EUA reconhecem o golpe de Estado e veta adesão do Brasil à OCDE

Até o governo Donald Trump, dos EUA, reconheceu que o Brasil vive um golpe de Estado sem respaldo da população e, por causa disso, vetou a adesão do país à Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE). Ao excluir o Brasil, o governo Trump anunciou sua preferência pela adesão da Argentina e justificou a decisão, alegando que existia “respaldo eleitoral” em Buenos Aires pelas reformas que Maurício Macri estaria realizando e que essa não seria a realidade do Brasil.
‘Para o governo ilegítimo de Michel Temer, essa é uma derrota internacional. Afinal, apesar de apoiar o golpe, os EUA se recusam a legitimar as reformas já realizadas, que não contam com o apoio da população, e as que estão por realizar, como a reforma da Previdência, prevista para ser votada, e aprovada, no Congresso Nacional, na mesma semana em que o Tribunal Superior Eleitoral anunciar os resultados da eleição geral de outubro deste ano”, analisa Cláudio Antunes, diretor do Sinpro-DF.
No entendimento do diretor, o Poder Judiciário está forçando uma barra para criar, mesmo que seja fictício, o denominado “respaldo eleitoral”. “O papel deplorável que parte do Poder Judiciário está fazendo é o de inviabilizar a candidatura de Lula com uma prisão forçada, sem comprovação de crime, para que o povo não tenha nenhuma alternativa de projeto político-econômico, a não ser o dos partidos, dos políticos e do empresariado neoliberal”.
Para ele, “essa foi a forma que o Poder Judiciário e a elite brasileira e estrangeira encontraram para impedir a eleição de Lula, ou seja, a eleição do projeto de desenvolvimento democrático-popular. Um projeto que lidera todas as pesquisas de intenção de voto até hoje”. A decisão foi anunciada ao governo brasileiro no fim de março, durante encontros de representantes da Casa Civil com Landon Loomis, assessor especial para o hemisfério ocidental e economia global do vice-presidente norte-americano, Mike Pence.
De acordo com a imprensa, nos últimos seis meses, o governo brasileiro realizou uma série de encontros com a cúpula da OCDE para viabilizar a entrada no organismo internacional considerado “o clube dos países desenvolvidos”. Mas, ainda que a secretaria da entidade seja favorável à chegada do Brasil, o voto norte-americano tem impedido o ingresso do país. Em janeiro, em Davos, Temer aproveitou reuniões bilaterais para convencer o secretário-geral da OCDE, Angel Gurria. Mas o diplomata sugeriu a presidente ilegítimo que se aproximasse de membros da administração norte-americana para convencê-los dos pontos positivos da adesão do Brasil.
E foi isso que Temer fez. Nos dias 26 e 27 de março, o representante da Casa Civil, Marcelo Guaranys, foi para Washington a fim de participar de encontro sobre o tema, cujo teor foi colocado em telegrama da chancelaria de 3 de abril. Para o governo, era importante que o processo de adesão do Brasil à OCDE fosse iniciado ainda sob a gestão do presidente Michel Temer. Um dos efeitos explicados aos americanos, segundo o telegrama obtido pelo Estado, seria a capacidade de o processo na OCDE consolidar o andamento das reformas regulatórias promovidas por Temer.
A resposta da Casa Branca não foi positiva. Num dos documentos, a diplomacia nacional indica que Loomis teria elogiado o “processo de reformas atualmente implementado pelo Brasil”. Mas indicou que, “na visão norte-americana, a OCDE deveria aceitar poucos países por vez, levando em consideração pedidos de diferentes regiões”. Os pontos da política doméstica pesaram. “Faltaria no Brasil consenso claro sobre as reformas, especialmente por meio de respaldo eleitoral – algo que pôde ser verificado na Argentina nas últimas eleições presidenciais e legislativas”, destacou o texto. Segundo o documento, Loomis indicou que a Argentina estaria um passo adiante.