Carlos Abicalil: “precisamos ser protagonistas de uma época”

Após passar por diferentes instâncias do movimento educacional e também da política, Carlos Augusto Abicalil se tornou uma das principais referências da educação na América Latina. Falando sobre o futuro do movimento, o ex-presidente da CNTE e ex-diretor da Internacional da Educação afirmou que é preciso lutar pela formação inicial e continuada em conjunto com a valorização dos profissionais e um currículo que expresse o saber coletivo e a horizontalidade.
Disputando a organização da educação com as esferas de poder e participando ativamente da formulação de políticas públicas, a educação da América Latina passa por um momento de pensar na necessidade de lutar por mais recursos.
“Diferente dos anos 90, em que apontavam que o problema não era a falta de recursos, mas a eficiência da aplicação desses recursos, encontramos agora um discurso de que as verbas são insuficientes e precisamos obter mais capacidade de investimento público para garantir o acesso pleno à educação”, afirmou.
Neste momento, a disputa pela regulamentação da educação com o poder econômico privado fica ainda mais acirrada, lembra Abicalil. “Precisamos continuar lutando para que a educação seja um direito universal, digno e igual para todos e todas. Não podemos perder o direito fundamental da educação estatal”, lembrou.
Colocando em perspectiva a dialética de luta, Abicalil lembrou que, além das políticas efetivamente aplicadas, o que o Estado escolhe não fazer também tem impacto direto sobre a educação.Pelas implicações do que é ou não feito e a disputa contínua de espaços de representação na sociedade e na sala de aula, o movimento pedagógico latino-americano precisa construir uma educação plural, que vise a autonomia e não a dominação.
Só assim, afirma Abicalil, é possível superar a manipulação do cidadão e a concorrência massiva dos meios de comunicação que costumam tomar a maior parte do tempo da vida do aluno, como a televisão e a internet, que podem deixar a escola em segundo plano.
“Precisamos ser protagonistas de uma época, reivindicando uma sociedade democrática, o diálogo público e também o protesto. A mudança sempre opera mais lentamente do que desejamos. É fundamental criarmos estes espaços de análise e não termos medo da mudança, passo importante para superar o clientelismo”, finalizou.