Artigo de Rosilene Corrêa: “Os desafios da educação”

556199420377Abre-se um novo ciclo no Sinpro. A chapa vencedora do último pleito, Chapa 1 – Com Você, assume a direção do sindicato em um momento delicado do nosso país e do Distrito Federal.
Na Educação, o cenário é lastimável: o Ministério está nas mãos de Mendonça Filho, representante do DEM, partido considerado legítimo herdeiro da ditadura militar, e citado em conversas gravadas entre Renan Calheiros e Sérgio Machado como um dos mais corruptos do Congresso Nacional.
O segundo nome do Ministério da Educação é Maria Helena Guimarães Castro, que esteve à frente do Instituto Nacional de Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), no governo FHC (PSDB), e foi responsável por diversas iniciativas de mercantilização da educação e de meritocracia. Nós a conhecemos de perto, quando foi Secretária de Estado da Educação do Governo do Distrito Federal (GDF) na gestão do ex-governador José Roberto Arruda (PFL, que mudou de nome e atualmente é DEM); e na Secretaria de Educação do Governo de SP, local em que sua trajetória incluiu o combate truculento a uma das maiores greves da história do magistério paulista.
Para completar esse cenário de horror, a primeira “celebridade” a ser recebida pelo novo ministro foi Alexandre Frota, conhecido pela misoginia de seus rompantes. Trata-se de alguém que narrou em rede nacional uma situação de estupro protagonizada por ele mesmo, sob risos e aplausos. Alguém cuja principal relação com a área da Educação é uma porção de “achismos” baratos, tão pretensiosos quanto desqualificados.
O que ele foi fazer no MEC? Defender a aprovação do projeto “Escola sem Partido”, a Lei da Mordaça, que coloca sob suspeição e institui a perseguição a professores e professoras que cumprem seu papel de expor conteúdos e discutir criticamente com seus estudantes. Como sabemos, no DF, o mesmo projeto tramita na Câmara Legislativa, pelas mãos de Sandra Faraj (SD), Rodrigo Delmasso (PTN) e Rafael Prudente (PMDB).
Esses são os mesmos deputados que atuaram na linha de frente pela supressão do termo gênero de todo e qualquer artigo do nosso Plano Distrital de Educação (PDE). Ora, a perspectiva de gênero é um instrumento importante para compreender e combater a desigualdade entre homens e mulheres, tão facilmente verificável nos assustadores índices de violência contra a mulher.
Aliás, outro feito simbólico do principal beneficiário do golpe, sr. Michel Temer, foi a extinção de estruturas fundamentais de políticas públicas para a reversão de desigualdades históricas, como a Secretaria de Políticas para as Mulheres e a de Promoção da Igualdade Racial. Por consequência, foram cancelados todos os programas desenvolvidos por esses organismos, entre eles, aqueles de enfrentamento da violência.
Agora, vamos pensar juntos. No momento dramático em que o estupro de uma adolescente por 33 homens choca o país, que papel cumprem esses personagens todos? O que significa ter à frente do Ministério da Educação um homem que representa concepções privatistas e machistas de Educação? O que significa ele receber em seu gabinete um homem que narrou um estupro contra uma mulher desacordada? O que significa fortalecer parlamentares que querem proibir que as escolas sejam espaço de questionamento da opressão das mulheres e de construção de igualdade? A escola não deve fazer parte dos esforços de enfrentamento da cultura do estupro?
Sabemos bem o que tudo isso significa. Os tempos são difíceis, mas a nova gestão do Sinpro se apresentará com muita disposição de luta para, Com Você, barrarmos os retrocessos e retomarmos o caminho de avanços para a Educação pública, para a democracia e para o combate a todas as desigualdades e opressões.