No Brasil, 8,5 milhões de alunos estão atrasados duas séries na escola

Mais 8,5 milhões de alunos brasileiros estão atrasados pelo menos dois anos na escola. Os dados são do Censo da Educação Básica 2013 e mostram que 6,1 milhões de estudantes do ensino fundamental e 2,4 milhões do ensino médio não estão na série ideal.
Nessas duas etapas de ensino o país tinha 37,3 milhões de matrículas em 2013. São crianças e adolescentes que reprovaram, abandonaram a escola ou já foram alfabetizados com atraso.
“Nós temos esse descompasso, que é a falta de correspondência entre e a idade e o ano escolar. A responsabilidade de solucionar esse problema é do governo federal e dos governos estaduais e municipais, junto com a sociedade. Não é só um problema de gestão do setor público, é uma questão das prioridades que a sociedade estabelece”, afirma Maria Beatriz Luce, secretária de Educação Básica do MEC (Ministério da Educação).
O ideal é que o aluno tenha 6 anos no 1º ano do ensino fundamental e complete 14 anos no 9ª ano. Já as três séries do ensino médio devem ser feitas entre os 15 e os 17 anos. A realidade, porém, é que 21% dos estudantes do fundamental e 29,5% do ensino médio não estão na sala correta.
Para especialistas, as principais causas desse atraso são a repetência e a evasão escolar, que refletem problemas estruturais e pedagógicos das escolas. “O fluxo escolar melhora quando há acompanhamento mais perto dos alunos, escolas menores e próximas às casas dos alunos, equipe escolar estável e programas de recuperação ao longo do período letivo”, afirma José Marcelino Rezende Pinto, professor da Faculdade de Filosofia Ciências e Letras da USP (Universidade de São Paulo), em Ribeirão Preto.
O pico de defasagem ocorre no 6º ano do ensino fundamental e no 1º ano do ensino médio, fases importantes de transição na vida escolar. No primeiro caso, os alunos deixam salas menores e com apenas um professor para entrar em uma etapa de maior exigência, muitas vezes acompanhada da troca de escola.
“Na primeira fase do ensino fundamental [do 1º ao 5º ano] o aluno tem uma rotina, menos professores, menos disciplinas e está acostumado com um ritmo na escola. No 6º ano pode acontecer de mudar de escola, então há uma adaptação, mais disciplinas e mais professores”, afirma Adriana Aguiar, secretária de Educação do Tocantins e vice-presidente do Consed (Conselho Nacional de Secretários de Educação).

O gargalo do ensino médio

Outro ponto de atenção é o início do ensino médio, que já recebe com atraso os alunos repetentes do ensino fundamental. Alguns jovens interrompem os estudos para trabalhar ou, no caso das meninas, para se dedicar a uma gravidez precoce. Para agravar o problema, o ensino médio brasileiro apresenta índices considerados insuficientes nas avaliações educacionais.
“Historicamente, nosso ensino médio foi direcionado à elite e voltado à preparação para os exames de seleção do nível superior. Ao contrário dos países com boas escolas no mundo, que preparam para a vida, com formação básica para o trabalho”, afirma Rezende Pinto, especialista em política e gestão escolar. “É uma escola muito ruim do ponto de vista de atrair os meninos para o estudo. Física, química e biologia sem laboratório, por exemplo, são um tédio e nada contribuem para a formação científica”.
Além do currículo que não estimula os alunos, um terço das vagas do ensino médio é noturno e os jovens ficam expostos a outros tipos de problemas. “No 1º ano do ensino médio, o desafio se agrava: o jovem já chega atrasado e fica mais vulnerável aos problemas sociais e à violência”, diz a secretária de Educação Básica.
O MEC defende que uma das soluções é o Pacto Nacional pelo Fortalecimento do Ensino Médio, programa de formação de professores que funciona em parceria com as secretarias estaduais. O objetivo, diz Maria Beatriz Luce, é desenvolver um currículo mais interdisciplinar para o ensino médio.
(Do Uol)