Se a esquerda não dialogar, a direita vai apagá-la do mapa’, diz Mascaro no Brasília Debate

Ter, 02 de Julho de 2013
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Diante de uma plateia atenta e composta por trabalhadores, dirigentes sindicais, estudantes, universitários, professores, profissionais do direito e integrantes da sociedade civil, o jurista e professor da Universidade de São Paulo (USP) e do Mackenzie Alysson Leandro Mascaro afirmou, na terça-feira 2, durante edição do Brasília Debate, que “se a esquerda não dialogar, a direita vai apagá-la do mapa”, ao citar a falta de unidade do segmento para se contrapor ao poderia econômico da elite, com amplo domínio dos meios de comunicação do país. Com o tema ‘A relação entre Estado e Forma Política’, o debate, que contou com ampla participação dos presentes, proporcionou discussões acaloradas.
Na opinião do jurista, as esquerdas do Brasil precisam formar uma grande frente. “É preciso tomar lado. Nos últimos 10 anos, a esquerda não dialogou com a população”, disse ele. “O agrado geral não será mais suficiente. Acabou esse tempo”, acrescentou Mascaro, que é autor do livro ‘Estado e Forma Política’, lançado pela Boitempo Editorial, numa clara referência às atuais políticas de Estado do governo.
Esta edição do Brasília Debate inaugurou uma nova fase do projeto, que agora passa a ser coordenado pela Central Única dos Trabalhadores de Brasília (CUT Brasília). O Sindicato dos Bancários de Brasília e o Sindicato dos Professores do Distrito Federal (Sinpro-DF) organizarão o debate com o apoio da Escola Centro-Oeste de Formação Sindical da CUT Apolônio de Carvalho (ECO/CUT).
Durante o debate, o jurista analisou, entre outras questões, como, no neoliberalismo vigente no mundo, as políticas exploratórias do capital reconfiguram os Estados em favor da concentração econômica.
Nesse sentido, Mascaro destacou que até a água, que deveria ser um bem comum, foi privatizada. “Somente quando ocorre uma situação de emergência, como a seca no Nordeste e outras catástrofes, os governos enviam carros-pipa”.
 
Inovação
O jurista ainda falou sobre como a teoria do Estado se revela diante dos conflitos recentes, gerados pelos impasses da economia política global. “Em momentos de crise, toda sociedade se volta para o Estado para que a salve de suas próprias contradições”. Mascaro acredita que somente futuras dinâmicas que sejam necessariamente socialistas podem ensejar arranjos sociais inovadores, não fundados na concorrência e nos antagonismos de classes, grupos e indivíduos. “O capitalismo é crise”, destacou.
Mascaro encerrou sua apresentação afirmando que “a desesperança gera esperança”. “Ou reagimos diante da atual conjuntura do capitalismo, ou voltaremos aos tempos do neoliberalismo da década de 1990”.
 
Disseminação do debate
 
Conduzido pelo presidente do Sindicato, Eduardo Araújo, o Brasília Debate ainda contou com a participação do secretário de Administração e Finanças da CUT, Julimar Roberto de Oliveira Nonato, e do diretor de Cultura do Sinpro, Rodrigo Rodrigues.
Na avaliação de Eduardo Araújo, o Brasília Debate foi excelente. “Hoje fizemos um debate excelente sobre a situação que o capitalismo coloca na nossa sociedade e a gente espera que com esse processo de informação que o Brasília Debate traz a gente consiga, além dos delegados sindicais e dos diretores dos sindicatos parceiros, irradiar essa perspectiva para todos os trabalhadores”.
Ao confirmar novas edições do Brasília Debate, Araújo adiantou que continuará ampliando os debates com os estudantes universitários. “Nós queremos discutir com a academia, especialmente com a esquerda, para que possamos trazer luz sobre essa escuridão que o capitalismo traz sobre a sociedade”.
Em suas considerações, Julimar Nonato disse que a CUT apoia o Brasília Debate porque é importante os trabalhadores conheceram mais sobre os meandros do capitalismo e suas facetas para enfraquecer os trabalhadores. “Por conta desse capitalismo, os comerciários, categoria da qual faço parte, foram obrigados a trabalhar aos domingos, quando, na década de 1990, o então presidente Fernando Henrique Cardoso regulamentou essa jornada extra”.
Manifestações
Já para Rodrigo Rodrigues, as inúmeras manifestações que se alastraram pelo país nas últimas semanas não têm uma pauta política definida. “Eles se unem para reivindicar assuntos que não dominam, como a PEC (Proposta de Emenda à Constituição) 37, que regulamentava as investigações criminais do Ministério Público. Muitos nem sabiam o que é uma PEC”.
Ao final, Mascaro participou de uma sessão de autógrafos do seu livro ‘Estado e Forma Política’ no foyer do Teatro dos Bancários.
A obra faz uma síntese de toda a reflexão que foi desenvolvida no mundo a respeito do Estado e da política. “O que acontece é que a reflexão crítica foi abandonada nos últimos anos e em seu lugar restaram apenas teorias conservadoras institucionalistas e liberais”, explica Alysson. Como exemplo, o autor cita o marxismo. “É a maior teoria crítica sobre a política; foi abandonada e, em seu lugar, as teorias políticas neoliberais louvaram a ordem estatal e a segurança do capital”.
A publicação apresenta um deslocamento da teoria política, fazendo-a girar não em torno de suas instituições, definições jurídicas ou análises sobre as disputas em torno do poder estatal, mas sim a partir das formas sociais do capitalismo.
Rodrigo Couto
Do Seeb Brasília