Brasil relembra 10 anos de morte do economista Celso Furtado

celso_furtadoNa semana em que o país perdeu um dos grandes nomes da área do Direito, o ex-ministro da Justiça Marcio Thomaz Bastos, e oito dias após a morte de um dos mais importantes filósofos marxistas brasileiros, Leandro Konder, completou-se também uma década da morte de um dos mais brilhantes economistas do país: Celso Furtado.
Bastos (1935-2014) era um advogado criminalista disputado por acusados dos crimes de colarinho branco. Faleceu nessa quinta-feira (20/11), aos 79 anos, e entre as preciosidades encontradas no seu legado, deixou a máxima de que “toda e qualquer pessoa merece defesa e desde que me procure eu tentarei, mesmo ela sendo culpada, uma condenação mais justa”. Não é à toa que ele era fundador e conselheiro do Instituto de Defesa do Direito de Defesa (IDDD).
Leandro Konder (1936-2014), por sua vez, defensor das causas trabalhistas e das associações sindicais durante a ditadura militar, época em que era proibido o direito de formar organizações de trabalhadores no país, dizia que “o sentimentalismo patriótico camuflou contradições e disfarçou grandes desigualdades” no Brasil. Publicou 21 obras e, dentre elas, “O que é dialética?”, “Introdução ao fascismo”, “Sobre o amor”.
Se Márcio Thomaz Bastos passou pela vida defendendo o direito de toda pessoa ter direito à defesa e, Leandro Konder, os direitos políticos e uma sociedade mais justa, Celso Furtado (1920-2004) não ficou para trás. Furtado lutou para o Brasil sair do subdesenvolvimento. Ele, que morreu num sábado, em 20 de novembro de 2004, dizia que “o desafio dos países de industrialização avançada, incluindo aí o Brasil, é ser competitivo e ganhar espaço no plano internacional, gerar emprego de remuneração adequada à população crescente e avançar em uma distribuição de renda mais igualitária”.
A máxima de Celso Furtado era a de que “a luta contra o subdesenvolvimento é um processo de construção de estruturas, portanto, implica na existência de uma vontade política orientada por um projeto”. A coincidência na vida desses três personagens não está somente na luta, mas na insistência é materializar, em termos de distribuição de renda e justiça social, o desejo de ver o povo brasileiro em condições de igualdade com os povos dos países ricos.
O dia 20 de novembro passou, assim, a ter um significado triplamente importante para a luta por justiça social, não só por trazer à memória o dia da morte de Zumbi dos Palmares e reivindicar essa figura histórica como símbolo de resistência — e , com isso, todo ano, pautar nos debates políticos, o problema do racismo e suas consequências nefastas, bem como a reafirmação da data da consciência negra —, mas também passou a ser o marco do desaparecimento do advogado humanista Thomaz Bastos e de Celso Furtado, ambos comprometidos com a justiça social. Este último, considerado internacionalmente como um dos maiores intelectuais latino-americanos do século XX pela valiosa contribuição à Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (Cepal), desde o ano de 1948, data de sua inauguração.
Apesar de a obra consagrada de Furtado ser “A formação econômica do Brasil”, outra merece destaque. Trata-se do livro “Liberalismo econômico, publicado em 1938, apresentado em sala de aula do Ginásio Pernambucano, em Recife. Esse livro foi publicado também em “Anos de formação 1938-1948”, Arquivos Celso Furtado, volume 6, 2014, e é considerada uma das mais importantes obras para quem quer conhecer a trajetória do economista paraibano.
Contemporâneo de John Maynard Keynes, autor do clássico em economia intitulado “A teoria geral do emprego, do juro e da moeda”,Furtado escreveu, no limiar da sua carreira profissional e trajetória intelectual, que “assim como não se compreende a história sem o fator econômico, a economia não possui expressão isolada da história” (1938). Na primeira metade do século XX, o jovem economista considerava haver choques de interesses, desigualdades e conflitos sociais em jogo no capitalismo.
A contribuição de Furtado extrapolou o campo da economia. Ele faz parte dos pensadores brasileiros que consideram o subdesenvolvimento como uma forma de organização social no interior do sistema capitalista, sendo contrário à ideia de que seja uma etapa para o desenvolvimento, como podem sugerir os termos de país “emergente” e “em desenvolvimento”.
Para ele, o subdesenvolvimento é um processo estrutural específico e não uma fase pela qual tenham passado os países hoje considerados desenvolvidos. Ele dizia que não faria “como esses economistas que isolam um grupo de fenômenos e sobre ele constroem um mundo de abstrações como se o homem fosse uma matéria inerte, ou como se eles não fossem homens”. Uma sociedade harmônica seria uma sociedade de mortos, uma paz de cemitérios, sem movimentos, conflitos, anseios, desejos, riscos, incertezas, possibilidades e mudanças históricas.
Com informações da internet.