CAIC do Paranoá completa 20 anos

Alunos, professores e a comunidade do Paranoá comemoraram nesta segunda-feira, 21, os 20 anos do Centro de Atenção Integral à Criança (Caic) Santa Paulina. A festa foi marcada por muito saudosismo daqueles que conheceram o colégio há mais tempo, quando prevalecia um método de ensino guiado por atividades extracurriculares. Fotos e depoimentos de ex-integrantes da instituição formavam murais que resgatavam as lembranças de quando o primeiro Caic do DF ainda merecia destaque nacional pela educação inovadora. Os estudantes atuais, por sua vez, buscaram mostrar, em apresentações musicais, que o espírito original persiste nos valores da escola.
O projeto desses centros foi idealizado a partir de uma proposta diferente: receber as crianças em período integral e oferecer a elas aulas regulares de artes e educação física, além de apoio psicológico e atendimento médico e odontológico. Mas, desde a inauguração, em 18 de outubro de 1991, muita coisa mudou no Caic do Paranoá. Antes, eram 12 turmas que passavam o dia na escola. Hoje, esse número cresceu para 43, totalizando 1,2 mil crianças matriculadas nos turnos vespertino e matutino — o colégio funciona sob o modelo da Escola Classe desde 1998.
A professora Maria de Jesus Figueiredo se recorda de quando o prédio triangular recebeu os primeiros alunos e profissionais. “Vieram só as pessoas que acreditavam no projeto. Muitas não queriam vir, porque não sabiam o que era”, conta. Por meio dos recursos federais e graças a parcerias com a Universidade de Brasília (UnB), logo o centro de ensino tornou-se referência no país todo. Hoje, a realidade é outra. O inchaço do corpo de alunos levou à descaracterização das salas de artes, música e atendimento médico, e a estrutura física mostra sinais de pouco cuidado.
A comemoração das duas décadas da escola contou com a participação do músico Antonio Neto Epaminondas, responsável pelos antigos coral, grupo de violões e banda do Caic. O agora maestro da Escola de Música lembra que houve uma grande batalha para manter o projeto de musicalização infantil do colégio no Paranoá funcionando. “Acabou por causa de corte de custos. Uma grande perda, porque, até hoje, encontro alguns antigos alunos”, lamenta o músico. Hoje, os instrumentos estão guardados no fosso do elevador do prédio, onde enferrujam.
Persistência
Lígia Bruna dos Santos Moura, 27 anos, empregada doméstica, se lembra de quando estudou no Caic Santa Paulina de 1995 a 1996. “Foi muito divertido. Todas as turmas interagiam e sempre havia muitas festas em que eu participava com a banda.” Com a intenção de oferecer educação semelhante às filhas, Lígia matriculou Bianca, 6, no mesmo colégio. Porém, ela admite que as coisas não são as mesmas. “Agora, tem muita criança e pouca estrutura”, critica. Mesmo assim, ela ainda planeja colocar a filha mais nova, Beatriz, no Caic a partir do ano que vem.
Bianca não pôde participar da banda como sua mãe, mas faz aulas de balé e informática. Há dois anos, 250 crianças fazem parte do programa federal Mais Educação e ficam em sala até as 17h, desfrutando das atividades. Mesmo sem o apoio do Estado, o Caic teima em inserir conteúdos artísticos e culturais nas aulas tradicionais. “Ainda tem os insistentes que trabalham dentro da concepção original. Procuramos dar aulas mais dinâmicas e passar essa filosofia para os professores que chegam”, aponta Valdir de Castro Silva, professor da quarta série e ex-aluno do Caic.
Para a diretora da instituição, Neila Bretas, a tentativa de recriar os antigos princípios costuma bater sempre no mesmo obstáculo: a falta de verba e de professores. “Os projetos que adotamos nem se comparam ao modelo inicial da escola. O que precisamos na educação infantil é de recursos humanos. Não tem como um professor que dá aula a manhã toda ensinar educação física depois, não é nem a área dele”, afirma Neila.