Alunos da EC 01 do Itapoã recebem repentistas em projeto infantil

Com muitos sorrisos, barulho e empolgação, foi assim que os alunos da Escola Classe nº 1 do Itapoã receberam os dois repentistas João Santana e Chico de Assis para uma apresentação voltada para as crianças. O espetáculo faz parte do projeto Repente na Escola, no qual João, o idealizador, produtor e um dos repentistas, percorre os colégios de áreas carentes no Distrito Federal, sempre acompanhado de outro artista, difundindo a cultura do repente e da literatura de cordel.
Este ano, sete escolas foram escolhidas e, na tarde de ontem, as crianças, entre 7 e 9 anos não conseguiam tirar os olhos dos artistas e, após alguns versos, os acompanhavam na cantoria.
De olhos fechados, que se abriam poucas vezes durante as mudanças das músicas, sentado no chão, logo na primeira fila, em frente a João e Chico, João Pedro Miranda de Oliveira, 7 anos, se deixava embalar pelo som. Movendo o corpo de um lado para o outro, ensaiando uma dança que seguia o ritmo, o menino aproveitou cada segundo da apresentação.
Tímido ao perceber que havia sido notado enquanto curtia as músicas, demorou um pouco para se soltar, mas quando resolveu falar, foi com um sorriso no rosto. “Gostei muito, tem muitas rimas e isso é bom para as crianças”, conta, como um adulto em miniatura. Um dos repentes possuía um verso fixo sobre a Bahia, essa foi a parte preferida de João. “Adorei esta última parte, que falava da Bahia e é lá que mora a minha vó. Eu não conhecia (o repente), mas vou querer ouvir mais”, completou, sorrindo.
De acordo com a pedagoga da escola, Betina Rodrigues Lima da Cunha, 38 anos, se reuniram no pátio da escola 16 turmas, da qual fazem parte, aproximadamente, 500 alunos. Entre as crianças, algumas, como João, se destacavam por estarem concentradas no que acontecia e fazendo movimentos de dança inesperados. Yuri Pereira Sousa, 7 anos, fazia gestos que representavam os trechos dos repentes, enquanto na música o pássaro voava, as mãos do menino faziam o movimento do voo. Empolgado, continuou mesmo quando os amigos começaram a fazer cócegas e a brincar com ele. “Achei ótimo. A música é é legal e eu também gostei de tirar foto”, conta. Luís Fernandes Sousa Anjo, 8 anos, fazia parte do grupo dos mais animados, sorridente desde o começo da apresentação e tentando cantar junto. “Os dois são muito legais e a música é boa. Eu achei divertido”, afirma, com mais um sorriso no rosto e ansioso para voltar para o grupo de amigos.
Também na primeira fila, duas amigas ouviam com atenção, riam dos versos e comentavam entre si. Jasmin Vieira Matos, 7 anos e Beatriz Gomes dos Santos, 7 anos, não conheciam o repente, mas se divertiram com as referências atuais usadas pelos artistas, como o cantor canadense Justin Bieber. “Eu também gostei da história do passarinho que cai da árvore. Achei engraçada”, diz Beatriz, interrompida pela amiga, que completa: “Eu também gostei das histórias, foi bem bonito”.
Os alunos não foram únicos a se encantar com a apresentação diferente de cultura brasileira. Os artistas João e Chico aproveitaram para alertar as crianças quanto ao contato com estranhos e sobre aceitar balinhas, mencionando, inclusive traficantes, que muitas vezes se aproveitam para inseri-las no tráfico de drogas. Betina aprovou não só a apresentação, mas também os temas abordados pelos repentistas. “Eu gostei, é importante trazer até os alunos a questão cultural. Trazer isso para a escola é oferecer uma oportunidade que eles não teriam acesso normalmente”, afirma.
A pedagoga acrescenta ainda que é o contato com o repente é uma chance de os alunos conhecerem a própria cultura. “Muitas não conheciam o repente, mas temos alunos que têm pais que vieram do Norte e do Nordeste e essa é a cultura deles e do Brasil”, completa.

Proposta

O projeto, que foi idealizado por João e tem patrocínio do Fundo de Apoio à Cultura, está em sua quarta edição e, desde 2004, quando foi criado, já foi levado a mais de 40 escolas do Distrito Federal. João afirma que pretende levar o projeto a todas as escolas do DF. “Queremos expandir, levar para cada vez mais alunos e professores. Quero expandir para os estados vizinhos e assim por diante”, afirma.
João explica que o Repente na Escola surgiu como uma forma de suprir a carência de contato cultural nas regiões mais desfavorecidas do DF e como uma oportunidade de formar público para o repente. “É uma arte brasileira que não está em evidência nas grandes mídias. Assim, damos a oportunidade para que as crianças e os jovens conheçam para saber se gostam ou não”, diz.
O repentista, acompanhado de Chico, afirma que o retorno do público escolar é grande. “É surpreendente, eles gostam muito do improviso e como nós entramos no cotidiano dos alunos, eles se identificam com as referências”, completa João. Chico concorda com o amigo e afirma que é gratificante poder levar o seu trabalho para essas plateias, de uma forma pedagógica e que permite uma grande interação com o público. “Eles participam, cantam junto, pedem temas. Pedem muito personagens de filme e de novela, mas teve época em que o chupa-cabra e a vaca louca faziam sucesso”, conta, rindo.
O sentimento dos alunos e a receptividade dos repentistas podem ser percebidos ao fim da apresentação, quando as crianças correm para abraçá-los e pedir fotos. Os dois, rindo, contam ainda que em uma apresentação quase não conseguiram ir embora, pois os alunos queriam autógrafos e um professor distribuiu uma folha de caderno para cada aluno. “Quase não saímos. Eu vi por que alguns artistas são chatos. Deve ser terrível fazer isso toda hora”, completa Chico, dando uma gargalhada.
“Eu gostei, é importante trazer até os alunos a questão cultural.
Trazer isso para a escola é oferecer uma oportunidade
que eles não teriam acesso normalmente”
Betina Rodrigues Lima da Cunha,
38 anos, pedagoga da escola
(Do Correio Braziliense)