Congresso do MST faz balanço e define táticas de luta pela reforma agrária

Uma história de 30 anos marcada por luta, resistência, solidariedade, vitórias e esperança. Uma história muitas vezes abafada pelo capital, pela tentativa de dominação, mas que insiste, se supera, se torna ainda mais forte somada à memória de quem perdeu a vida por lutar contra o latifúndio e pela divisão de terras para o povo. A história de uma luta que só descansará quando se realizar, não pela metade, mas por inteiro. Foi esta a Movimento dos Trabalhadores feira (10), no Ginásio Nilson Nelson, em Brasília.
Ao chegar ao estacionamento do Nilson Nelson, chamavam a atenção as tendas com produtos de fabricação independente, as filas organizadas, as barracas do acampamento onde cerca de 15 mil pessoas pernoitarão por dias, os sorrisos de quem confraterniza pactuado com os olhos de esperança por um mundo mais justo e fraterno. Ao entrar no ginásio idealizado ainda na década de 1970 e famoso por realizar eventos esportivos, o coro das vozes organizadas, o agito das
bandeiras avermelhadas, os cantos de superação e resistência emocionavam.
No centro do estádio, 1.500 trabalhadores sem terra encenaram sua própria história, desde 1980, quando a repressão militar tentou, com armas de fogo e torturas, silenciar o povo. A repressão resultou na organização dos trabalhadores urbanos, camponeses, indígenas, que se fortaleceram diante do Estado repressor e pressionaram para pôr fim à ditadura militar. Uma dessas organizações se intitulou Movimento dos Trabalhadores Sem Terra, em 1984, e Na encenação, composta por cinco atos, os corpos tingidos das cores do Movimento (vermelho, preto, verde e branco), fizeram formas de flores, romperam cercas de latifúndio e apresentaram os pilares fundamentais do MST: direção coletiva, unidade, vínculo com a base e estudo e trabalho.
Rumos
Nesta sexta edição, o Congresso que acontece a cada cinco anos para fazer um auto balanço das ações e projetar os próximos passos do Movimento trouxe como .
A temática abordada não levanta um tema novo, mas instiga a vontade de levantar números, analisar estatísticas, traçar um panorama do que foi o MST nos últimos 30 anos e saber quais as consequências disso na implementação da Reforma Agrária Popular.

De acordo com o diretor do MST Nacional, Alexandre Conceição, foram dois anos de preparação para o VI Congresso. Neste período, foi avaliada a importância de se abordar, por exemplo, o avanço do capital na agricultura brasileira e o
poder das empresas transnacionais no travamento da Reforma Agrária, ou saber por que o governo não participa ativamente para avançar na distribuição de terras.
O dirigente nacional do MST se antecipa e diz que este é um problema conjuntural e estrutural. “Existem vários fatores (que entravam a Reforma Agrária). A conjuntura internacional levou à estagnação do processo de Reforma
Agrária, com as crises financeiras, por exemplo. A conta não está só no governo. O governo tem uma parcela grande de culpa, mas o Poder Judiciário, por exemplo, é super ágil para despejar famílias, mas completamente lento e capacho do capital e do latifúndio para desapropriar terras. Há mais de 900 mil hectares de terra em litígio, há mais de 10 anos, e é só um juiz dar uma sentença para desapropriar a terra, mas não dá. Nosso sistema político também colabora contra a Reforma Agrária. Se a gente permanecer com este sistema financiamento privado, as empresas vão dominar completamente o parlamento brasileiro só para fazer leis que beneficiem a eles próprios. Só na bancada ruralista (na Câmara dos Deputados), são 150 deputados que defendem os interesses da classe dominante, das transnacionais”, explica.
Alexandre Conceição também lembra que, apesar de ainda ter muito a avançar, conquistas importantes foram garantidas pela luta do MST. “Cerca de 350 mil famílias que não tinham acesso à terra hoje estão assentadas; mais de 100 mil
pessoas alfabetizadas; 8 milhões de hectares desapropriados. Temos um saldo positivo da nossa luta, mas agora é preciso mais”, avalia o dirigente nacional do MST.
Marcha
Dentre as atividades do VI Congresso do MST está programada uma marcha dos trabalhadores para a tarde de quarta-feira, dia 12. Ainda não foi divulgado o trajeto da manifestação.
O Congresso termina no dia 14 de fevereiro, quando serão definidas as táticas de luta para a Reforma Agrária para o próximo período, além de realizada a posse da nova direção nacional do MST.
Secretaria de Comunicação da CUT Brasília