
*Por Luciene Regina Paulino Tognetta e Telma P. Vinha
(da Carta Educação)