O blog da Petrobras e a nova ordem

Nesta última semana o Brasil acordou para um fato novo ligado à internet e ao jornalismo. A Petrobras, uma das maiores empresas do setor petrolífero no mundo, entrara para a cobertura nacional como foco de uma CPI no Senado, que pretende descobrir possíveis irregularidades na sua gestão, e se tornou motivo de discussão sobre a ética jornalística.

Não vamos nem discutir o direito e a obrigação dos parlamentares de fiscalizar todos os entes públicos e estatais, embora todo o trabalho da oposição envolva sempre interesses partidários específicos. O papel da imprensa deveria ser pelo menos o de informar corretamente a população, o que nem sempre acontece. Mas, tudo isso passaria desapercebido não fosse a iniciativa da Petrobras de divulgar por meio de seu blog as perguntas dos jornalistas e as respostas da direção da empresa.

Ao invés de reconhecerem a necessidade do fornecimento das informações, as empresas de comunicação atacaram a iniciativa alegando suposto boicote ao trabalho jornalístico porque as entrevistas solicitadas por e-mail estavam sendo divulgadas antes de sua publicação na imprensa escrita.

Como se sabe, a Petrobras vem sendo bombardeada politicamente por setores da oposição ao governo Lula e por matérias jornalísticas que, nem sempre, reproduzem a informação completa fornecida por sua assessoria de imprensa.

A reação da Associação Nacional dos Jornais (ANJ) foi descabida, contraditória e virulenta. Como condenar o fornecimento da informação completa? Como exigir que uma empresa estatal mantenha sob sigilo informações que são públicas? Qual a responsabilidade das redações dos jornais que omitem, selecionam e editam as declarações oficiais de uma empresa estratégica para a economia nacional?

A lição do blog da Petrobras – que acabou por decidir não publicar suas entrevistas antes da meia noite para não atrapalhar os esforços jornalísticos dos repórteres – é de extrema relevância. Primeiro, porque a internet não só veio para ficar, como para modificar as relações dos jornalistas com as fontes. Segundo, porque a imprensa, sobretudo a escrita, terá que rever seus padrões editoriais para não perder leitores mais atentos à manipulação e à falta de ética no jornalismo.

A imprensa continua necessária e absolutamente fundamental na democracia. A fiscalização social também. As diversas formas de exercer esse direito ainda estão em formatação. A internet ajuda muito, mas a luta ideológica que envolve a imprensa não se encerra com descobertas geniais como essa de um blog empresarial. A comunicação é um território em disputa entre os que dela necessitam para a formação cultural e social e aqueles que apenas a utiliza como objeto comercial.

Eis aí mais um ponto para a nossa I Conferência Nacional de Comunicação!

Romário Schettino – Presidente do Sindicato dos Jornalistas Profissionais do DF.