Miss Universo: 'As pessoas racistas devem procurar ajuda'

Leila Lopes, de 25 anos, não é a primeira negra a receber a faixa de Miss Universo. A primazia coube a Janelle “Penny” Commissiong, de Trinidad e Tobago, vencedora do concurso em 1977. Depois dela vieram Chelsi Smith, dos Estados Unidos, em 1995; Wendy Fitzwilliam, também de Trinidad e Tobago, em 1998, e Mpule Kwelagobe, de Botswana, em 1999. Em 1986, a gaúcha Deise Nunes, que foi a primeira negra a se eleger Miss Brasil, ficou em sexto lugar na classificação geral. Ainda assim a estupidez humana faz com que, vez ou outra, surjam manifestações preconceituosas como a de um site brasileiro que, às vésperas da competição, e se valendo do anonimato de quem o criou, emitiu opiniões do tipo ‘Como alguém consegue achar uma preta bonita? Após receber o título, a mulher mais linda do mundo – que tem o português como língua materna e também fala fluentemente o inglês – disse o que pensa de atitudes como essa e também sobre como sua conquista pode ajudar os necessitados de Angola e de outros países.
Você, que vem de um país devastado por guerra e castigado pela pobreza, pretende usar o seu título para melhorar a vida em Angola?.
Como Miss Angola já tenho feito bastante pelo meu povo. Tenho trabalhado em várias causas sociais, trabalho com crianças desfavorecidas, trabalho na luta contra o VIH-Sida (HIV-Aids), trabalho na proteção para os idosos. Tenho que fazer tudo o que meu país precisa. E, com certeza, penso que o universo inteiro precisa também da minha voz, da minha ajuda. Agora, como Miss Universo, espero poder fazer muito mais ainda.
Há oito meses você não pensava em ser miss, e agora é Miss Universo. Como vê essa mudança?
Eu sempre fui muito envergonhada. As pessoas diziam que eu tinha tudo para ser miss, mas eu dizia “Não vou conseguir, porque tenho vergonha de encarar o público”. Mas quando eu fui viver na Inglaterra – lá a comunidade angolana era bem pequena ainda -, as pessoas começaram a dizer “Vais concorrer a Miss Angola, vais ganhar o Miss Angola e vais ganhar o Miss Universo”. Aí eu fui acreditando. Concorri no Miss Angola Reino Unido e um amigo me disse “Se tu continuares com a mesma postura, tu vais ganhar o Miss Universo”. E eu segui os conselhos dele. E agora estou aqui, sou Miss Universo 2011.
Você fez alguma plástica para chegar ao título?
Graças a Deus nasci assim, não tenho plástica nenhuma.
Aqui no Brasil, nós tivemos manifestações racistas mirando no Miss Universo, questionando a beleza da raça negra. O que você pensa dessas atitudes racistas no Brasil, nos Estados Unidos, na Europa, no mundo de uma maneira geral, contra a raça negra. Você pretende encampar alguma bandeira contra o racismo?
Felizmente, o racismo não me atinge. Acho que as pessoas racistas é que devem procurar ajuda, porque não é normal em pleno século 21 as pessoas ainda pensarem dessa forma. Vejo qualquer forma de preconceito a maior injustiça do ser humano (contra outro ser humano). Devemos todos nos respeitar independentemente da raça, da idade, do sexo e do meio social.
Antes de você vir para cá você já conhecia a cultura do país? Você assistia às novelas brasileiras que passam em Angola?
Adoro o Brasil, já conhecia muito do Brasil bem antes de vir para cá. Eu acompanho as novelas, adoro o Tarcísio Meira, adoro a Glória Pires, adoro a Lília Cabral. (publicado originalmente no jornal  O Globo)