“Pensar a educação é pensar além da escola”, diz Luiz Fernando Dourado

O cientista social e educador, Luiz Fernando Dourado, finalizou o primeiro dia da VI Conferência Distrital de Educação, do Sinpro-DF, com uma palestra sobre a Base Nacional Comum Curricular (BNCC).  Ele começou sua palestra, citando Paulo Freire e Guadêncio Frigotto e levou os (as) participantes indagações como a que questiona que compreensão os (as) professores (as) têm da educação?
“Em que medida a educação interfere na nossa forma de organizar os processos de trabalho, de pensar a escola, a gestão democrática, a participação estudantil como algo vital e fundamental, de pensar os profissionais da educação na sua totalidade, diferentes profissionais que atuam no cotidiano das instituições educativas? Ou seja, pensar a educação é pensar além da escola e entender, até mesmo, que a escolarização é uma parte das várias visões, da leitura de mundo, de homens e da sociedade”, disse Dourado.
Para o pesquisador, a contribuição acadêmica e o pensamento do intelectual Guadêncio Frigotto é fundamental para entender a BNCC e os processos da educação. Frigotto é hoje um dos principais intelectuais na análise da relação entre o sistema capitalista, o trabalho e a educação, na forma de educação profissional, técnica e tecnológica, bem como na reflexão sobre as políticas públicas e o sentido da educação como formação humana.
“Ele tem um pensamento fundamental sobre a educação, segundo o qual a educação é constitutiva e constituinte das relações sociais. Se por um lado, Frigotto quer dizer que a educação é parte da sociedade, por outro, Paulo Freire, afirma que se a educação não muda sozinha a sociedade, sem ela, tampouco, a sociedade muda”.
Com base nesse pensamento, Dourado desenvolveu sua tese sobre a BNCC e a importância da intensa participação na elaboração dessa base nacional. “Precisamos pensar nos papeis que deve ter uma sociedade educadora. Por isso precisamos alargar os horizontes das instituições educativas e repensarmos essas instituições, trazermos para o cotidiano essas instituições. Por isso toda essa discussão que aqui fazemos tem impacto direto na concepção de gestão democrática”, avalia.
Dourado disse que a gestão democrática é a grande chave para discutimos essas questões. O professor mencionou a Constituição Federal e disse que ela teve um motivo para ser chamada de Constituição Cidadã em razão dos movimentos sociais realizados para ampliar os direitos sociais hoje ameaçados.
Ele chamou atenção para o fato de que há uma necessidade de se pensar esses processos no setor da educação como processo políticos e avisa que processos pedagógicos só avançam como processos coletivos. Após analisar e apontar a importância da BNCC, ele traçou os desafios que o país tem a enfrentar para instituí-la, com as discussões e construções promovidas na sociedade e na comunidade escolar, nas instituições educativas e na academia.
O primeiro desafio é pensar que essa discussão não se dissocia desse debate sobre a BNCC. Essas discussões criam espaços mais plurais. “É fundamental, para a BNCC, haver a participação de todos. Entende-se por BNCC os princípios e fundamentos essenciais para concretização do direito à educação, cuja materialização se efetiva a partir de políticas”, disse.