BRICS Sindical reafirma integração por soberania e desenvolvimento sustentável

JoaoFelicio-BRICS
O III Fórum BRICS Sindical que se realiza em Fortaleza reafirma a integração do bloco – formado por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul – como elemento chave para combater a crise internacional e fortalecer a soberania e o desenvolvimento sustentável em cada um destes países.
Para o presidente da CUT, Vagner Freitas, os BRICS representam uma importante alternativa à lógica excludente ditada pelos países capitalistas centrais que, em crise, tentam se manter à base do aumento da exploração das economias periféricas. Com aproximadamente 40% dos habitantes e 15% do PIB mundial, lembrou o líder cutista, o bloco precisa ser fortalecido com a participação dos trabalhadores, a fim de que haja crescimento com distribuição de renda e valorização do trabalho.
“A sustentabilidade deve ser econômica, ambiental, social e ter a participação como fundamento, como aspecto basilar”, defendeu Antonio Lisboa, da executiva nacional da CUT e coordenador do painel Desenvolvimento Sustentável, Trabalho Decente e Inclusão Social. De acordo com Lisboa, o fato de países como o Brasil terem ampliado a participação social, seja por meio de conferências, diálogos tripartites ou consultas, possibilita uma melhor intervenção da classe trabalhadora, que se vê fortalecida na disputa de hegemonia com o grande capital.
“Vivemos um momento de agravamento da crise, em que nunca os ricos ganharam tanto e os trabalhadores perderam tanto. Nossa unidade é extremamente importante para enfrentar o capital e dar um basta na hegemonia de alguns poucos países, que querem nos manter tutelados, sem soberania”, afirmou o presidente da Confederação Sindical Internacional (CSI), João Antonio Felicio. Para manter os ganhos das grandes corporações, denunciou, os trabalhadores da Europa e dos Estados Unidos também estão sendo vítimas da retirada de direitos, “pois esta é a lógica do capital, que se desloca para onde pode impor sua hegemonia”. Sobre a abertura de espaços formais à representação sindical dentro do BRICS, João Felício defendeu ser esta uma questão de justiça, uma vez que os empresários já têm o seu Conselho reconhecido. “É importante frisar que o governo brasileiro manifestou sua posição em favor dos trabalhadores, mas é necessário que seja reconhecido pelos cinco governos”, acrescentou.
Presente ao evento, o ministro chefe da Secretaria Geral da Presidência da República, Gilberto Carvalho, condenou o fato de setores da elite e funcionários do próprio governo verem como “natural” a presença empresarial na Cúpula dos BRICS, enquanto é negada a representação aos trabalhadores. “Esta é a velha e boa luta de classes, onde alguns introjetam a dominação dentro do próprio aparelho de Estado. O fato é que os empresários têm muito mais acessos e privilégios que os trabalhadores”, declarou. Gilberto Carvalho ironizou o fato de setores da mídia falarem que é chantagem os trabalhadores reivindicarem estar representados oficialmente nos BRICS: “a maior chantagem é a praticada todo dia pelo sistema financeiro, pelas empresas que estão dentro dos ministérios pressionando pelos seus interesses”.
UNIDADE E MOBILIZAÇÃO
O presidente da União Geral dos Trabalhadores (UGT), Ricardo Patah, ressaltou que “diante da informalidade, da precariedade e da má distribuição de renda, consequência do neoliberalismo na atividade econômica nos países dos BRICS, torna-se mais do que necessária a unidade do bloco, para que não venha a converter-se em algo meramente aduaneiro ou mercantilista como se viu reduzido o Mercosul”.
Na avaliação de Divanilton Pereira, secretário de Relações Internacionais da Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB), “o BRICS expressa neste momento a resistência dos povos e a construção de uma nova perspectiva, diferente da ordem em curso”. Além do sentido geopolítico, de uma nova configuração nas relações internacionais, alertou, este é o momento em que abrimos espaço para que os interesses da classe trabalhadora sejam respeitados.
Conforme Paulo Sabóia, da executiva nacional da Central Geral dos Trabalhadores do Brasil, o fato de os BRICS serem países populosos, com grandes extensões territoriais, riquezas minerais, petróleo, indústrias e, principalmente, com grande força de trabalho, abre espaço para a consolidação de um novo patamar de disputa. Exemplo disso é o Banco dos BRICS, citou Sabóia, “novo e promissor espaço de contraponto ao FMI e seu receituário de recessão, miséria e desemprego”.
O presidente da Força Sindical, Miguel Torres, sublinhou que a crise internacional expõe a fragilidade do atual modelo, bem como a necessidade da unidade e da mobilização para  sua superação.
INTERNACIONAIS
A vice-presidente da central chinesa ACFTU, Shiping Zhang, esclareceu que o objetivo do evento é fortalecer ações pelo desenvolvimento sustentável e pela inclusão social: “lutamos contra o capitalismo e o Banco Mundial”.
“A definição de uma agenda comum é para que tenhamos voz”, disse o secretário geral da central sul-africana COSATU, Zwelinzima Vavi, acrescentando que isso significa batalhar “contra as disparidades, o desemprego, a desigualdade e a degradação ambiental”.
Para Dennis George, da central sul-africana FEDUSA, há uma expectativa muito grande em nosso país sobre os resultados desta reunião, “pois é desta aliança mais ampla que pode vir uma resposta mais contundente aos descaminhos do neoliberalismo”.
O presidente da central russa FNPR, Mikhail Shmakov, enfatizou que o sucesso do enfrentamento está intimamente ligado à atuação unitária do movimento sindical. “Vamos compartilhar nossas visões e construir uma plataforma base em defesa do salário, do emprego e dos direitos”, propôs.
Dirigente da central indiana CITU, Suresh Kumar ressaltou o papel da solidariedade da classe trabalhadora neste momento de confronto aberto com as transnacionais e o sistema financeiro. “Mais do que nunca, precisamos demonstrar que a classe operária é internacional”, concluiu.
Leia aqui a íntegra da declaração final do BRICS Sindical.