Grupo deseja dar nome de ex-professor ao CEF 1 do Paranoá
Quando era só barro, Nelsinho esteve lá. Naquela época, os anos 1980, o Paranoá não era sequer uma vila, estava mais para favela. Se faltava estrutura à cidade, que dirá à única escola até então. Diante de um cenário desfavorável, o professor Nelson Ramos Filho, instrutor de Educação Artística, mas, para vários alunos, mentor de cidadania, fez nascer o pensamento crítico. Devido à importância da contribuição do educador, um grupo se mobiliza para que o Centro de Ensino Fundamental (CEF) 1 do Paranoá receba o nome do professor.
“É impressionante como ele tinha uma visão muito revolucionária de educação pela arte”, relembra-se Luciana Holanda, de 44 anos. Hoje pedagoga, ela teve aulas com Nelsinho da quinta à oitava série e garante ter sido marcante. “Uma vez fizemos um musical que tratava de racismo, e o assunto nem estava em evidência. Ele também falava de coleta seletiva, reciclagem”, relata.
Nelson morreu em 2011 aos 63 anos, vítima de câncer, em Búzios (RJ). Era natural de Santos (SP), e chegou a Brasília após passar em um concurso da Fundação Educacional, em 1982. Ele se mudou para o Rio no fim dos anos 1990 para abrir um restaurante e viver tranquilamente. Alguns estudantes mantiveram contato e espalharam vídeos pela internet com lições do professor.
Parte da história
Um grupo em rede social com mais de cem pessoas quer que o CEF 1 do Paranoá seja conhecido pelo nome de Nelson Ramos Filho. “Ele não foi um simples professor. Foi parte da luta pela fixação do Paranoá como região administrativa”, justifica a ex-aluna Luciana.
E, de fato, se Nelsinho tivesse sido apenas um professor bondoso para um punhado de estudantes, seria até estranho criar uma comoção para cravar seu nome na história da comunidade. O diferencial foi a maneira como ele fez crianças e adolescentes pensarem de forma cidadã. Uma de suas iniciativas marcantes foi o “Alô, Alô, Paranoá”, peça montada baseada nas conversas de telefone da comunidade.
Nelson instruiu seus alunos que passassem o dia anotando o que era dito em relação a problemas da cidade no único orelhão do Paranoá. Com o que foi coletado, eles fizeram a peça expondo as mazelas. Essas e outras ações, sempre de cunho reivindicatório, misturavam arte, educação e crítica social.
Alicerce
O Paranoá foi oficializado como região administrativa em 1964, mas só teve sua área delimitada e seu assentamento definido em 25 de outubro de 1989. Para os ex-alunos, a atuação do professor Nelson na educação da cidade foi um dos alicerces do processo de composição do atual Paranoá.
Nelson chegou a ter um restaurante na beira do Lago Paranoá chamado Quintal, no Lago Norte. Ele tocou o negócio até 1997, quando se mudou para Búzios, no Rio de Janeiro, e continuou o “Quintal” na cidade fluminense.