Professores do DF fazem maratona de debates

Difícil é escolher. A diversidade de temas em debate no Fórum Social Mundial tem levado a delegação de professores do DF a fazerem uma verdadeira maratona nos campus das Universidade Federal do Pará e na Universidade Rural para acompanhar as palestras e oficinas. O professor Norberto Calixto, do CEF 417 de Santa Maria, por exemplo, priorizou os debates que tratavam da temática relacionada aos afrodescendentes, entre eles a defesa da terra dos quilombolas e a necessidade de implementar o ensino da cultura africana nas escolas.
Ele assistiu ao debate com o antropólogo Kabenguelê Munanga, um congolês que há muitos anos mora no Brasil. Professor da Universidade de São Paulo, e estudioso das relações raciais no Brasil, Munanga afirma que o momento é propício para que os negros reivindiquem o direito legal à terra, pois pelo menos 25 ministérios possuem recursos para as comunidades tradicionais.
Para a professora Alene Gonzaga, também do CEF 417 de Santa Maria (aliás, a cidade que trouxe o maior número de professores ao Fórum), foi positivo perceber que índios e negros estão unificando a sua luta pela posse da terra.
Os dois assistiram ainda a vários debates relacionados com a violência no campo, em especial no Pará. «Fiquei impressionado com o grande número de religiosos ameaçados de morte no Pará porque lutam contra o trabalho escravo e contra os grileiros de terra», afirmou Norberto. Durante o FSM a morte da missionária Dorothy Stang foi lembrada em vários momentos. No dia 28 houve uma manifestação de religiosos, trabalhadores rurais e ativistas na região.

Com um discurso radical, o padre italiano Humberto Guidotti afirmou que a Igreja “chegou tarde” ao reconhecimento dos direitos humanos, mas que a luta por esses ideais, atualmente, já é parte da atividade evangelizadora de alguns religiosos.

“Falta passar essa afirmação para a cabeça de bispos, padres e fiéis ligados a alguns grupos que acham que a Igreja deve se limitar aos cultos e à administração dos sacramentos”, afirmou para a platéia repleta de simpatizantes da Teologia da Libertação.

Guidotti afirmou que é “divino lutar pelos direitos humanos” e apontou o caso dos três bispos católicos ameaçados de morte no Pará, como exemplo para o trabalho missionário. “Será um bom sinal quando tivermos 200 bispos, 200 padres e 200 freiras ameaçadas”, argumentou.

Um dos bispos ameaçados, dom Luiz Azcona, criticou o andamento das investigações e disse que a perseguição é um estímulo para dar continuidade ao trabalho de denunciar violações aos direitos humanos.

Um representante quilombola do interior do Pará que teve a casa queimada e parte da família assassinada por fazendeiros, e a viúva do trabalhador rural José Dutra da Costa, morto em 2001 por pistoleiros, também deram depoimentos durante a apresentação.

O grupo fez também um minuto de silêncio em memória dos fiscais do trabalho assassinados por pistoleiros em Unaí (MG) em 2006 durante uma investigação de trabalho escravo.