Delegação do Sinpro-DF vai a ato e denuncia ameaças a estudantes em Anápolis

Fotos: Joaquim Dantas
Delegação do Sinpro-DF em ato político, em Anápolis, dia 22/1, contra as OS. Fotos de Joaquim Dantas

Uma delegação do Sindicato dos Professores no Distrito Federal (Sinpro-DF) participou de ato público, em Anápolis, na manhã de sexta-feira (22), contra a privatização das escolas estaduais públicas em Goiás. Estudantes secundaristas promoveram o ato político na Praça Central contra a terceirização (privatização) e em apoio aos (às) estudantes que ocupam sete escolas da cidade.
Os (as) integrantes da delegação do Sinpro-DF aproveitaram a ocasião para visitar uma das escolas ocupadas, a Escola Estadual Herta Layser Odwyer, por estudantes com idades que vão de 13 a 18 anos. “Eles e elas estão sofrendo uma pressão cruel, tanto da sociedade local e lideranças da comunidade como do governo e da própria polícia, para desocuparem as unidades escolares”, informa o diretor de Imprensa do sindicato, Cleber Soares.
Ele lembra que essas e outras ações do governo Perillo contra os (as) estudantes que se manifestam contra a privatização da educação estadual pública lembram a repressão da ditadura militar, no ano de 1969, logo após a edição do Ato Institucional número 5 (AI-5), quando vários (as) estudantes foram presos (as) por motivos absurdos, como, por exemplo, os (as) da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) que foram às ruas de Belo Horizonte para panfletar e se manifestar contra um dos primeiros e nefastos projetos de sucateamento, precarização, mercantilização e, finalmente, privatização da educação pública do Brasil: o Acordo MEC/USAID (Ministério da Educação/United States for International Development) de 1969.
Esse projeto entregava toda a elaboração, organização e ação do sistema educacional brasileiro aos Estados Unidos da América (EUA). Os panfletos distribuídos por estudantes na capital mineira e que denunciavam essa política entreguista foram produzidos, na época, pelos movimentos de esquerda denominados Ação Popular (AP) e Política Operária (Polop), cuja maior parte dos militantes já atuava na clandestinidade por causa da perseguição política desenvolvida pela ditadura e aprofundada com o AI-5.
Quarenta e sete anos depois, estudantes ocupam escolas estaduais em São Paulo e Goiás e professores (as) vãos às ruas da capital do Paraná para impedir que esse projeto privatista prossiga ainda mais feroz, em 2015 e em 2016, executado por políticos brasileiros. E uma das formas encontradas para impedir a privatização do direito social à educação pública e gratuita é a ocupação do estabelecimento educacional. Em São Paulo, no ano passado, os estudantes ocuparam 93 escolas estaduais públicas contra esse mesmo projeto.
Atualmente, no Estado de Goiás há 24 escolas ocupadas. Em Anápolis, sete escolas estaduais sob ocupação, a saber: Colégio Estadual Herta Layser Odwyer, ocupado desde 23/12/2015; Colégio Estadual Polivalente Frei João Batista, ocupado desde 14/12/2015; Colégio Estadual Padre Fernando Gomes de Melo, ocupado desde 16/12/2015; Colégio Estadual José Ludovico de Almeida, ocupado desde 15/12/2015; Colégio Estadual Jad Salomão, ocupado desde 16/12/2015; Colégio Estadual Carlos de Pina, ocupado desde 16/12/2015 e Colégio Estadual Américo Borges de Carvalho, ocupado desde 16/12/2015.
O ato público contou com representantes do Sindicato dos Trabalhadores em Educação do Estado de Goiás (Sintego). O diretor do Sinpro-DF, Francisco de Assis Souza, que participou da delegação, discursou durante o ato, repudiou a imposição das OS para administrar as escolas estaduais e se solidarizou com os (as) estudantes que ocupam as escolas de Anápolis.
Confira aqui a denúncia dos (as) estudantes:

Terrorismo
Para privatizar os serviços públicos, o governo Marconi Perillo, do PSDB, não mede nenhum esforço e aterroriza quem se atreve a impedir essa apropriação indevida dos recursos financeiros e patrimônio públicos. Ele está aterrorizando os estudantes que ocuparam escolas estaduais públicas em Anápolis.
“Na noite desse sábado (24), mandou desligar a luz das escolas ocupadas várias vezes. Os (as) estudantes estão passando um sufoco”, relata a pedagoga-orientadora educacional Centro Interescolar de Línguas do Gama, Célia Rúbia Ferreira, integrante da delegação do Sinpro-DF. Desde as primeiras horas da ocupação, em dezembro de 2015, o governo Perillo tem submetido os (as) estudantes a um clima de terror, com ameaças à integridade física e insuflamento da comunidade contra quem se manifeste e lute contra a apropriação inconstitucional do patrimônio público.
Além da pressão psicológica, da ameaça à integridade física e da insuflação da comunidade anapolina para atacar com pedradas as escolas ocupadas, os(as) professores (as) que participaram da delegação do Sinpro-DF contam que o governador também aciona a mídia diariamente com fartas campanhas publicitárias pagas também pelos cofres públicos para justificar o terrorismo e todas as demais ações inconstitucionais. Confira aqui matéria da Série Privatização da Educação Pública em que o Sinpro-DF desmente o governo Perillo e explica o que são as OS.
Célia Rúbia conta que a categoria docente do DF vem acompanhando os movimentos e as denúncias do Sintego e do movimento estudantil pelas redes sociais e que ela decidiu integrar a delegação do Sinpro-DF para verificar no local a situação. “Após o ato público, a delegação visitou a Escola Estadual Herta Layser Odwyer. Essa escola foi apedrejada pela comunidade para intimidar os (as) ocupantes, a polícia ameaçou prendê-los(as), o diretor da escola ligou para os pais solicitando que impedissem a ocupação. Os (as) estudantes estão necessitando de todo tipo de apoio: desde apoio moral e proteção até ajuda com alimentos”, informa a professora.
Ela diz ainda que o Ministério Público determinou a desocupação, contudo, houve uma reunião na Universidade Estadual de Goiás (UEG) para discutir a situação. “Nessa visita vi que os estudantes estão com a consciência política muito forte. Entendi que é necessário o engajamento de toda comunidade escolar e o aprofundamento do debate para mostrar a todos e todas o que é uma OS e o significado disso”, declara .
Outra integrante da delegação do Sinpro-DF foi a professora da Escola Classe Córrego Barreiro (ECCB), no Gama, Maria do Rosário do Nascimento Ribeiro. Ela conta que o que mais a impressionou foi a coragem, a lucidez e a determinação dos (as) estudantes ocupantes.
“Suas falas revelaram uma compreensão muito clara dos malefícios da transferência da administração da escola para as OS. Além disso, é revoltante ver que estão praticamente sozinhos(as), uma vez que a comunidade escolar ainda não percebeu a gravidade da situação e cedem às ameaças do governo Marconi Perillo. Os (as) estudantes estão sofrendo toda a sorte de pressão, passando por necessidade”, denuncia.
O governador Marconi Perillo, que já entregou, de forma inconstitucional, a saúde pública do Estado de Goiás à iniciativa privada, inicia, este ano, a privatização da educação estadual pública. Ele começa com o repasse da gestão de 23 escolas estaduais situadas na chamada Macrorregião IV, onde pretende privatizar 18 estabelecimentos públicos em Anápolis; um, em Alexânia; um, em Abadiânia; um, em Nerópolis; e dois em Pirenópolis.
Não é por acaso que ele escolheu escolas de municípios ao redor do Distrito Federal. Apesar de o secretário de Estado da Educação (SEE) do Governo do Distrito Federal (GDF), Júlio Gregório, e a subsecretária de Relações do Trabalho e do Terceiro Setor, da Casa Civil, Mari Trindade, terem afirmado, durante a reunião de negociação, realizada no dia 12 de janeiro, que “não faz parte do projeto do governo Rollemberg privatizar ou terceirizar a educação pública”, aqui no DF o governador também se comprometeu com a iniciativa privada de acabar com a escola pública e gratuita.
No dia 31 de dezembro de 2015, ele publicou o decreto que pavimenta o caminho para a transferência da gestão dos serviços públicos que atendem aos direitos sociais às OS e já está sucateando fortemente a saúde para justificar a sua privatização. Confira matéria que denuncia a pretensão de Rollemberg de privatizar a educação pública do DF
Em Goiás, o governador publicou o Aviso de Chamamento Público nº 001/2016, no Diário Oficial do Estado de Goiás, no dia 4 de janeiro, convocando as Organizações Sociais para distribuição 25% (300 escolas) do patrimônio e do dinheiro públicos à OS que ganhar o processo de escolha. Confira aqui matéria da Série Privatização da Educação Pública no site do Sinpro-DF.
Confira, a seguir, vídeos e imagens da ocupação e do ato público. Fotos de Joaquim Dantas.