Diário de uma ocupação nº 12 – alunos e professores lutando juntos

Quando pensamos na ocupação após a greve instaurada pelos professores da UFMG no dia 16 de novembro de 2016, pensamos em uma coisa: Como integrar os professores neste movimento que já dura um pouco mais de três semanas? Até então, alguns professores eram apenas apoiadores ou davam “aulões”/palestras e acompanhavam a programação esporadicamente. Toda esta luta é deles também, mas o movimento de ocupação é um símbolo estudantil. Não temos nos professores, mentores deste processo. E dificilmente a ocupação efetiva: dormir e ajudar nas obrigações diárias vai passar por eles como algo natural. Talvez com a greve deles, os que ainda não vieram acompanhar a ocupação venham, mesmo os que são contra, pois desta vez não somos nós que estamos “atrapalhando” alguns deles a dar aula. Foi uma decisão da maioria deles, cujo sindicato APUBH ratificou. Mesmo que o STF não respeite o Artigo 9º da Constituição Federal de 1988 que dá direito a eles de greve.
Uma das maiores questões sobre as ocupações que vimos em debate foi o direito de ir e vir. Direito esse que a Constituição Federal fala que o Brasil, como país soberano não pode manter em seu território seus cidadãos presos, sem justificativa plausível. Todos têm direito a entrar numa ocupação e de permanecer até determinado horário por segurança. Isso já era algo que vem desde antes da ocupação, os estudantes na maior parte dos casos tinham seu acesso barrado em determinados horários e dias. No IGC mesmo, nos fins de semana e feriados só entravam estudantes com autorização e nos dias normais de aula, durante a madrugada, os estudantes eram proibidos de permanecerem nos prédios. O direito de ir e vir então é devidamente respeitado, o que questionamos é a manutenção de atividades de trabalho e de aulas dentro do espaço ocupado, pois foge ao caráter de estar ocupado, salvo exceções pontuais, que são discutidos entre os pares. A maioria das ocupações são assim, pelo menos as que esta comissão visitou, na UFMG.  
É importante ressaltar que nós ocupantes nunca fomos contra a existência de aulas no processo pedagógico, ou que não as achamos necessárias, pelo contrário, estamos colocando o conteúdo ministrado pelos nossos excelentes professores em prática, Estamos indo além de estudar os movimentos sociais e a revolta da população, estamos observando a concepção de espaço e lugar tão debatidas nas classes do curso do IGC e em outros pela universidade se tornarem reais diante do nossos olhos, estamos realizando pesquisas, ouvindo oradores muitos capacitados virem falar conosco sobre diversos temas, estamos realizando investigações científicas, adquirindo uma quantidade expressiva de conhecimento, todos isso não porque temos uma prova na terça, um seminários na quarta e um trabalho em grupo para quinta, estamos fazendo isso por acreditar na importância do conhecimento que os (as) professores (as) nos expuseram, na importância do pensamento crítico e para que outros jovens tenham a oportunidade de assistir às suas aulas como nós. Estamos lutando por nós e pelos professores (as) , estamos lutando por seus filhos e por nosso vizinhos, estamos lutando pelas pessoas que são manipuladas pela mídia e acreditam que nós somos os vilões e que o presidente que eles acreditam ser legítimos só esteja fazendo o que é melhor para a população.
Por esses motivos convidamos aos professores (as) serem mais ativos nas nossas ocupações, ressaltando que este é movimento estudantil. Porém acreditamos que um trabalho em conjunto, pode trazer muito mais benefícios para todos, a inserção dos (as) professores (as) na luta é de grande importância, entretanto  nos parece necessário que os movimentos dos docentes e discentes, contra as medidas que irão prejudicar a população, devem se unir sem comprometer as características individuais de cada movimento.
É importante que todos compreendam que não devemos nos fechar. Acreditamos que toda ajuda é bem vinda, e escutar os (as) professores (as), mesmo aqueles que são contra a ocupação, é primordial. Somos estudantes e ainda estamos aprendendo a sermos cidadãos melhores, estudamos e filtramos informações que estão nos tornando cada vez mais adaptados às necessidades do momento atual. Precisamos de mais de nossos colegas, mestres, famílias e amigos ao nosso lado. Agora que a greve dos professores saiu, podemos ter mais liberdade de ação.  
Vamos manter a luta, vamos trazer mais pessoas para o nosso lado. Nenhum direito a menos.
(da Carta Maior)