Debates sobre ciclos de aprendizagem atraem grande público

Auditórios lotados. Nas cadeiras, pais, professores e alunos. Interessados, eles começaram a participar de uma série de conferências públicas realizadas pela Secretaria de Educação para debater com a comunidade os ciclos para o ensino fundamental e a semestralidade para a última etapa da educação básica. A primeira fase dos encontros vai até 19 de novembro. Todas as reuniões serão registradas em atas e entregues a uma equipe da pasta para análise. A partir do resultado, um relatório será gerado com a opinião das pessoas. Se houver reprovação dos métodos adotados no início deste ano, o chefe da secretaria não descarta recuar.
A reorganização curricular causou grande manifestação da sociedade desde o início. Uma ação judicial foi gerada, a pedido da Promotoria de Justiça de Defesa da Educação (Proeduc), para proibir os ciclos e a semestralidade. O maior argumento utilizado foi a falta de debate. Quando assumiu a secretaria, há pouco mais de dois meses, Marcelo Aguiar garantiu que promoveria o diálogo sobre o assunto. “Estou cumprindo um compromisso firmado. Vamos dialogar da forma mais aberta possível. Uma coisa deve ficar bem clara: nenhuma escola será obrigada a aderir a um sistema que não acredita. Elas têm autonomia para se organizar pedagogicamente”, afirmou Aguiar.
As primeiras conferências públicas foram em Ceilândia, no Núcleo Bandeirante, no Gama e no Recanto das Emas. Mãe de dois alunos na rede pública, Eliane Mendonça dos Santos, 37 anos, foi ao Centro de Ensino Médio 03 de Ceilândia, onde um dos debates ocorria, para representar os pais. Ela aprovou a implantação do Bloco Inicial de Alfabetização (BIA), em 2005, mas ainda não consegue entender o 2º e o 3º ciclo (Veja Como funciona). “A proposta é ótima, mas não a vejo dar certo com a estrutura atual das escolas. Faltam um bom laboratório de informática e mais professores. Acaba sendo o mesmo modelo seriado, só que em ciclos”, disse Eliane, que também leciona. Ela foi à conferência com algumas propostas: “Gostaria que uma campanha de conscientização fosse realizada”. A criação de cartilhas com linguagem simples e a ampla abordagem do assunto na mídia seriam as opções, segundo ela.
Quando se trata de semestralidade, o aluno do 3º ano do ensino médio Roger Moura, 18 anos, pode falar com propriedade. Ele percebeu que o número de notas vermelhas diminuiu, após a mudança no ensino. “Com menos matérias por semestre, fica mais fácil amadurecer os conhecimentos”, completa. No entanto, ponderou que sentiu muita dificuldade no vestibular da Universidade de Brasília do meio do ano por não ter aprendido química, por exemplo. “Estamos aqui (na conferência) para acrescentar, com elogios e críticas. O espaço democrático é bom por isso”, concluiu.
Atualmente, 245 das 386 escolas de ensino fundamental adotam os ciclos. No ensino médio, das 86 unidades, 43 aderiram. “Ajustes precisam ser feitos. Temos metas de implantação, atendendo a necessidade de cada unidade. Pretendemos chegar à universalização em 2016, mas vai depender das condições das escolas”, afirmou a subsecretária de Educação Básica, Edileusa Fernandes da Silva.
Como funciona
1º Bloco 
Também conhecido com Bloco Inicial de Alfabetização (BIA), abrange os três primeiros anos da alfabetização. Nesse período, os estudantes não podem ser reprovados. Eles evoluem de acordo com as aptidões adquiridas e, em vez de um ano para serem alfabetizados, têm três para alcançar todas as metas. Começou de forma piloto no DF em 2005 e, em 2008, alcançou a totalidade das escolas. Já é uma política consolidada.
2º Bloco 
Esse ciclo de aprendizagem compreende o 4º e o 5º ano. Não há reprovação entre um ano e outro. São dois anos para aprender o conteúdo de forma continuada. Os alunos passam por avaliação formativa, diagnóstica e processual. Logo, os professores precisam planejar mais as aulas, conhecer as especificidades de cada um para trabalhar de forma individual os pontos fortes e fracos. O aluno só pode ser retido no fim do 5º ano.
3º Bloco 
Abrange estudantes do 6º ao 9º ano, com as mesmas características das séries iniciais. Somente seis escolas iniciaram esta modalidade de forma piloto. A secretaria ainda avalia a possibilidade de implantação.
Semestralidade
Este modelo de reorganização curricular mantém uma base nacional comum de conteúdo. No entanto, difere na organização sobre como ele é ensinado. Os alunos aprendem de forma alternada por semestre. Se estuda história, filosofia, biologia, química e inglês nos primeiros seis meses do ano, por exemplo, vai estudar geografia, sociologia, física, artes, espanhol e educação física no segundo semestre. Português e matemática são mantidos durante todo o ano letivo.

Correio Braziliense