Professores decretam greve por tempo indeterminado

Os professores votaram em peso a favor da greve por tempo indeterminado na Assembléia Geral realizada nesta terça-feira, 7, em frente ao Buritinga. A categoria respondeu em peso à convocação feita pelo Sinpro. Milhares de educadores e educadoras lotaram o estacionamento onde foi realizada a assembléia, mostrando disposição e convicção para o movimento grevista. A paralisação está marcada para começar na próxima segunda-feira, 13 de abril.

A Assembléia Geral aconteceu no dia seguinte à reunião realizada entre o Sinpro e o Governo do Distrito Federal. No encontro, o governador Arruda e o secretário de Educação, José Valente, limitaram-se a entregar uma carta com quatro páginas na qual não apresentaram qualquer proposta alternativa aos 15, 31% reivindicados pelos professores. Apenas repete os mesmo argumentos apresentados até agora para a categoria, como perda de recursos, contingenciamento e dificuldades ocasionadas pela crise mundial.

A partir das 9 horas da manhã, os professores, vestidos com a camiseta da campanha, começaram a chegar e receberam o jornal do Sinpro com as informações da negociação e um anexo com a carta, na íntegra, do GDF. A disposição dos professores, diante da falta de proposta do governo era para a paralisação. “O acordo foi descumprido e a gente não pode aceitar isso. Se ele jogou no chão a lei, só nos resta a alternativa da greve”, argumenta Thiago Oliveira, professor no Recanto das Emas.

“Arruda está querendo nos embromar com essa história de crise mundial. Ele teve tempo suficiente para se programar e pagar nosso reajuste. Além do mais, é lei. Ignorar a nossa proposta é ignorar o trabalho dos professores. Diante do calote, a greve é inevitável”, defende Maria José Goulart, professora na Vila Planalto.

Ao lado dos professores compareceram estudantes com nariz de palhaço, caras pintadas, faixas com palavras de ordem e apito na boca, apoiando os professores. “Apoiamos os professores porque sabemos que um professor valorizado é mais feliz dentro da sala de aula. Com isso, a gente ganha muito. Todos os estudantes da minha escola, a CEMTN, pararam para vir pra cá”, conta o aluno Douglas Brasil.

Animados, apesar da ameaça de chuva, os professores não demoraram muito a votar o indicativo de greve apresentado na Assembléia Geral, que contou ainda com a presença de parlamentares do Partido dos Trabalhadores e líderes de vários sindicatos. Às 11 horas da manhã, 80% dos professores presentes à assembléia votaram a favor da greve por tempo indeterminado. “Professor na rua, Arruda a culpa é sua”, reagiu em coro a categoria à decisão.

“O Arruda é arrogante e a gente não pode se retrair diante das provocações dele. Por isso e por causa do desrespeito dele, a gente tem que se unir em torno dessa greve. É a forma de dizer que os professores têm coragem”, vibrou o professor José Bonifácio de Souza, de Taguatinga. “A união é muito importante nesse momento. Por isso, vamos entrar nessa greve com muita vontade, mostrando que temos consciência do que queremos”, reforçou Rose Carvalho, de Samambaia.

Ainda nesta tarde de terça o Sinpro vai protocolar uma carta junto ao GDF, Tribunal Regional do Trabalho-TRT e Tribunal de Justiça informando sobre a decisão da Assembléia Geral. Somente 72 horas após esse protocolo, conforme previsto em lei, uma categoria pode entrar em greve, o que leva o início da paralisação para o dia 13 de abril. A Assembléia definiu a próxima Assembléia Geral para o dia 15 de abril.

DEPOIMENTOS DOS PROFESSORES

“Eu acabei de entrar na Fundação e esperava mais tolerância do GDF. No momento em que não faz nenhuma contraproposta, o governo demonstra falta de compromisso não só com os professores, mas com toda a comunidade. Quando ele culpa a crise, só está enrolando a gente. Os professores não queriam greve, queriam o cumprimento da lei. O reajuste foi definido por lei. Agora é greve e só com luta a gente vai conquistar esse direito. Por isso acho que essa vai ser uma greve forte”

Ana Lúcia Alves Lima, Centro de Ensino Fundamental 510, Ceilândia

“Eu já esperava que o Arruda não fizesse proposta alguma. A Assembléia Geral está dando uma resposta a ele. Com isso o governador só desrespeita os professores. A única solução agora é a greve mesmo. Essa greve é em nome da dignidade e pelo cumprimento da lei. Eu ensino meus alunos a serem cumpridores da lei e na hora de nós cobrarmos o cumprimento de uma lei, vamos ficar quietos? De jeito nenhum. Eu não posso ficar quietinho diante desse desrespeito. Essa greve vai ser histórica”

Fábio Bitar, Centro de Ensino Fundamental 05, de Planaltina

“O Arruda prometeu e tem que cumprir a lei. Ele não precisa fazer nenhum favor para o professor, apenas cumprir a lei. É o mínimo. O Arruda já não era exemplo antes de eleito, agora que se mostra descumpridor da lei, pior ainda. Qualquer pessoa que sabe ler, vê que culpar a crise para não pagar nosso reajuste é uma furada. A greve é a solução que o próprio Arruda nos deu. Não que quiséssemos isso. Foi ele que motivou. Espero que a greve seja unida , uniforme e com a participação da comunidade e dos alunos”.

Valdilene Almeida, Centro de Ensino Médio 03, Gama

“A falta de proposta do Arruda é típico dele, ele está apenas revelando aquilo que sempre foi. Ele deu o calote e cabe a nós professores corremos atrás de nossos direitos. Ele vai procurar todos os meios para não pagar nosso reajuste e a crise não é desculpa pra isso. Mas, apesar disso, no final das contas, com a nossa mobilização, ele vai ter que cumprir o que prometeu. E não podemos aceitar nada abaixo dos 15, 31% a que temos direito de fato. Infelizmente, a única saída é a greve. Os professores estão na luta há muitos anos e não vai ser essa pressão do Arruda que vai fazer com que a gente baixe a cabeça.”

Valderson Cardoso, Caic, Sobradinho 2

“O descumprimento da lei é um desrespeito à nossa classe. Afinal, o professor é um batalhador, é um guerreiro. Estar dentro de uma sala de aula e se você não estiver realmente preparada pra trabalhar com nossos alunos, o que vamos ter no futuro? O GDD deveria dar mais valor ao professor, porque sem o professor ninguém jamais chegará a algum lugar. A gente tem mais é que lutar, uma luta em conjunto, grudar um no outro mesmo e vamos embora. É com união que nós venceremos essa batalha. Não estamos pedindo nada de absurdo com essa greve, apenas os nossos direitos”

Sandra Maria, professora aposentada, Plano Piloto

“A falta de proposta do GDF reafirma uma postura de intransigência. Primeiro com o descumprimento da lei. O fato da gente estar chegando em meados de abril de 2009, discutindo um acordo que foi feito em 2007 por ele não ter sido implementado é um absurdo. Nós professores no Distrito Federal mostramos um grau de transigência, de paciência, mas que chegou ao seu limite. A postura do governador de não apresentar uma proposta material que se aproxime daquilo que a lei acena, empurra a categoria para a greve. Se tem uma categoria que tem trajetória de luta e dá exemplos concretos de como se construir uma sociedade que acene pra emancipação humana, essa categoria se chama professor”

Roberto Leal, professor do Plano Piloto

“Eu achei o que todo mundo achou: a falta de proposta de Arruda é ridícula. O dinheiro já existe e não tem porque adiar o pagamento do reajuste dos professores. A greve é justa porque o governo desrespeitou uma lei firmada. O GDF tem que ser o primeiro a por em prática as determinações legais. Esse é um governo desacreditado e espero que isso se reflita nas próxima eleições. O governo vinha empurrando a gente aos pouquinhos para a greve. Eu vou para a greve porque essa é a única forma de luta para pressionar o gov
erno”.

Marcilene Reis, Centro de Ensino Médio 01, Gama