A crise do capitalismo

De um lado, novos conceitos de desenvolvimento, tecnologia, relações de trabalho e novo padrão de consumo. Do outro, aquecimento global e devastação da Amazônia. À primeira vista, esses dois temas parecem não ter relação, mas com o cenário de (pós) crise financeira internacional o debate sobre a temática se tornou inevitável. Foi neste eixo que se pautaram as explanações do segundo dia do 10º Congresso Nacional da CUT (CONCUT). Desta vez, quem compôs a mesa foi a senadora Marina Silva e a professora e doutora Tânia Bacelar, que conduziram a conferência “Desenvolvimento, Soberania e Democracia – perspectivas para a sustentabilidade”.
A crise financeira mundial, que, no Brasil, chegou tarde e já dá sinais de partida, direcionou os olhares para as significativas mudanças que estão em curso. Hoje, o cenário macroeconômico mostra o melhoramento das contas externas, o crescimento da produção brasileira, redução da desigualdade social; itens que continuaram crescendo em meio à crise. De acordo com Tânia Bacelar, a façanha se deu graças ao projeto político desenvolvido pelo presidente Luís Inácio Lula da Silva. “Se essa bolha (a crise) tivesse estourado nos anos 90, o Brasil estaria muito pior do que está hoje”, afirmou Bacelar.
A crise financeira mundial também fez cair o paradigma de modelo dos Estados Unidos da América, berço do capitalismo. O sonho com a utilização desenfreada de máquinas, causando a depredação do meio ambiente em nome da evolução, aos poucos dá lugar ao projeto de desenvolvimento sustentável, ou seja, um projeto que tenha capacidade de atender as necessidades do presente sem comprometer as necessidades futuras.
O processo é lento, mas apresenta resultados. “Hoje, ninguém, nenhum prefeito, tem coragem de dizer para não preservar a Amazônia”, disse Marina Silva. A iniciativa também foi impulsionada pelo projeto político do presidente Lula. Durante seu governo, cerca de 725 pessoas envolvidas em crimes ambientais na Amazônia foram presas.
A senadora também alertou que é necessário que governos, trabalhadores, empresas e a sociedade em geral se empenhem na preservação do meio ambiente, tarefa que tem início com a sustentabilidade política. “A questão é séria”, alertou Marina Silva.
Balanço – Ainda na quarta-feira (5), os 2.461 delegados e delegadas presentes no CONCUT (40% destes mulheres) aprovaram o Regimento Interno do Congresso, debateram sobre a conjuntura nacional e internacional, além de fazerem o balanço da gestão na CUT nos últimos três anos.
Artur Henrique, presidente da Central relembrou que a atuação na CUT neste triênio garantiu conquistas históricas, como a garantia de valorização do salário mínimo, o piso salarial para professores do magistério, a criação de um projeto de lei pela redução da jornada de trabalho, o combate à terceirização, entre outras causas. Artur ainda lembrou que mesmo com a ampliação de outras centrais sindicais, a CUT continua com uma crescente em sua base, prova disso é a representatividade constatada neste CONCUT. “Aqueles que saíram, que dividiram a esquerda, não causaram o impacto que pensariam causar”, afirmou.
Alemanha e Brasil – Com o intuito de estreitar a solidariedade e as relações sindicais internacionais, vários integrantes de movimentos sindicais de outros países, como Canadá, Argentina, Honduras, Espanha, Estados Unidos e vários outros, participaram do CONCUT. Na tarde desta quarta-feira, quem esteve presente foi o vice ministro do Trabalho e dos Assuntos Sociais da Alemanha, Klaus Brandner. O vice ministro reforçou a importância da redução da jornada de trabalho e, principalmente, afirmou que o “trabalhador não pode ser culpado por uma crise que ele não causou”.
Publicações – O 10 CONCUT também marcou a entrada da Central na Frente Nacional contra a criminalização do aborto. Para isso foi realizado um ato público no início da noite desta quarta-feira. O objetivo da Frente é criar um movimento democrático unitário reunindo várias forças para garantir que as centenas de mulheres que são vítimas do aborto todos os dias possam ter autonomia sobre seu corpo.
Em uma atividade contagiante, onde homens e mulheres entoavam gritos de lutas, a secretária de Mulheres da CUT-DF, Rosane Silva, se emocionou ao receber uma homenagem por sua atuação em defesa do reconhecimento do espaço da mulher.
As participantes do CONCUT ainda foram convidados a participar do lançamento oficial da Frente, que acontece nos dias 6 e 7 de dezembro, em São Paulo, quando serão realizados atos em todo o Brasil. Ainda foi solicitado que cada pessoa se responsabilizasse por mobilizar toda a sociedade, com convocações em escolas, locais de trabalho, sindicatos, etc.
Ainda nesta quarta-feira foi lançada a revista “Avançar Rumo a Liberdade, Autonomia e Organização no Local de Trabalho”, uma parceria da CUT com a Confederação Nacional dos Trabalhadores Italianos. Devido ao horário, a publicação da Campanha em Combate ao Trabalho Escravo ficou para a quinta-feira (6).
Com informações do site da CUT