Golpe no Brasil teve participação dos EUA e do capital internacional, diz Amorim

O Brasil teve um grande destaque internacional durante o governo do ex-presidente Lula, seja em termos econômicos, seja em importância geopolítica, e isto incomodou o grande capital internacional que ainda via o país, assim como os demais países da América Latina, como o seu quintal. Por isso, os Estados Unidos e o capital internacional se uniram à elite retrógrada que compõe parte da mídia e do Poder Judiciário brasileiro, para dar o golpe de estado que depôs uma presidenta eleita democraticamente com 54 milhões de votos.
Esta foi a avaliação que Celso Amorim, ex-ministro das Relações Exteriores dos governos Lula e Dilma Rousseff, fez durante a sua palestra na reunião da Direção Nacional da CUT, nesta terça-feira (28), em Brasília.
Na mesa formada pelo Secretário-Geral da CUT, Sérgio Nobre, e pela Secretária-Geral Adjunta, Maria Aparecida Faria, o ex-ministro discorreu sobre o futuro do país, a partir das próximas eleições presidenciais; o panorama político e econômico que o Brasil viveu durante o governo Lula com a formação das alianças econômicas e políticas internacionais no continente Latino Americano e a criação do Brics – grupo de países de economias emergentes formado por Brasil, Índia, China, Rússia e África do Sul – e o golpe de 2016.
O golpe
Segundo Celso Amorim, o início do golpe de 2016 se deu com a classe média retrógrada, que criticava o fato de sua empregada doméstica estudar e ver os filhos dela na universidade concorrendo com seus próprios filhos, e os ataques diuturnos da mídia, especialmente a TV Globo, com críticas e inverdades sobre os governos do PT.
“A classe média não teve seus privilégios retirados, mas viu os que vieram de baixo ganhar mais. Todo esse conjunto, essa ojeriza da elite em diminuir as desigualdades, esse sentimento de ‘viralatice’ de pessoas medíocres do ponto de vista mental, como os banqueiros, que nunca se formaram em sociologia e filosofia , não se se conformaram com o fato de Lula ter diminuído de forma consistente a desigualdade no Brasil”, afirmou Amorim
Ele prosseguiu dizendo que Lula decidiu que quem tomaria conta do pré-sal e das nossas reservas naturais seria o próprio Brasil, com a Petrobras deixando de ser apenas uma empresa produtora de petróleo, mas se tornando uma das maiores do mundo.
“Os grandes comandantes do capital financeiro, das organizações de inteligência de Washington (capital dos EUA), os militares norte-americanos, setores do Pentágono se assustaram com isso. E do ponto de vista estratégico (fui ministro da Defesa também), se houver uma grande guerra, deter as reservas de energia é fundamental”, avaliou o ex-ministro de Lula e Dilma.
Assim, segundo Amorim, a elite, a mídia e parte do Judiciário se aliaram ao plano dos Estados Unidos e do grande capital internacional, interessados no pré-sal e nas reservas naturais do país.
Celso Amorim disse ainda que há evidências concretas da participação de parte do Judiciário brasileiro no golpe já que um o subprocurador geral dos Estados Unidos disse que é importante os setores de Justiça brasileiros cooperarem com os Estados Unidos no combate à corrupção.
Segundo o ex-ministro, em 1964, ano do golpe militar no Brasil, o poder era dos militares no mundo. Hoje, eles não têm tanta influência, mas atualmente o que se vê é o uso da área jurídica no combate à corrupção como forma de mudar governos, e o instrumento utilizado aqui no golpe de 2016 foi exatamente o mesmo.
O ex-ministro das Relações Exteriores disse que está preocupado com a crise institucional do país; que a próxima eleição é momento em que ou se consolida a democracia no Brasil ou teremos um longo período de obscurantismo.
“O fascista lá fora é nacionalista, defende o próprio país, aqui o fascista é entreguista”.
Eleição sem Lula é Fraude  
Celso Amorim disse estar confiante que o PT volte a governar o país, mas que para isso é preciso trabalhar junto as áreas de educação, nas comunidades e  sindicatos de forma hegemônica.
“O chão de fábrica não tem mais a força como era na época de Lula. Temos de imaginar outras formas de organizar a classe trabalhadora, os despossuídos, os beneficiados com o Bolsa Família, com financiamentos e os cotistas das universidades. É preciso mobilização e isto está faltando”, alertou Amorim que completou “ não podemos dissociar os interesses internacionais das disputas internas”.
Para Amorim, é preciso garantir o nome de Lula nas urnas e não na cadeia.
“Temos visto esse movimento internacional em defesa de Lula, e isso inclui ex-  chefes de governo europeus, latinos, intelectuais do mundo inteiro e até cineastas no Manifesto ‘Eleição Sem Lula é Fraude’. Conseguimos que o Papa Francisco – mesmo sem ter mencionado o Brasil – demonstrasse preocupação com o que acontece aqui”, declarou.
Para ele, a decisão do Comitê de Direitos Humanos da ONU, que insta o Brasil a tomar as medidas necessárias para que Lula tenha seus direitos políticos garantidos tem enorme força internacional e os ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) sabem disso.
“Vários ministros já disseram que a norma do Direito internacional tem de ser seguida. A grande mídia tentou desmerecer o Comitê de Direitos Humanos, mas não cumprir essa decisão é uma violação muito séria do Tratado Internacional, e um país que não cumpre, não tem credibilidade. Ou o Brasil vai continuar civilizado ou seremos um Estado pária, falido”.
Já o Secretário-Geral da CUT, Sérgio Nobre, lembrou ao final da palestra de Amorim que a CUT resiste ao golpe, ajudando na campanha internacional por Lula Livre e sempre dizendo às delegações internacionais que visitam a Central que a prisão de Lula é injusta e que eles precisam acompanhar as eleições brasileiras, em outubro deste ano.
E Celso Amorim completou: “o Brasil provavelmente é o único grande país do mundo que tem uma prisão em Curitiba que é mais visitada que a personalidade política do palácio presidencial”.