Ler mais mulheres

Perplexa com a perpetuação da desigualdade de gênero no mercado editorial, em 2014, a escritora e ilustradora britânica Joanna Walsh lançou a campanha #readwomen. Sua proposta era bastante simples, mas impactante: ao escolher sua próxima leitura, por que não priorizar um livro escrito por uma mulher?
Inspirada pela ideia e buscando transformar o projeto em algo mais prático e presencial, a brasileira Juliana Gomes juntou-se às amigas Juliana Leuenroth e Michelle Henriques para idealizar o Leia Mulheres, espécie de clube de leitura cujo princípio é, além de ler mais escritoras mulheres, divulgar escritoras não tão conhecidas, que publicam em editoras menores e gêneros não tão populares entre o grande público.
Com essa proposta, os primeiros clubes de leitura aconteceram em São Paulo e o sucesso foi imediato. Nos meses seguintes, pessoas interessadas começaram a entrar em contato com o projeto para levá-lo para suas cidades. “Hoje, estamos em mais de 45 cidades pelo País, espalhadas em 20 estados. A mediação dos clubes é sempre feita por mulheres e a escolha dos livros é feita pela mediadora”, conta Juliana Leuenroth.
Os clubes acontecem mensalmente e são pautados por discussões sobre o livro e a realidade que ele apresenta. A ideia é que seja uma roda de conversa informal, onde todos fiquem confortáveis para expor suas opiniões. “Como o  Brasil é um País de tamanho continental e não possui livrarias na maioria de suas cidades, precisamos respeitar a peculiaridade de cada região, inclusive de sua literatura, por isso não impomos leituras obrigatórias”, explica Juliana.
Em uma sociedade onde as mulheres continuam lutando contra a invisibilidade e a voz feminina é tantas vezes abafada, a iniciativa de encorajar a leitura de autoras é essencial. “Mary Shelley, Agatha Christie, Jane Austen escreviam universalmente e sempre foram questionadas por serem mulheres. Clarice Lispector só agora está sendo descoberta fora do Brasil e outras autoras como Maria Firmino dos Reis, Pagu e Maria de Lourdes Teixeira estão no limbo sem edições recentes de seus livros mais famosos e isso é preocupante”, diz Juliana.
De acordo com a pesquisa Retratos da Leitura, do Instituto Pró Livro, 59% dos leitores são mulheres, um contraponto à quantidade de autores sendo publicados atualmente. Além disso, a maioria dos entrevistados citou uma mulher – mãe, irmã, professora – como a pessoa encorajadora para leitura, o que revela a necessidade de representatividade feminina na literatura.
“Não acreditamos no termo ‘literatura feminina’ e sim literatura escrita por mulheres, já que não existe uma ‘literatura masculina’. Além disso, ao classificar como “literatura feminina”, a autoria feminina é desvalorizada, colocada como algo menor, enquanto livros escritos por homens são considerados como experiências e sentimentos universais”, explica Juliana.
Abaixo, as coordenadoras do projeto indicam 5 livros escritos por mulheres que todos deveriam ler:
Frankenstein, da Mary Shelley: Livro pioneiro da ficção científica. Aborda assuntos pertinentes até hoje sobre ética.
Redoma de Vidro, da Sylvia Plath: Livro semi autobiográfico que trata da depressão e da falta de conhecimento acerca da doença.
Persépolis, da Marjane Satrapi: História em quadrinhos autobiográfica baseada na experiência da autora com o sistema político opressivo iraniano.  Fala sobre crescer, ser imigrante, se sentir estrangeira em seu próprio país e sobre a situação da mulher iraniana.
Quarto de despejo, da Maria Carolina de Jesus: Relato pungente sobre a vida de uma catadora de lixo, suas ambições, sonhos e como a realidade a oprime.
Nada a dizer, da Elvira Vigna: Elvira é uma das grandes representantes da literatura contemporânea e esse livro trata da visão de uma mulher sobre seu relacionamento abalado por conta de uma traição.
(da Carta Educação)