Centro de Ensino Médio EIT (Cemeit) de Taguatinga comemora meio século

Nada mais coerente do que uma escola pensada por um poeta comemorar os 50 anos de existência com uma mostra cultural. O Centro de Ensino Médio EIT (Cemeit), de Taguatinga, institucionalizado como escola da rede pública de ensino em 1961, partiu o bolo de aniversário ontem, mas vai festejar durante toda a semana, em uma extensa programação que inclui teatro, música, palestras, jogos. A história da EIT se confunde com a da própria cidade: foi construído no centro da cidade e transmite mais do que conteúdos de livros didáticos. Em localização estratégica, próximo à Praça do Relógio e à Avenida Comercial, os alunos da escola acompanham toda a rotina da cidade.
“A EIT surge antes de Taguatinga, quase. A cidade não tinha nada ainda quando a escola foi construída. É bonito ver como cresceram juntas, a cidade em torno da escola”, afirma a professora Hildemília Maria de Freitas. Ela leciona há 14 anos no Cemeit e lá também cursou o ensino médio, no início da década de 1970. O antigo nome, Escola Industrial de Taguatinga, revela o tipo de formação oferecido nos anos iniciais da escola. Era ali que os filhos dos operários que construíam Brasília estudavam e aprendiam atividades manuais.
Dois anos depois, em 1961, o local se tornou o Cemeit. A história que se entrelaça com a vida urbana da cidade registrou momentos difíceis e felizes, e o aniversário significa, agora, um motivo de renovação. “Houve um momento de decadência, mas aí a sociedade gritou e se posicionou para que a gente sobrevivesse, mesmo que ao lado do caos do trânsito do centro da cidade”, conta o professor Paulo Solino, ao lembrar as duas crises pelas quais a escola passou naquela época. Em 2007 surgiram rumores de que alguns políticos e construtoras da região pretendiam esvaziar o colégio e transformá-lo em um shopping, considerando a área nobre em que se encontra. Grupos culturais se organizaram e criaram o movimento Viva EIT, em defesa da permanência do colégio. Em agosto do mesmo ano, a mobilização resultou no tombamento provisório do prédio. O definitivo ainda não saiu.
Já em 2010, os problemas foram de ordem interna, o que provocou várias mudanças na equipe da direção. No fim da crise institucional, Edson Estevão dos Reis foi eleito diretor da EIT. “Nasci em Taguatinga. Não tive a chance de estudar aqui, mas sei que é uma escola de tradição. Acredito que podemos aproveitar este momento para dar um gás para que a escola volte a ser o que já foi. Os professores estão com sede de mudanças”, entusiasma-se o diretor. E não só os professores.
Recordações
Ex-alunos aproveitam a comemoração para se reaproximar da escola. O cineasta William Alves cursou o ensino médio no fim da década de 1980. Ele trabalha com direção de filmes, principalmente documentários voltados para a área social. “Na minha época de escola, Taguatinga tinha uma efervescência cultural. A EIT, no centro da cidade, estava no meio de tudo isso — e eu no meio, absorvendo. O fato de ser uma escola pública também dá uma visão diferente. Então, tudo isso me influenciou”, diz. Há dois anos, ele voltou à EIT para montar um cineclube e incentivar debates sobre os filmes.
A origem
A Escola Industrial de Taguatinga (EIT) foi idealizada pelo poeta e funcionário do Ministério da Educação (MEC) Caldêncio Mewton de Carvalho Souza, em 1959. Foi lá que muitos filhos dos pioneiros de Brasília concluíram cursos profissionalizantes. Filhos de peões de obras, pedreiros, carpinteiros, cozinheiras e motoristas cresceram na EIT aprendendo a usar o torno elétrico e a prensa tipográfica, bem como a desempenhar outras tarefas operárias. A EIT, posteriormente, tornou-se a primeira escola de ensino médio da cidade, passando a receber também os filhos da intelectualidade da região. Nesta época, tanto a Biblioteca Pública Machado de Assis quanto o Teatro da Praça pertenciam à área da escola, e o espaço era utilizado para oferecer oficinas.
Influência na cidade
“Um poeta dirigiu a escola antes de ela ser oficializada como da rede pública”, recorda o professor Ronaldo Alves Mousinho, que iniciou e terminou sua carreira no magistério na EIT. “Na década de 1960, os alunos já aprendiam a reciclar papel no curso de artes gráficas. Toda a economia da cidade teve influência nessa matriz da EIT”, enumera.
Ele lembra que o colégio já forneceu parte de seu acervo para possibilitar a inauguração da Biblioteca Pública Machado de Assis, além de abrigar alunos de cursos noturnos de outras escolas com estrutura física menor. O Cemeit também colaborou na vida afetiva de alguns alunos, formando casais que estão juntos até hoje hoje. É o caso de Marcela Gomes Winther Neves e Alysson Fernando Campos dos Santos.
O pai de Alysson lecionara no EIT quando o filho se matriculou, no começo da década de 1990. Em aulas de educação física, Alysson conheceu Marcela. O namoro deu certo e logo eles se casaram e tiveram os gêmeos Ana Carolina e Victor Neves dos Santos, 15 anos, ambos matriculados no colégio. “Minhas melhores amizades saíram dali e todas elas acompanharam o namoro e a gravidez. Participaram de tudo”, conta Marcela. “Nunca fiz tantos amigos na minha vida”, diz Ana Carolina. “Nossa história começou aqui dentro. Eu sei até onde foi o primeiro beijo dos meus pais. Isso é muito legal, porque assim a gente adquire um sentimento maior”, explica Victor.
(Fonte: Jornal Correio Braziliense do dia 11/05/2011)