Professores se formam em Guerrero e homenageiam colegas assassinados

A formatura de 74 novos professores do estado de Guerrero, no México, em 13 de julho, não estava completa. Faltavam os 43 estudantes da Escola Normal Rural Raul Isidro Burgos, desaparecidos em 26 de setembro de 2014. O nome de cada um foi chamado, mas as cadeiras permaneceram vazias para relembrar um dos casos de maior violação de direitos humanos do país nos últimos tempos.
Há quase quatros anos, a polícia municipal, com outros homens armados, vinculados ao crime organizado da região, alvejaram o ônibus que transportava os estudantes de forma violenta e desproporcional. Ao pararem os veículos, os passageiros foram colocados em viaturas policiais e nunca mais apareceram. Os alunos viajavam para Iguala. Iam negociar transporte para que outros estudantes viajassem até a capital e pudessem participar de marcha em homenagem às vítimas de massacre histórico, ocorrido em 1968, quando forças federais fuzilaram centenas de estudantes.
Eles também planejavam protestar contra a morte de militantes camponeses simpatizantes do PRD (Partido da Revolução Democrática), que desapareceram, em 2013, após confronto com a polícia em uma manifestação por fertilizantes para os produtores da região de Iguala. Investigações ligavam os assassinatos a José Luis Abarca, prefeito da cidade, acusado de ter ligações com o narcotráfico. Sem provas concretas, o prefeito da cidade seguiu impune.
Mal sabiam os futuros professores que eles próprios seriam vítimas de chacina. Sem aviso, a Polícia do Estado abriu fogo a um dos ônibus, matando seis pessoas e ferindo 40. Outros 43 foram detidos pela Polícia, mas desapareceram imediatamente depois.
No mesmo ano, as autoridades mexicanas disseram que a polícia teria entregado os estudantes a um cartel de drogas local, Guerreros Unidos, que incinerou os corpos num lixão nas redondezas. Mais de 130 pessoas foram presas, dentre elas o prefeito de Iguala, assim como oficiais da polícia e traficantes. Porém, uma equipe internacional de especialistas expôs que não havia evidências forenses que colaborassem com a conclusão das investigações mexicanas.
No entanto, os indícios analisados pela promotoria, de acordo com os juízes, sugerem que os 43 estudantes foram vítimas de execução sumária, ou seja, foram julgados, condenados e executados de uma só vez, como em um fuzilamento. O processo aponta que as vítimas foram detidas, privadas de liberdade e transportadas ao lugar onde foram mortas.
As instâncias judiciais se recusaram a emitir ordens de busca e apreensão contra os 56 acusados, entre eles o ex-prefeito de Iguala, José Luis Abarca e a esposa dele, María de los Ángeles Pineda, suspeitos de terem mandado matar os estudantes, os policiais municipais de Iguala e Cocula, e supostos membros do cartel Guerreros Unidos.
CNTE na luta pela memória das vítimas
A Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação (CNTE) apóia as famílias dos 43 jovens desaparecidos, acompanha de perto e luta para manter viva a memória sobre o caso. Em 2016, representantes da entidade se reuniram com embaixadora do México, Beatriz Paredes, com o objetivo de exigir que o governo mexicano esclarecesse o desaparecimento dos jovens.
Outra ação em benefício das vítimas foi a moção em solidariedade aos familiares quando o caso completou três anos. Trecho do documento destaca que “A escalada de violência no México nos dias de hoje é resultado de mais de uma década de uma política fracassada de combate ao narcotráfico, iniciada quando, ainda no ano de 2006. Ali foi iniciada essa estratégia de guerra do Estado contra o narcotráfico, que já vitimou em pouco mais de 10 anos, mais de 130 mil vidas, entre mortos e desaparecidos. O principal erro dessa estratégia de enfrentamento do crime organizado encontra-se, justamente, no efeito que gerou o total descontrole do Exército e das forças de segurança do país, que carecem de marcos regulatórios de sua atuação, o que termina por contagiar todo o sistema de segurança do país, desde os de nível federal até as polícias municipais”.