Juros, metas e demissões enchem cofres dos bancos

Crescimento de 24,6% nos nove primeiros meses do ano. Esse é o resultado apontado pelo aumento do lucro dos três maiores bancos privados do país – Bradesco, Itaú e Santander – que atingiu o patamar de R$ 30,5 bilhões. Se levado em conta somente o terceiro trimestre, a soma foi R$ 10,9 bilhões, valor 27,7% maior se comparado a igual período de 2013.
Itaú, o maior, alcançou R$ 5,5 bilhões no terceiro trimestre deste ano (leia mais), alta de 9,7% frente ao trimestre anterior e de 35,7% sobre o mesmo período de 2013. Bradesco ficou em R$ 3,95 bi (leia mais) e Santander, R$ 1,464 bilhão (leia mais).
“Os bancos têm uma rentabilidade mais alta que os outros setores, em especial nesse momento econômico. E no Brasil, as empresas têm uma cultura de margem de lucro muito alta, maior que a média dos outros países, o que acaba encarecendo os produtos para a população. Nos bancos não é diferente”, diz a presidenta do Sindicato dos Bancários de São Paulo, Osasco e Região, Juvandia Moreira.
Por trás das grandes cifras, uma sociedade com dificuldade de acesso ao crédito nessas instituições, juros altos, tarifas abusivas diante de um comércio desatinado de produtos, trabalhadores sujeitos a demissões e muita sobrecarga de trabalho.
“Como não aceitam reduzir lucros, seja em que cenário for, esses bancos mantêm uma mesma tendência: passaram a fazer o que chamam de ‘ajustes’, desempregando pais e mães de família e tornando a rotina dos bancários que ficam um verdadeiro inferno. Também penalizam o desenvolvimento do país, com juros altos. Cada vez menos exercem a função social de fomentar o investimento produtivo e são, cada vez mais, grandes lojas em que produtos são empurrados aos clientes, por trabalhadores pressionados e massacrados pelas metas”, critica Juvandia.
O analista Luiz Miguel Santacreu, da Austin Asis, reforça. “Os bancos são verdadeiros supermercados de produtos. Se o crédito cresce menos, eles compensam a receita com outros produtos, como cartão de crédito e seguros. E também conseguem repassar a alta da Selic ao cliente”, disse em entrevista ao jornal O Globo.
Além disso, os bancos lucraram muito com o aumento da taxa básica de juro, a Selic, por meio dos resultados em tesouraria.
Nos nove primeiros meses do ano, os três bancos privados somaram juntos R$ 62,5 bilhões com essa receita, expansão de 26,6% ante o mesmo período de 2013. “Já passou da hora de o país debater que sistema financeiro queremos para que nosso desenvolvimento possa ser acelerado. Só um setor ganhar é que não dá mais. O Brasil tem de crescer para todos e os bancos têm de contribuir com isso, reduzindo taxas, contratando bancários para melhorar as condições de trabalho e prestar um melhor atendimento e serviços de qualidade aos clientes”, completa Juvandia.
Públicos – O lucro do Banco do Brasil chegou a R$ 8,3 bi nos nove primeiros meses do ano (leia mais), 5% superior ao mesmo período de 2013. Foram fechados 749 postos de trabalho em doze meses e o Sindicato está cobrando mais empregos. A Campanha 2014 conquistou a contratação de pelo menos mais 2 mil bancários, sendo mil até dezembro deste ano e os demais ao longo de 2015.
“Assim como as outras instituições, somente a receita de tarifas do BB cobre com folgas a folha de pagamento. Uma mostra de que todas elas podem contratar mais bancários”, completa Juvandia.
O balanço da Caixa Federal ainda não foi divulgado.