Aula de teatro ajuda a desenvolver a concentração da criança

Você já pensou no teatro como atividade extracurricular para o seu filho? Para a psicóloga Maria Fernanda Zamarian, do setor de gerenciamento de estresse e qualidade de vida da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo), a atividade é um importante recurso pedagógico para o crescimento e desenvolvimento das crianças. “A expressão artística propicia o desenvolvimento psíquico. Quando esse e o desenvolvimento físico esperado entram em equilíbrio, chamamos de qualidade de vida”, afirma Maria Fernanda.
Há 35 anos à frente da Escola Superior de Artes Célia Helena, que leva o nome de sua mãe (1936-1997), a atriz Lígia Cortez, filha do também ator Raul Cortez (1932-2006), também defende o teatro como meio de desenvolvimento da criança. “Testemunho o avanço infantil no teatro há anos, inclusive porque levo em consideração a minha experiência. É uma arte coletiva, que faz com que a criança trabalhe e crie com o outro. Agrega uma experiência de vida muito importante e trabalha a concentração, a observação, a percepção e a sensibilidade”, afirmou ela, que é a favor da inclusão do teatro na grade curricular escolar.
Com cerca de 150 crianças, a Casa do Teatro, que faz parte da Escola Superior de Artes Célia Helena, oferece um curso livre, dividido por faixa etária. Nele, os alunos praticam teatro por meio de outras linguagens artísticas como música, circo, artes plásticas e dança.
Para crianças tímidas, a atuação pode ajudar a acabar com o medo de se expressar, mas é preciso que haja identificação com a modalidade, como com qualquer outra atividade extracurricular que venham a fazer. “Normalmente, funciona para os tímidos. Tenho alunos que, na primeira apresentação, quase não falavam e foram melhorando. Cada criança tem seu tempo e ritmo”, diz Ariane Moulin, que trabalha no Teatro Escola Macunaíma, em São Paulo, e é professora de teatro infantil há oito anos.
Com apresentações de projeto a cada final de semestre, os alunos de Ariane não são separados por idade. A mistura acontece, justamente, para que haja troca de experiências entre os mais velhos e os mais novos. “Todo mundo aprende com todo mundo. Os pequenos ainda têm aquela coisa da fantasia e contagiam os maiores, que, por sua vez, ajudam nas dificuldades com as regras e disciplina.”

Teatro e autismo

Fazer aula de teatro pode funcionar como forma de tratamento para crianças diagnosticadas com autismo, de acordo com Carla Gikovate, neurologista infantil e mestre em psicologia do desenvolvimento. O autismo é um transtorno global do desenvolvimento identificado por três características principais: dificuldade de interação social, problema de domínio da linguagem e comportamento padrão de repetição. “A partir dos seis, sete anos, o teatro é um bom treinamento de habilidade social. Com ele, o autista vai conseguir identificar e ler situações sociais para saber o que é adequado fazer em certo momento. Decorar cenas e ensaiá-las, por exemplo, vai ajudá-lo a não repetir tantas vezes a mesma coisa e dar sequência a uma tarefa. Tenho encaminhado muitos pacientes para fazerem aula. Ajuda muito”, declara.
Para Carla, é importante que, no caso de crianças com autismo, o professor de teatro trabalhe em conjunto com um profissional da área de psicologia, caso da parceria entre Manuela Borges, psicoterapeuta cognitivo comportamental, e Caio Ruas Miranda, professor de teatro. “Não trabalho com instrumentos formais de avaliação de desempenho. Sei que meus pacientes avançaram por causa de relatos verbais dos pais sobre a melhora de algumas capacidades sociais, como ter reação a um pedido, fazer comentários sobre os assuntos e iniciar uma conversa contínua, por exemplo”, diz Manuela para quem os maiores estimulantes no tratamento do autismo são os exercícios dinâmicos e com contato físico do teatro. “O teatro trabalha as emoções e a empatia. Fazer um papel em uma peça e servir de plateia para outras permitem ao autista experimentar situações sociais, refazê-las de diferentes formas para depois ver os resultados e dá a oportunidade de estar no lugar do outro”, afirma a psicoterapeuta.
Com informações do UOL