A mídia internacional faz terrorismo e incita o golpe de estado na Venezuela

O presidente da República Bolivariana da Venezuela, Nicolás Maduro, acompanhado pelo ministro das Relações Exteriores, Elias Jaua, e o presidente da Assembleia Nacional, Diosdado Cabello, fez ontem, via cadeia nacional de rádio e televisão, e em transmissão internacional pela Telesul, um forte pronunciamento, onde esclarece ao mundo a verdade sobre os fatos ocorridos, tergiversados pelos grandes meios de comunicação, redes sociais, com matriz e financiamento nos EUA, promotores dos atos violentos e vandálicos da última semana, com intenções sinistras de instigar um golpe de estado, contra 16 anos de democracia e conquistas econômico-sociais do povo venezuelano rumo ao socialismo. E alertou que os EUA tirou a máscara para lançar-se abertamente contra o processo revolucionário na Venezuela, após meses de tentativas desestabilizadoras. Denunciou os indícios reais de um golpe de estado em curso, com atos vandálicos e guerra midiática.

Os fatos

Já a ministra de comunicação Delcy Rodrigues, havia denunciado os vários sinais de uma tentativa de golpe em marcha, evidentes na instigação à violência, pela falsificação dos fatos, manipulação de fotos, vídeos e imagens circulando nas redes sociais de matriz fascista, que são de manifestações reprimidas no Chile, na Grécia, no Egito, e até mesmo da chamada IV República (em ditaduras previas a 1998, quando iniciou-se a era revolucionária de Hugo Chávez) como se fossem ações violentas da polícia governamental atual contra estudantes. Além de tudo, as manifestações iniciadas recentemente, não são estudantis, e muito menos pacíficas. Não há nenhuma reivindicação estudantil concreta, social ou econômica, sequer por preço de passagem, ou verbas estudantis, para poder sentar-se numa mesa de negociação. Nada comparável com movimentos estudantis dos anos 70 ou 90, essas sim contra ditaduras neoliberais e por um projeto de transformações sociais e cultura popular. São jovens manipulados, dirigidos por bandas fascistas (como os black blocs no Brasil) que só sabem dizer: “queremos derrubar Maduro”. Isso para não dizer: “queremos a contra-revolução!”, “queremos acabar com o progresso e a vida!”. Por isso, destruíram praças, pavimentos e edifícios públicos, escolas infantis, hotéis, dezenas de vagões do metrô de Caracas, feriram trabalhadores dos transportes públicos, arremeteram bombas e atacaram a chamada Fiscalia Geral da República (Procuradoria Geral da República), atearam fogo em ônibus com crianças, ameaçaram a casa do governador José Mora do Estado Táchira, o Banco Central, O Ministério dos Transportes, e circundam dia e noite com atos incendiários a VTV (Venezuelana de Televisión, como nossa NBR).  Sobre este ataque à Fiscalia, Luisa Ortega a Fiscal Geral da República, denuncia que políticos de direita, instrumentalizaram os manifestantes com um enganoso movimento de petição, recuaram, exigiram a saída à rua da Fiscal (que não caiu na provocação), puseram os violentos na dianteira, e iniciaram o ataque.

Importante esclarecer que a chamada Grande Caracas, é composta por municípios como Libertador (a parte central administrada pelo prefeito Jorge Rodrigues do PSUV, recentemente decretada “Território de paz e livre de fascismo), e pelos demais municípios onde o vandalismo ocupou e destruiu, como Chacao, Baruta e Sucre com prefeitos da oposição, e pertencentes ao Estado Miranda, governado por Capriles Radonski, cujas polícias locais foram cúmplices e não se moveram para parar o incêndio. Diante disso a chamada Guarda Nacional Bolivariana, do governo federal, tem decidido intervir, evitando o confronto para defender o patrimônio público e a vida da população, sem cair em provocações. O governo anunciou detenções dos vândalos que chegam a ser desaconselhados pelas autoridades e restituídos ao controle dos seus familiares de classe média, em alguns casos perplexos com a violência; até ontem os 13 detidos permanentes, são devido a porte de arma, submetidos a investigação, mas não à tortura, como falseiam a grande mídia, ou as chamadas Ongs pelos “direitos humanos”. São jovens, contratados e recrutados por um sistema de financiamento, que é parte do chamado “Plano Estratégico”, com apoio de 30 milhões de dólares da Usaid a organizações civis, e ao movimento “Vontade Popular”, através da embaixada norte-americana na Venezuela. Por isso, ontem o Ministério das Relações Exteriores anunciou a expulsão do país de 3 funcionários dessa embaixada.

 “Luta pela paz e pela vida” e os verdadeiros direitos humanos

Reaparecem em cena os mesmos organismos e Ongs que pregam os falsos “direitos humanos” justificados com a violência. Mas, recebem uma resposta contundente da maioria  do povo que se expressou, no dia 15 de fevereiro, numa gigantesca manifestação de quase 1 milhão de pessoas, convocada pelo governo sob o lema “Pela paz e pela vida”, demonstrando grande apoio popular a Nicolás Maduro, com um “não” ao golpe, e um “sim” ao “Plano Pátria segura”, que implica num esquema de segurança que em mobiliza soldados motorizados da Guarda  e Polícia Nacional Bolivariana e representantes de conselhos comunais para erradicar a violência, desarmando o narco-tráfico nos bairros pobres, levando emprego à juventude carente e criando atividades culturais, para tirá-las do mundo da droga e da violência. Há como 600 orquestras juvenis no estilo José Abreu e Dudamel nos bairros pobres da Venezuela.  Os opositores a este projeto, os que fizeram da insegurança nos bairros uma bandeira eleitoral contra o governo, são os que hipocritamente sustentam a violência fascista destes manifestantes de rua. Alguém ainda se pergunta porque? Que coincidência que nos bairros pobres dos morros de Caracas, como Petare, Catia e 23 de Enero (Janeiro), estes movimentos incendiários não tem tido lugar. Somente nos 3 municípios redutos da oposição pequeno-burguesa.

A grande realidade é que os verdadeiros direitos humanos, entendidos por tirar os pobres da indigência, e dar acesso à classe trabalhadora à saúde, a alimentos, casas, cultura, iniciados em 1998 por Hugo Chávez, e consolidados graças a intensos Planos Sociais, chamados Missiones [Misión vivienda (3 milhões de casas populares até 2019), incremento da educação gratuita em todos níveis, analfabetismo zero, livros gratuitos e baratos produzidos pelo Estado, alimentos (Mercal, PDVAL) etc..] já bem detalhados nos nossos artigos anteriores e  em livros como “Quem tem medo de Hugo Chávez?”,  e na recente matéria do jornalista FC Leite Filho: “O que acontece na Venezuela e Argentina”, (www.cafenapolitica.com.br); tudo isso, está sob ameaça golpista.

Essas ações desesperadas, desta direita denominada “Vontade Popular” dirigida por Leopoldo López, personagem sinistro, de olhar estampado com ódio e loucura, que no golpe de 2002 invadiu a embaixada cubana, títere extremista dos EUA, já levaram a 66 feridos e 3 mortes. Na realidade aparentemente é a minoria radical, e diz-se que não conta com a inteira homogeneidade tática da oposição, chamada MUD. O discurso é o mesmo, como o de Capriles Radonski,  ex-candidato presidencial derrotado que, não respeitando o voto constitucional da maioria do povo que elegeu Maduro nas eleições de abril, chamou em 19 de abril a atear fogo nos Centros de Saúde dos Cubanos e nos locais do PSUV, matando 11 pessoas. E 6 meses depois, com esmagadora vitória eleitoral do PSUV e do Polo Patriótico, onde o governo conquistou 20 dos 23 estados, não se conformaram e incitaram a guerra econômica, o boicote ao abastecimento, e a ações de sabotagem petroleira. E se dizem constitucionais.

A mesma matriz desestabilizadora concebida nos EUA

 Esta matriz desestabilizadora, concebida no Pentágono, é a mesma que já instigou “revoluções de veludo”, de cor laranja ou verde, “Rebeldes”, na Líbia, Síria, Irã, Ucrânia contra Estados e governos independentes do jugo do FMI e da Otan, e em muitos casos, possuidores de petróleo e riquezas minerais.  Por isso, o Brasil que se cuide.

A tragédia que significou para o povo venezuelano e latino-americano a morte de Hugo Chávez, estimulou as inúmeras tentativas golpistas ao largo destes 11 meses. E querem alastrá-las contra Equador e Argentina. O que Maduro denuncia sobre as ameaças de John Kerry, secretário de estado norte-americano, em chamada telefônica ao embaixador venezuelano na OEA, Roy Charleton, de que o “governo deve dialogar com a oposição”, “libertar os presos”; recatando que, se Leopoldo López fosse preso, problemas graves poderão surgir, sinalizando ousada ingerência dos EUA nos problemas de outros países; assim o fizeram nas recentes eleições de Honduras. Em nome do “respeito aos direitos humanos”, dos quais os EUA é campeão (desde que bombardearam Hiroshima, Nagasaki, Vietnã e Iraque) justificam intervenções, como as que pretendem na Síria e na Ucrânia. É o tal do “golpe suave” já aplicado contra Milosevic na Iugoslávia, cujo esquema obedece a sequência: boicote econômico, manifestações violentas, guerra midiática e intervenção. Ninguém se olvida de que a mentira midiática da fossa comum dos “40 mortos por Milosevic” precederam a invasão da Otan no Kossovo. A tentativa de repetir o filme na Venezuela é evidente. Hugo Chávez, numa de suas lições televisivas de junho de 2007, já alertou que as guerras de ontem se faziam com exércitos, e as de hoje se fazem com os meios de comunicação.

Porque agora?

Porque o governo bolivariano expressa firmeza, não renuncia e toma medidas contra a guerra econômica, dos sabotadores do abastecimento alimentar, criando a lei que impõe lucros não superiores a 30% sobre os produtos; leis de controle sobre uso do dólar que golpeia os grandes especuladores; e tem tomado fortes medidas de controle social e militar para blindar os setores estratégicos do Estado contra a sabotagem petroleira e elétrica das transnacionais (Leia mais nos artigos do venezuelano Humberto Gómez García no link: http://revolucaosocialista.com/index.php/2014/02/19/venezuela-rodilla-en-tierra-a-defender-a-revolucao/. Porque a CELAC, criada e impulsionada pela Venezuela chavista, reforçou-se nesta última reunião em Cuba, como alternativa à OEA, e coordenadora de Estados Latino-americanos e caribenhos. Por isso, a resposta de solidariedade dada ao governo Maduro por 20 países, 156 movimentos sociais, mais de 340 intelectuais do mundo, e as declarações de apoio dados pelo Mercosur, Alba e Unasur são fundamentais.

Esta loucura imperial dos EUA, que não deixa de oferecer um grande risco para a democracia de toda a América Latina, faz parte de um esquema que inaugurou-se nas mobilizações “anti-Copa” de junho de 2013 no Brasil.  Manifestações como as recentes no Rio de Janeiro, e ações perigosas de black blocs como a que levou à morte do cinegrafista Santiago Andrade, são parte da mesma rede e estratégica desestabilizadora já em marcha no Brasil. Surgiram situações complicadas e macabras como a que os serviços secretos venezuelanos denunciaram de que os próprios promotores do golpe, desde Miami, estariam arquitetando o assassinato de Leopoldo López para acusar o governo venezuelano e provocar uma guerra civil, ou um intervencionismo norte-americano. Neste momento ele acaba de se entregar à Justiça, protegido pelas forças de segurança do governo, dando um primeiro sinal de debilidade, de não querer pagar sozinho pelo isolacionismo golpista.

As novas relações de forças internacionais

As tentativas de golpe podem não ir às últimas consequências por enquanto. Os acontecimentos são dinâmicos e imprevisíveis. Mas, as relações de forças internacionais não são as mesmas que permitiram ao Conselho de Segurança da ONU, aceitar a invasão da Otan na Líbia. A posição firme de Putin de apoio ao governo Sírio, à recuperação econômica da Ucrânia, a união militar entre a Rússia e a China contra qualquer invasão à Síria, o compromisso da China com a CELAC, os acordos militares russo-venezuelanos podem parar as ameaças do intervencionismo norte-americano.

A revolução não será interrompida. Perspectivas e saídas

Mas, evidentemente, o mal tem que ser cortado pela mobilização do próprio povo venezuelano. É de se esperar uma radicalização do processo de mudanças do funcionamento do Estado verso um verdadeiro Estado revolucionário; de reforço do poder popular, sindical, operário sobre os mecanismos de governo. Isso não é impossível. A Venezuela poderá surpreender. Há resquícios de corrupção e burocracia, mas há também uma liderança forjada nestes 16 anos de processo revolucionário, produto do legado deste militar e dirigente revolucionário, Hugo Chávez, que deixou lições, escritos, ideias à classe trabalhadora que estão aprendendo a se organizar em comunas, conselhos comunais, milícias em fábricas (confirmada por Maduro na reunião do Mercosul Operário), em partido de massas, num PSUV e num Polo Patriótico atuantes. O PSUV chamou o ocupar permanentemente todas as praças Bolívar do país, que praticamente existe em todos os municípios.  A mídia não fala dos vários mutirões voluntários que estão ocorrendo, limpando ruas e praças destruídas; grupos musicais e teatrais estimulando um clima de paz à cidadania. Criou-se até uma etiqueta de twitter: #RodillaEnTierraPorNicolasMaduro. E hoje, cerca de 100 mil operários petroleiros de PDVSA, se manifestaram nas ruas, somando-se à luta contra o fascismo. O que é mais importante é a aliança cívico-militar bastante sólida construída por Hugo Chávez. Isso fica evidente, no discurso combativo da Ministra da Defesa, Carmen Menendez na comemoração dos 195 anos do Congresso de Angostura: “estejam seguros de que ar, terra e mar estão prontos a defender a revolução socialista na Venezuela”. Hugo Chávez sempre disse que era preciso estar alertas (“rodilla en tierra!”) contra as sucessivas tentativas golpistas que chegariam a uma grande explosão. Mas, disse também que esta poderia converter-se numa explosão revolucionária diante de tantas ameaças.  De fato, a surpreendente manifestação dos 100 mil operários de PDVSA, da FUTPV até o Palácio Miraflores, com o Ministro PP do Petróleo e Mineração à cabeça demonstra que o processo de enfrentamento de classes se está radicalizando com o apoio de um setor estratégico da classe operária na defesa da revolução. No seu comovedor discurso, Rafael Ramirez afirma que eles, os trabalhadores de PDVSA, não permitirão nenhuma ingerência de EUA: que não se confundam, que as ruas não são da burguesia, mas da classe operária, porque na Venezuela há uma classe operária disposta a lutar até as últimas consequências contra o fascismo, e que estão prontas a defender a pátria, representada na casa de governo Miraflores, que foi de onde Hugo Chávez decidiu nacionalizar o petróleo e construiur PDVSA. Em seguida, o presidente Maduro respondeu a este grito de adesão e batalha com a decisão de denominar a Franja de Orinoco de Hugo Chávez.

 Este é o quadro que se está formando na Venezuela: de uma profunda unidade operário-cívico-militar, arma fundamental para garantir esta revolução. Se o governo de Maduro continuar mobilizando desta forma os trabalhadores, dando voz e poder de decisão ao povo que clama nas ruas por “justiça” contra os golpistas, aprofundando o poder midiático público-estatal, e garantindo a unidade cívico-militar, talvez possamos dizer que um novo Chile não ocorrerá na Venezuela, e a revolução está a caminho de ser vitoriosa.

H. Iono

Colaboradora do

Programa Contracorrente, da TV Cidade Livre (DF)