Por um futuro melhor

Voluntários dão aulas em pré-vestibular para alunos carentes
Um dia por semana, a diplomata Adriana Telles, de 31 anos, troca o Itamaraty pela Paróquia Santo Antônio, na 911/912 Sul. Sua missão não poderia ser mais importante: assumir o papel de professora voluntária no pré-vestibular da Organização Não Governamental Educafro – Educação e Cidadania para Afrodescendentes. O resultado dessa iniciativa são alunos que saem de bairros carentes e são projetados na direção de um futuro melhor.

Atualmente, passar por um cursinho pré-vestibular parece uma etapa obrigatória para quem pleiteia uma vaga nas universidades públicas. Mas, esse privilégio, em sua maioria, é reservado aos alunos de escolas particulares. “Por isso, pensamos em um pré-vestibular gratuito para jovens carentes e afrodescendentes, para que eles possam garantir um espaço no mercado de trabalho”, justifica o coordenador-geral da Educafro–Brasília, Fernando Benício.

Além de Adriana, outros professores voluntários de alto padrão de ensino ocupam as noites dos alunos que frequentam o pré-vestibular. “Vejo uma grande melhora dos alunos que estão em contato com o curso”, afirma Adriana. “Como outras matérias também exigem leitura, eles acabam evoluindo não só pela minha disciplina, mas devido a um trabalho conjunto”, completa.

A ONG, presente em outros quatro estados, possui dois núcleos em Brasília. Um fica no Setor P Norte, em Ceilândia, e o outro está instalado na Paróquia Santo Antonio, na 911/912 Sul. Apesar de não ter nenhum vínculo religioso, o espaço foi cedido pela igreja para que os alunos pudessem ser bem abrigados.

O custo para quem quer aprender é praticamente nulo. A matrícula custa apenas R$ 15 e a mensalidade R$ 25, para ajudar na comprar das apostilas (com todas as matérias de um vestibular convencional). As aulas seguem um padrão rígido e ocorrem de segunda a sexta-feira, de 19h10 às 22h30h. Quem não pode pagar, tem outra alternativa. “A gente não trabalha com paternalismo. Eles podem fazer uma rifa, por exemplo”, afirma o coordenador da ONG. “Queremos que o aluno se torne um cidadão, não um coitadinho”, acrescenta.

O coordenador explica que o pré-vestibular serve de trampolim para os melhores. Vários ex-alunos conseguiram vagas em faculdades particulares, na Universidade de Brasília e em bolsas espalhadas pelo mundo. “Temos quatro jovens de Brasília que ganharam bolsas pela ONG e cursam Medicina em Cuba e na Venezuela”, orgulha-se Fernando.

O exemplo de Elizete Carvalho, ex-aluna do pré-vestibular e caloura da UnB, não é raro na trajetória de quem passou pela Educafro. A jovem, de apenas 22 anos, estudou um semestre e foi aprovada no curso Terapia Ocupacional, pelo último vestibular do campus de Ceilândia.

Hoje, tanto Elizete quanto sua irmã (bolsista no curso de psicologia da Universidade Católica) são voluntárias da ONG. “Quis aprender o máximo que eu podia. E quando atingi meu objetivo, voltei para ajudar a comunidade”. E recruta. “A Educafro pede ajuda e convida voluntários que quiserem abraçar essa iniciativa”.