Não temos medo, temos projeto!

A maior parte da sociedade recebeu estarrecida o último resultado das pesquisas de intenção de voto. Um presidenciável que traz um pacote que abrange desde o fim da aposentadoria ao ódio generalizado, atinge percentuais nunca antes imaginados nos últimos 30 anos – desde a redemocratização do país. Sentimentos indesejados explodem incontrolavelmente, pelo menos naqueles que sempre lutaram por um Brasil que tenha os pilares da justiça e da igualdade. E essa é uma reação mais do que aceitável diante do caos que pode se instalar. Mas o foco agora é no que ainda é possível fazer. E não é pouca coisa.
Em poucos dias, o povo brasileiro irá às urnas para escolher o próximo presidente do Brasil. Também será eleita a nova composição do Congresso Nacional e das Câmaras legislativas. No jogo do tabuleiro político, intensificam-se as tentativas de xeque-mate, numa manobra trapaceira que utiliza delações mentirosas, censura, notícias falsas; tudo com o respaldo de um Judiciário que há muito tempo deixou de ser justo. E nós, onde estamos nesse jogo?
Querem nos fazer peças menores no tabuleiro; ou até deslegitimar nossa participação no jogo. Alguns tentam inclusive colocar na conta de grupos oprimidos, como o das mulheres, a culpa pelo crescimento do candidato que representa o retrocesso. Foi o que oportunamente se espalhou, após o histórico ato #EleNão (29/9), na mídia privada e sem representatividade e nas vozes de candidatos que, parafraseando o cantor e compositor BNegão, fazem discursos progressistas, mas não passam de reacionários de plantão. Tenhamos em mente e deixemos claro que as chances de o fascismo ganhar raízes são dadas pelo fundamentalismo, a repressão, a concentração de renda; jamais pela luta social. Essa sim é a única capaz de construir trilhos que levem a dias melhores.
Isso quer dizer que ou assistimos cabisbaixos e resignados a destruição de tudo aquilo que conquistamos, ou resistimos e lutamos como, historicamente, sempre fizemos. Mais do que a eleição do principal representante do Executivo federal, está em nossas mãos a garantia da manutenção do 13º salário, das férias, da valorização do salário mínimo, da aposentadoria, do direito à saúde e à educação pública. Está em nossas mãos a possibilidade de continuar ocupando as cadeiras das universidades, de andar de avião, de comprar uma TV ou uma geladeira, de ter energia elétrica e água do Oiapoque ao Chuí. Está em nossas mãos o direito de fazer três refeições ao dia. Definitivamente, está em nossas mãos reanimar a democracia que começou a ter os dias contados em 2016 – com o golpe –, para que possamos avançar em temas como a reforma agrária, a democratização da comunicação, a reforma tributária, a reforma política.
Já vivemos dois anos de desmonte causado por propostas descaradamente interessantes ao capital rentista, que resultaram na soma de 13 milhões de desempregados, na iminente volta do Brasil ao mapa da fome, no sucateamento de serviços públicos essenciais, na entrega das empresas estatais para o capital privado. Não podemos permitir que isso se aprofunde nos próximos quatro anos.
Por isso, mais que nunca, temos que mostrar o nosso protagonismo: ir às ruas, às feiras, às escolas. Deixar clara nossa posição política nas redes sociais, nos lares, na conversa de botequim. Organizar atos, muitos atos. E dizer que não temos medo, temos projeto. Um projeto que jamais será idealizado por um candidato como Bolsonaro. Um projeto histórico que não traz armas; traz de volta ao brasileiro a capacidade de ganhar a batalha da desigualdade e da opressão através projetos sociais já vividos antes por todos nós. Um projeto que não traz tortura; traz a essencialidade da valorização e do respeito aos direitos humanos. Um projeto que não traz a imposição; mas a possibilidade de discutir e construir conjuntamente.
Está em nossas mãos fazer o Brasil feliz de novo!
*Por Rodrigo Rodrigues
*Rodrigo Rodrigues é professor da rede pública de ensino do DF e presidente-interino da CUT Brasília