Desrespeito aos eleitores e às mulheres

É no mínimo constrangedor para qualquer mulher assistir ao vídeo que circula no You Tube em que, numa entrevista coletiva, Weslian Roriz responde a uma pergunta com a resposta ditada por Roriz , que está ao lado (“meu marido é quem sabe responder”).
Para o movimento feminista, que tem como bandeira a ampliação da participação da mulher na política, não pode haver pior exemplo de submissão machista que aceitar representar um papel de candidata apenas porque o “marido mandou”. “Consideramos isso um desrespeito à luta de mulheres que militam na política, afirma Eliceuda França, coordenadora da Secretaria de Mulheres do Sinpro. Mulheres que normalmente disputam cargos eletivos depois de mostrarem seu engajamento em causas sociais, sindicais ou solidárias. Mulheres que têm dupla, tripla jornada de trabalho, pois sua atuação na política não é facilitada por politicas públicas. Essas mulheres, que sacrificam família e ideais pessoais para lutar pelo bem comum, não mereciam ver essa farsa acontecer às vésperas de uma eleição em que temos a satisfação de ver duas mulheres disputando a Presidência da República, e um número recorde de candidatas a todos os cargos eletivos.
Para que continuemos avançar rumo ao nosso lugar na política, temos que combater qualquer tipo de oportunismo. Lugar de mulher é na política, sim, mas não como laranjas e sim com outras mulheres e homens, nas ruas e praças, defendendo o fim das discriminaçãoes, na luta por uma sociedade mais justa, onde a atuação política de todos os cidadãos é fortalecida e incentivada.

Confira abaixo a nota divulgada pela CUT sobre o mesmo assunto

Na madrugada do último dia 24, a exatos nove dias do pleito eleitoral, terminou em empate o julgamento do Supremo Tribunal Federal (STF) que apreciava o Recurso Extraordinário (RE) do candidato do PSC ao Governo do Distrito Federal, Joaquim Roriz. O RE solicitava revisão da decisão do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), que havia negado, por seis votos a um, o registro de sua candidatura, com base na Lei da Ficha Limpa. Decepção para os brasilienses e para todos os brasileiros, já que, além de definir um impasse na eleição local, o resultado da votação no STF definiria também a aplicabilidade ou não da Lei da Ficha Limpa já em 2010.
Diante do resultado e da incerteza de seus desdobramentos antes ou depois do dia três de outubro, a Coligação Esperança Renovada, que é formada pelos partidos PP, PR, DEM, PSDC, PRTB, PMN, PSDB e PT do B, além do PSC de Roriz, foi célere em achar uma solução que garantisse a manutenção de sua candidatura majoritária. No mesmo dia a coligação anunciou a substituição do candidato por sua esposa, Weslian. Segundo o Ministro Lewandowski, do STF, esta atitude é “mais uma renúncia no currículo” de Roriz, que renunciou ao seu mandato no Senado em 2007 para evitar a cassação eminente.
Esta nova renúncia, na verdade, é apenas mais uma manobra na tentativa de enganar a opinião pública. Tanto é que, no novo programa televisivo da Coligação Esperança Renovada a narração continua inalterada: vote Roriz. A candidata substituta aparece ao lado do marido em eventos da campanha e seu nome aparece escrito ao final da propaganda, sem, no entanto, ser citado na narração. É fácil concluir que a grande maioria dos eleitores não saberá, por esta via, que Joaquim Roriz deixou de ser candidato. E como seu nome e sua foto não podem mais ser substituídos na urna, também é possível crer que muitos eleitores darão seu voto à Weslian achando que serão governados por Joaquim.
Trapaças à parte, a candidatura da Sra. Weslian Roriz, cuja trajetória política pregressa resume-se ao fato de ser esposa de Joaquim, nos remete a um antigo problema da política nacional: o patrimonialismo. A prática de apropriar-se do que é público e transferir poder através de relações hereditárias. Joaquim Roriz já até anunciou que, mesmo não sendo Governador, pretende “ajudar” sua esposa a governar.
No dia 18 de setembro, a Central Única dos Trabalhadores no DF (CUT-DF) e seus Sindicatos Filiados realizaram uma marcha, na cidade de Taguatinga, pela ampliação da participação política das mulheres. Durante a caminhada, pediram à população que vote em mulheres, para aumentar sua representação nos espaços de poder institucional e, consequentemente, ampliar e fortalecer as políticas para mulheres. Denunciou-se o não cumprimento das cotas de gênero pelos partidos políticos e as barreiras históricas e econômicas enfrentadas pelas mulheres candidatas. Criticou-se também uma prática que vem sendo utilizada pelos partidos para burlar a Lei das Cotas: a inscrição de candidatas sem nenhuma densidade eleitoral, que não disputam espaços reais de poder com os homens.
Ao entrar na disputa na reta final da campanha, com o circo todo armado, estrutura e apoio não serão problema para Weslian Roriz. No entanto, ao aceitar cumprir este papel para que o marido não fosse publicamente derrotado, sua candidatura passa a representar tudo o que as mulheres repudiam: a submissão feminina a práticas e valores machistas, patriarcais e antidemocráticos.
Os trabalhadores e trabalhadoras do Distrito Federal, históricos defensores da democracia e da igualdade, continuarão a lutar pela ampliação da participação política das mulheres e pela libertação de todas as formas de opressão.

Brasília, 27 de setembro de 2010

Maria das Graças Sousa
SECRETÁRIA ESTADUAL DA MULHER TRABALHADORA
CUT-DF