Carlos Mota? Presente!

Em sessão solene, a Câmara Legislativa do Distrito Federal concedeu hoje o título post mortem de cidadão honorário de Brasília ao professor Carlos Ramos Mota, cuja última ocupação profissional foi dirigir o Centro de Ensino Fundamental do Lago Oeste (rebatizado para CEF Carlos Mota), onde combatia o tráfico de drogas e a violência que acabou tirando sua vida.

Mas os presentes na sessão solene puderam conhecer outras facetas da vida de Carlos Mota: sua luta contra a ditadura, sua militância pelos direitos trabalhistas, seu trabalho pela melhoria da educação. O auditório da Imprensa Nacional, onde foi realizada a cerimônia, estava lotado de cidadãos que buscavam prestar suas homenagens ao educador. Entre os presentes, alunos do CEF Carlos Mota, Escola Classe 115 Norte e Colégio Anima, professores dessas e de várias outras escolas, além de familiares, amigos e outras pessoas que conheceram o professor em vida.

Um deles foi Antônio Lisboa, diretor do Sinpro e colega de faculdade de Carlos Mota nos tempos de CEUB. “Carlos se envolvia nas coisas com muita paixão”, comentou. Como um dos fundadores do Partido dos Trabalhadores do DF e responsável pelo projeto da Escola Candanga durante o governo Cristovam, Carlos Mota demonstrou amplamente sua paixão, expressa mais recentemente em seu desejo de tornar sua escola do Lago Oeste “a melhor da América Latina”. Carlos também era apaixonado por música, e em sua homenagem foram executadas “Bachianas Brasileiras Nº 5, Aria (Cantilena)” de Villa-Lobos, e “Rosa”, de Pixinguinha.

Mas essa paixão também tinha um lado mais brando, que sabia manter a calma. Rodrigo de Paula, do Sinproep, contou que na primeira greve organizada pelo sindicato a participação de Carlos foi fundamental para o sucesso da campanha. Após quase dois meses de greve sem avanços e com os salários atrasados, os professores já cogitavam abandonar definitivamente a faculdade. Foi Carlos Mota que, em assembléia, lembrou aos professores que além da direção da faculdade, também contavam com eles quase dois mil alunos que viam naquela faculdade uma maneira concreta de melhorar suas vidas. O discurso de Mota convenceu os professores a adotar uma posição mais moderada, que acabou sendo vitoriosa. “Era uma pessoa inflexível em seus princípios, mas acolhedora e gentil no trato com as pessoas”, resumiu a deputada Erika Kokay, que propôs a indicação de Mota para o título de cidadão honorário.

“Quando eu converso com pessoas que não conheceram Carlos Mota eu sinto que elas pensam ele realmente era tudo isso? Mas quem o conheceu sabe que o que digo é verdadeiro, e como ele era uma pessoa intensa”, contou Rita de Cássia, viúva do professor. Para a família, já são 360 dias difíceis sem Carlos Mota. “Não tenho a presença física, mas os ensinamentos dele estão comigo”, corrigiu Daniele, filha do educador. Também concordam os alunos do antigo CEF Lago Oeste, que responderam à chamada em nome do professor. Carlos Mota? Presente!