Falta de professores em disciplinas básicas pode comprometer ensino

Para preencher a grade dos alunos, as escolas têm de fazer adaptações. E isso acontece principalmente nas disciplinas de exatas.
São formas novas de procurar emprego, mas o começo é bem tradicional: na escola. Mas faltam professores de disciplinas elementares, em todo o Brasil.
Para preencher a grade dos alunos, as escolas têm de fazer adaptações. E isso acontece principalmente nas disciplinas de exatas. Imagine aprender química ou física com um professor que não é formado na área.
Pois essa é uma situação comum pelo Brasil. E uma séria ameaça para o futuro de um país que quer ser desenvolvido. O Bom Dia Brasil ouviu especialistas, professores e alunos.
“A gente fica sem estudar. Vai embora para casa, fica sem estudar”, lamenta um aluno. “Desde o começo do ano não estou tendo aula. Ontem foi a reunião de pais. Na folhinha não apareceu nada de química”, afirma Jéssica Teixeira de Oliveira. “Eles falam que vai chegar professor e nunca chega. Não tive nenhum dia de aula de química”, conta Ildiane Souza Santos.
E imagine aprender química ou física com um professor que não é formado na disciplina. Pois essa é uma situação comum no país. Segundo o Governo Federal, na educação básica, dos quase 60 mil professores que dão aulas de física, nem 10 mil são formados. Dos 53 mil que lecionam química menos de 15 mil têm diploma na matéria. O aluno sai perdendo.
“Em 1º lugar, ele não está tendo a aula que ele deveria receber por um profissional bem formado. O 2º grave problema: a química não é ensinada adequadamente no Ensino Médio. O que a gente observa é que ela é ensinada do ponto de vista de uma lousa como uma ciência experimental, em um quadro negro, em uma lousa. Portanto, ela não desperta a motivação na aprendizagem pelo assunto”, explica Mozart Neves Ramos, consultor do movimento ‘Todos pela educação’.
Em turma de química da USP, o professor aplicou um questionário para saber, entre outras coisas, o que os alunos pretendem fazer depois que se formarem. Dos 30 estudantes, apenas oito disseram que querem se tornar professores.
“O professor ganha por hora, trabalha em duas, três escolas para compor um salário e ele trabalha demais, o dia todo. Então isso eu acho que afasta demais o interesse dos alunos em seguir nessa carreira”, explica Flávio Antonio Maximiniano, professor de Química da USP.
“Eu tenho vontade de ser professora, eu gosto muito de dar aula, de ensinar, de lidar com crianças. Mas como eu sei que as condições hoje não são boas, infelizmente eu sei que o meu futuro talvez não fosse do jeito que eu gostaria, começando como professora”, lamenta a estudante de Química Flávia Caetano.
Segundo o movimento “Todos pela educação”, cerca de 44% dos professores de química no Ensino Médio, além de não terem formação específica, não são formados nem mesmo em áreas de exatas, como física, ou matemática.
 
Para o Sindicato dos professores no Distrito Federal essa situação (a falta de interesse pela profissão relatada na reportagem do programa “Bom Dia Brasil”) só vai mudar quando nossos governantes colocarem em prática seus discursos de melhorar a qualidade da Educação no país. Essa melhoria passa, necessariamente, pela valorização dos/as professores/as, com sólidos investimentos em formação, com salário no mesmo patamar de outras profissões com mesmo nível de formação e Plano de Carreira com perspectivas de crescimento e desenvolvimento. Lembramos que, ao adotar essas medidas, a Finlândia alcançou o 3º lugar no ranking do Pisa (Programa Internacional de Avaliação de Alunos) 2009, aplicado em 65 países pela Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico. No nosso país, a mudança deve começar pela aprovação imediata do Plano Nacional de Educação (PNE), com o percentual de 10% do PIB para investimentos em Educação, isso, é claro, com a retirada do recurso governamental que posterga a votação desse projeto no Congresso Nacional.
(Matéria do Programa jornalístico da Rede Globo Bom Dia Brasil com comentário do Sinpro-DF)