Golpe provoca falência do Ensino Médio


O golpe imposto por Temer à classe trabalhadora ganha novos contornos, pondo de lado de vez boa parte da população ao acesso a uma vida melhor – que passa por uma educação de qualidade.
O governo tem planos de liberar até 40% da carga horária total do Ensino Médio para que seja feita a distância, o que significaria que os estudantes poderiam ter dois dias de aula fora da sala por semana. Na Educação de Jovens e Adultos (EJA), esse percentual poderá chegar a 100% do curso.
A intenção é clara, desobrigar a União e os Estados dos investimentos na educação pública, reduzir o número de professores e fechar escolas. É mais um duro golpe na educação e na qualidade do ensino de todo o país. Um conteúdo preparado para ensino online dispensaria a contratação de dezenas ou centenas de docentes para as salas de aula, e a qualidade do ensino seria ainda mais afetada.
O coordenador de Imprensa do Sinpro, Cláudio Antunes, explica que o que se propõe na verdade é retirar a competitividade e a oportunidade de o estudante carente ter acesso a uma educação de qualidade. “Basta inverter a posição. Ninguém que tem filho em escola particular admitiria tal precarização, para que não se contrate professores e para que não se construam escolas. A proposta de Temer é a de uma espécie de rodízio educacional no ensino médio”, enfatiza.
O dirigente conta que na Constituição de 1988 o povo brasileiro assegurou como obrigatoriedade do Estado a educação fundamental de oito anos. “Nos governos Lula e Dilma avançamos para que o ensino fundamental não fosse apenas de oito anos, mas de nove anos, para a educação ganhar em qualidade. Por fim, avançamos na obrigatoriedade constitucional de o Estado fornecer o ensino médio, consequentemente também os livros didáticos. Isso move o conservadorismo no sentido de não querer a classe trabalhadora concluindo os estudos. No caso do DF, sempre houve vaga para o ensino médio, mas não havia condições de permanência, pois o estudante tinha que arcar com a compra de livros. Em uma rápida pesquisa de valor, o conjunto de livros para um estudante do ensino médio não custaria menos do que R$ 1.300,00. Nessas condições é difícil concluir os estudos. Então, havia uma política de acesso a uma educação plena e uma política de permanência. O que se pretende fazer agora é precarizar tudo o que foi construído ao longo dos governos populares”, avalia.
Dados revelam que o Brasil tem 6,9 milhões de matrículas no ensino médio público. Em torno de 1,5 milhão dos jovens de 15 a 17 anos (14,6% do total) já abandonaram os estudos.
Esvaziamento do ensino público – O professor Nelson Pretto, da Universidade Federal da Bahia (UFBA), pesquisador em tecnologia e educação, diz que a medida é sinal de esvaziamento do ensino público de qualidade e falta de compromisso com investimentos. “Fica claro um movimento de desresponsabilização do Estado brasileiro com a formação crítica e sólida da juventude, e também com a infraestrutura escolar”, enfatiza.
Pretto diz desconhecer experiência internacional com abertura como essa. “Não quer dizer que não tenha tecnologia, mas, em um processo dessa forma, joga ao cidadão toda a responsabilidade.”