Maior oferta de creches eleva salários e libera 4 milhões de mulheres para o trabalho

Pesquisa inédita da Secretaria de Assuntos Estratégicos mostra que renda familiar cresce de 20% a 25% quando os filhos estão em creches
RIO – Manter filhos nas creches melhora a vida das crianças e das famílias, principalmente no bolso. Pesquisa inédita da Secretaria de Assuntos Estratégicos da Presidência da República comprovou: o salário das mães cresce de R$ 70 a R$ 200, o que representa alta de 20% a 25% na renda familiar. O impacto no emprego feminino é maior: entre as mulheres com filhos na creche, 50% trabalham. Entre as que têm crianças fora da educação infantil, o índice é de 40%. Aumentar o total de creches pode elevar em 3,9 milhões a oferta de mão de obra feminina no mercado de trabalho, num momento em que a falta de pessoal é queixa recorrente. A pesquisa, feita em conjunto com o Banco Mundial e a Universidade College London, acompanhou 1.500 crianças cariocas de 4 e 5 anos: metade conseguiu entrar em creches públicas em 2007 e a outra metade, não.
Seis testes cognitivos aplicados nas crianças mostram o benefício de começar cedo a educação infantil: elas têm mais controle da inibição, vocabulário maior e se acalmam mais facilmente.
“Serão adultos mais preocupados com o bem público, irão melhor na escola, terão maior capacidade de socializar,” diz Ricardo Paes de Barros, subsecretário de Ações Estratégicas.
 Entrada mais cedo na escola
No Rio, onde o estudo tem apoio da Secretaria Municipal de Educação, creches públicas e privadas atendem a 24% das crianças de 0 a 3 anos, taxa superior aos 21,2% da média do país. Na faixa de 4 e 5 anos, são 83%, acima da média, de 78,2%. Mas há demanda reprimida, principalmente na região metropolitana. Neide Ferreira Costa da Silva, moradora de Duque de Caxias (Baixada Fluminense), enfrenta três conduções com a filha Isabella para ir à creche, na Zona Sul do Rio. Ela não conseguiu vaga perto de casa. “Só aceitam depois de dois anos, já desfraldado, e é difícil conseguir entrar.”
Para o economista da Fundação Getulio Vargas (FGV) Aloisio Araujo, que organizou o livro “Aprendizagem infantil — uma abordagem da neurociência, da economia e psicologia cognitiva”, a taxa de 20% de cobertura do Brasil é razoável. Em países desenvolvidos, não ultrapassa 50%, pois não há obrigação de pôr crianças na creche. “É uma forma de transferência de renda, transfere recursos para aumentar a capacidade futura da sociedade”, disse.
De olho nos benefícios, Petrolina (PE) se distanciou da média nacional e inaugura praticamente uma creche por semana. Em três anos, elevou o total de unidades de 23 para 124. Para isso, contrariou os manuais de administração pública e usa dinheiro até das mães para manter os locais.
Desde o início deste ano, os pais têm obrigação de pôr as crianças na escola a partir dos 4 anos. As prefeituras têm até 2016 para oferecer vagas. Até 2012, a entrada obrigatória na escola era aos 6 anos.
“A creche liberou as mulheres para empregos melhores”, avalia Rosane Mendonça, diretora da Subsecretaria de Ações Estratégicas.
No Rio, há 701 espaços de educação infantil, sendo 247 creches que funcionam em horário integral. Em uma delas, em São Cristóvão, está Ana Júlia, de 2 anos:
“O problema é que funciona das 7 às 16h40m e só chego do trabalho perto de 20h”, conta a mãe, Rafaela Cordeiro Araújo, que precisa pagar R$ 250 por mês para uma vizinha buscar sua filha.
Para Hildete de Melo, professora da UFF e especialista na questão de gênero, a pesquisa ajuda a desmistificar a crença de que as creches são prejudiciais à criança: “A creche permite que a mulher trabalhe e socializa a criança.”
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